VAMOS MUDAR O DISCO
MARLI GONÇALVES
Vou
atirar para tudo quanto é lado, adianto, que não estou gostando nadinha
dessa coisa de ficar falando só em dois lados da questão Brasil. Essa
moeda tem pontas, muitas, uma pluralidade delas. Quero meu país de
volta. Quem ganha com essa paradeira, com essa tensão toda? É cansativo.
São já pelo menos mais de três anos que parece que não temos mais um
minuto de sossego, que nada funciona normalmente, que não tem dia sem
algum sobressalto
______
Se
você me conhece pode imaginar com mais precisão, mas não importa, se
você não me conhece pode imaginar também. Estou aqui segurando uma
plaquinha - um papel daqueles, sulfite, escrito à mão com os dizeres: Por uma Nova Constituinte Já!
Só assim, com uma reforma política, com uma ordem social mais
planejada, moderna, visando o futuro que já mostra a cara, com
tecnologia e avanços, vamos conseguir levantar o pé dessa lama. Começar
de novo.
Essa
semana foi, vem sendo (e será a outra também) desesperadora. Mas foi a
prova de onde reside um dos nossos maiores entraves. Dias e dias vendo e
ouvindo bate-boca de ministros com suas togas negras e vistosas
debatendo entre si, se entreolhando feio, falando, falando, falando, e
poucos entendendo exatamente o que diziam em seus sonolentos votos.
Pior,
ao analisar esses debates com um pouco mais de atenção, perceber que
todos discutiam, de alguma forma, a forma da lei. Que cada um lê essa
lei, que não é clara, de uma forma. Do ângulo que lhe convém, uma coisa
meio Babel. Ao mesmo tempo, para defender seus argumentos, todos acenam
iguais brandindo com o mesmo livrinho verde e amarelo nas mãos, e as
palavras Constituição e constitucional, repisadas. Engraçado é que
aplicadas igualmente a justificar visões opostas. É esquizofrênica a
situação; bipolar.
A
coitada da Constituição de 88, tadinha, já nasceu meio capenga, vinda
de uma época cheia de dúvidas, recém saindo de uma longa noite de
ditadura onde foi fecundada. Nesses 30 anos, a já balzaquiana foi
emendada, remendada, costurada, acharam um monte de verrugas nela,
incrustadas e escondidas por hábeis manobras. Agora é isso aí: todo
mundo fala que a segue porque ela é gordinha de tanta coisa que satisfaz
a qualquer um, ao gosto do cliente.
Não
vou me deter em tratados sociológicos ou meandros jurídicos, que nem me
arriscaria. A realidade é maior. Quem está conseguindo trabalhar
direito, sem sobressaltos? Sem medo? Quem está realmente satisfeito com
seus governantes, com seus representantes eleitos, uma decepção atrás de
outra? Quem é que está confortável com as Eleições que se aproximam,
marcadas para daqui a apenas seis meses? E essa mais nova moda trumpiana
que baixou aqui – comunicação pública – recados, posições,
controvérsias, fusquinhas e rusgas - via redes sociais, tuites.
As
contas não param, os bancos não perdoam, ninguém quer saber se teve ou
não protesto, se a cidade parou, se não sei quem vai preso, se outro
manda soltar, se os dias não estão rendendo. Você está aí com os boletos
nas mãos, sacudindo. Falam em milhões, bilhões surrupiados, enquanto
contamos as moedas. Não entendo porque o país está tão dividido se o
barco é esse mesmo, igual para todos, excetuando-se só os palermas que
ainda acreditam que as coisas não se passaram como se passaram. Que o
Grande Líder, Pajé Lula... Que o Chuchu... O maluco beleza... Andam até
ameaçando ir buscar nos confins aquele exemplo de postura, Joaquim Barbosa! Porque é negro. Mulher, não, que já acham que não deu certo.
Embora
tenhamos pouco tempo, talvez com o andar dessa carruagem que está
descarrilando tenhamos de pensar logo nisso. Numa eleição onde
escolheríamos constituintes. Talvez pessoas mais gabaritadas se
apresentem em suas áreas, vindas da sociedade civil, criando, aí sim,
uma nova política. Sem esse blábláblá de gestão, sem messianismo, sem
que sejamos ameaçados todo dia com alguma tirada genial da cartola de
algum cartola. Com o tempo determinado.
Como
é que faz não sei. Sei que tem mais gente pensando nisso. Eles que são
importantes que se entendam. Eu vou continuar segurando minha plaquinha
com o pedido. Foi a única coisa que achei até agora, mas se você tiver
outra sugestão vai ser legal.
Precisamos mudar o disco dessa vitrola.
Marli Gonçalves, jornalista – É tanto embargo, tanta presunção de inocência e culpa que só cantarolando a música do Djavan com outra letra: “Um dia tenso/Sem um bom lugar nem pra ler um livro/ E o pensamento lá em você/Que é muito vivo... Um dia triste...”
Brasil: mostra uma nova cara!
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