Opinião
DINHEIRO CHEGA, DINHEIRO SAI
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 7 DE MARÇO DE 2018
Mande
uma malinha pequena, com notas de US$ 10, para o Exterior; e conheça o
inferno da burocracia. Tem de mostrar todos os documentos, preencher
formulários, explicar por que ainda usa notas, e por que não quer passar
pelo sistema bancário. Não é impossível mandar dinheiro em notas, mas é
chato; e as autoridades brasileiras, do país para onde for enviada a
maleta, as dos países onde houver escalas, todas terão seu nome e sua
ficha.
Aqui,
US$ 5 milhões de dono não divulgado, enviados a alguém que não se sabe
quem é, entram num avião no Aeroporto Internacional de Guarulhos e são
levados a outro aeroporto internacional, o de Viracopos, onde o
movimento é menor. Ali, sem grandes problemas, os US$ 5 milhões foram
roubados. Ora, se o dinheiro ia viajar, por que não foi direto para o
aeroporto de embarque? E a segurança em Viracopos é mesmo vulnerável a
um alicate na cerca e um carro disfarçado?
Bom,
já disseram que o destino do dinheiro seria a Suíça, após voo com duas
escalas. Só que a Lufthansa, dona do jato, informou que ele iria para
Frankfurt, Alemanha, com escala em Dacar, no Senegal, e não para a
Suíça. Ou seja, em vez de colocar a apetitosa carga no local do
embarque, deixando-a quieta, puseram-na num aeroporto de onde o avião
não sairia, e a levaram para Viracopos. O jato iria para o Senegal e a
Alemanha, onde o dinheiro seria posto em avião com destino à Suíça.
E pensar que há voos tão bons entre Brasil e Suíça!
Dinheiro voa
Claro
que a operação foi legal! Certas coisas que parecem esquisitas
mostrarão, no fundo, sua lógica. Mas este colunista adoraria saber o
motivo de tudo que, certamente por ignorância, achou estranho neste
caso.
No de hoje, no de ontem
A
vida está difícil por aqui para mandatários e ex-mandatários. Temer foi
colocado sob investigação, por ordem de um ministro do Supremo – embora
não possa ser punido no exercício do mandato por problemas que tenham
ocorrido no mesmo período. De qualquer forma, Michel Temer terá de se
preocupar ao mesmo tempo com o Governo e com um caso de denúncia de
propina, além de outro que envolve a abertura de seu sigilo bancário.
E
Lula acaba de perder no Superior Tribunal de Justiça; seu pedido de
habeas-corpus, que impediria o TRF 4 de mandar prendê-lo, foi rejeitado
por unanimidade. Está com a liberdade em jogo; e tem contra sua
candidatura, como condenado em segunda instância, a Lei da Ficha Limpa.
Bom, mas ruim
De
acordo com a pesquisa CNT/MDA, a população apoia em massa a intervenção
no Rio. São 69% a favor, contra 12,3%; há ainda 11,4% que se dizem
indiferentes. Mas, embora a medida que mereceu tanta aprovação tenha
sido tomada por Temer, ele continua mal na pesquisa, sem qualquer
avanço. Se for candidato à reeleição, parte de menos de 1% dos
eleitores. Lula, se puder ser candidato, parte de 33,4%, o dobro de
Bolsonaro, mais que o quádruplo de Marina. Num dos cenários da pesquisa,
com Lula candidato, Temer tem 0,9%, contra 0,7% de Manuela D’Ávila, do
PCdoB. Em outro cenário, sem Lula, Temer fica empatado com Manuela
D’Ávila, ambos com 1,3%. No território eleitoral de Temer, o melhor
candidato é o governador Geraldo Alckmin, com 6,4% (com Lula), ou 8,6%,
sem Lula. Nos dois casos, Alckmin é o terceiro ou quarto da pesquisa,
longe do topo.
Rodrigo quem?
Rodrigo
Maia é presidente da Câmara, filho de César Maia, político de
importância no Rio, com prestígio em seu partido, o DEM. Está com tudo
pronto para que o DEM o lance candidato à Presidência da República,
amanhã. Mas, ao menos por enquanto, voto não tem: a pesquisa o mostra
com menos de um ponto.
Perto de Maia, Alckmin é um campeão de votos.
Comunhão de males
Outra
pesquisa, feita pelo instituto de pesquisas Ipsos para o Barômetro
Político Estadão, do jornal O Estado de S. Paulo, mostra algo da maior
importância: a desaprovação aos políticos, em geral, é muito alta.
Michel Temer, por exemplo, é rejeitado por 93% dos eleitores; Fernando
Collor, por 81%; Fernando Henrique, por 77%. Temer é o mais rejeitado;
mas, ao mesmo tempo, precisa disputar a reeleição, para manter o
privilégio de foro.
Já
sob investigação, já com o sigilo bancário aberto, Temer não tem muito
tempo: no momento em que não tiver mais direito a foro privilegiado, já
haverá promotores e juízes interessados em ouvi-lo.
O homem certo
O
substituto de Ricardo Barros, PP, que no mês que vem deixa o Ministério
da Saúde para disputar a eleição, já está escolhido: é Marco Fireman,
hoje secretário da Ciência, Tecnologia e Assuntos Estratégicos do
Ministério.
Fireman consta na delação premiada da Odebrecht como tendo exigido propina para não dar uma obra para outra empreiteira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário