Contato

Opinião

Assustador Mundo Novo: o que vai sobrar para nós?

“Há três tipos de inteligência: a inteligência humana, a inteligência animal e a inteligência militar” (Aldous Huxley, autor de “Admirável Mundo Novo”, romance publicado em 1932, ambientado na Londres do ano de 2540, em que antecipa desenvolvimentos em tecnologia reprodutiva, manipulação psicológica e condicionamento clássico).
***
Era para ser só mais um encontro do nosso grupo de oração, mas fui dormir assustado na noite de domingo.
Na hora do jantar, depois de uma longa meditação, todo mundo começou a falar das novas tecnologias que, em resumo, vão substituir o homem por robôs.
Tudo agora vai ficar por conta dos algoritmos e da inteligência artificial, algo que Huxley não havia previsto com esse nome.
Os empregos vão acabar, carros andarão sem motorista, não haverá mais pilotos nas cabines de comando dos aviões, assim como hoje elevadores inteligentes dispensam ascensoristas.
Na recepção de hotéis, lanchonetes e repartições públicas haverá robôs programados por computadores, da mesma forma nos escritórios de advocacia e nos consultórios médicos (nas salas de cirurgia, eles já dominam o ambiente).
No momento em que as onipresentes novas mídias das redes sociais levaram a comunicação humana literalmente às nuvens, as relações pessoais foram tornadas obsoletas.
Restarão apenas os programadores de máquinas, que, por sua vez, em breve também serão substituídos por robôs mais modernos.
Neste assustador mundo novo, que será feito dos políticos e dos policiais? Será que só eles vão sobrar para governar e cuidar dos sobreviventes?Cuidar de quem, de que forma?
Se nós simples mortais não vamos mais ter o que fazer, o que faremos para pagar nossas contas e preencher as horas totalmente livres?
Pois já tem até apresentador-robô de telejornais na TV japonesa, o que no nosso caso não faria muita diferença.
Dizem que só restarão ao homem as atividades criativas. Mas o que faltará ser criado se robôs já podem produzir até notícias e livros?
Livros sobre o apocalipse cibernético são os mais comentados nas rodas de conversa, com uma ameaça: “Você tem que ler este livro!”, e se alternam na lista dos mais vendidos.
No Natal, ganhei de presente um deles, “Obrigado pelo Atraso _ um guia otimista para sobreviver em um mundo cada vez mais veloz”, de Thomas Friedman (Editora Objetiva), mas só consegui chegar, com muito esforço, à pagina 171 do catatau de 500 páginas.
Logo no primeiro capítulo, Friedman cita uma frase de Marie Curie, que soa animadora: “Nada na vida deve ser temido, se formos capazes de compreendê-lo. Agora é o momento de compreendermos mais, para que venhamos a temer menos.”.
Muito bonito, mas ao chegar no quinto capítulo, sobre “O Mercado”, entreguei os pontos numa citação da revista “Nature”, publicação semanal internacional sobre ciência, em que se lê:
“Operadores do mundo financeiro estão empenhados numa corrida para realizar seus negócios numa velocidade cada vez mais alta. No mundo atual das Bolsas high-tech, firmas podem executar mais de 100 mil operações num segundo para um único cliente. Neste verão, os centros financeiros de Londres e Nova York passarão a ser capazes de se comunicar 2,6 milisegundos (cerca de 10%) mais rapidamente depois que for aberta uma linha transatlântica de fibra ótica apelidada de Hibernia Express, a um custo de 300 milhões de dólares”.
As expressões, os números e as cifras, confesso a vocês, simplesmente fogem à minha compreensão e, por isso, não sei como poderão afetar a minha vida no futuro.
O futuro de Aldous Huxley já chegou, muitas décadas antes do previsto pelo escritor, e a maioria dos humanoides, a começar por mim, não estava preparada.
Não vai dar tempo para recuperar o atraso porque na semana que vem já estará tudo mudado outra vez, quase na velocidade da luz.
As guerras todas também já estão todas programadas nos computadores. Basta um Trump para apertar o botão – e lá vamos todos nós para o espaço.
Não é assustador? Para quem acha que estou exagerando, vejam o anúncio de página inteira de uma empresa chamada Junglebee Extended Reality publicada nos jornais desta primeira segunda feira de março de 2018.
“Realidade virtual. Realidade aumentada. Inteligência artificial (…) A humanidade mudará mais nos próximos 20 anos que nos últimos três séculos! Começa hoje um projeto de vida chamado Juglebee, uma produtora de realidade estendida. Oh my God! O que será isso?”
Oh my God!, digo eu. É bem provável que não esteja mais aqui para ver o resultado, mas desconfio que se confirmará a profecia de Huxlley resumida no catálogo da Livraria Saraiva:
“Uma sociedade inteiramente organizada segundo princípios científicos, na qual a mera menção das antiquadas palavras “pai” e “mãe” produzem repugnância. Um mundo de pessoas programadas em laboratório, e adestradas para cumprir seu papel numa sociedade de castas biologicamente definidas já no nascimento. Um mundo no qual a literatura, a música e o cinema só têm a função de solidificar o espírito de conformismo (…) Em Huxley, o objeto é a sociedade capitalista, industrial e tecnológica, em que a racionalidade se tornou a nova religião, em que a ciência é o novo ídolo, um mundo no qual a experiência do sujeito não parece mais fazer nenhum sentido, e no qual a obra de Shakespeare adquire tons revolucionários”.
Será que só nos restará orar e meditar, o tema do nosso próximo retiro? Se for assim, já estarei preparado para enfrentar este Assustador Mundo Novo…
Vida que segue.

Nenhum comentário:

Postar um comentário