Opinião
BRASIL, 1º DE ABRIL
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 1º DE ABRIL DE 2018
Ao
contrário da História, que acontece como tragédia e se repete como
farsa, a mentira acontece e se repete como farsa trágica. A história da
prisão dos amigos de Temer (que, pelo jeito, logo não terá nem com quem
comentar A Família Adams) é exemplar: foi detida uma das donas da
empresa portuária Libra; foi detido o advogado José Yunes, suspeito de
fazer a ponte entre as portuárias e seu amigo Temer; foi detido um dos
donos da Rodrimar, outra portuária. Há investigações sobre eles, mas há
uns vinte anos se ouvem histórias sobre as boas relações entre Temer e o
porto. O alvo não é só Temer, em fim de carreira. Há a Odebrecht,
sempre ela. E quem assinou a lei que beneficia a Odebrecht, Dilma
Rousseff.
A
história real começa lá por 2003, quando a Coimex comprou uma área fora
do porto para erguer um terminal. Era ilegal: terminal, só em área de
portos. A Coimex, com problemas, vendeu o terreno à Odebrecht, que não
deu bola para a ilegalidade. Construiu um terminal de contêineres, o
Embraport, sem investir um centavo: o financiamento foi do FI-FGTS,
estatal, com os menores juros do país, no máximo 3% ao ano, e do BID,
internacional, com garantia do Governo. Total, como levantou o repórter
Cláudio Tognolli: R$ 1,8 bilhão, mais US$ 768 milhões, numa obra que não
podia ser usada. Inaugurou o terminal em julho de 2013. E só em
setembro Dilma assinou a lei que autorizava portos em terrenos privados.
Os fracos e os fortes
Os
envolvidos no enredo atual, parte dos últimos amigos ainda soltos do
presidente Temer, são uma parte do alvo. A outra parte, bem mais
interessante, é saber como a Odebrecht conseguiu dinheiro oficial, a
juros de amigo, para construir uma obra fora da lei: e como é que o
Governo, sabendo que a obra estava fora da lei, garantiu o empréstimo
internacional. E quem foi o gênio da bola de cristal que adivinhou que a
lei regularizando terminais em terrenos fora do porto sairia tão pouco
tempo depois que aquele terminal ficasse pronto. Mãe Dinah perde de 7x1!
A
Operação Lava Jato mostrou que a Odebrecht tinha pago, por favores na
área em que estava interessada, propinas de R$ 137 milhões. Mas seria
maldade atribuir a isso a coincidência na assinatura da lei por Dilma
com a data da conclusão do terminal. Tudo não deve ter passado de
coincidência.
Coincidência, de novo
O
advogado José Yunes, 80, a quem Temer considera tão amigo que o guarda
do lado esquerdo do peito, escreveu um livro contra Paulo Maluf no
início do Governo do PMDB em São Paulo. Chamava-se “Uma lufada que
abalou São Paulo”, editado pela Paz e Terra. Por coincidência, Yunes foi
detido pela Polícia no mesmo dia em que Maluf obteve a prisão
domiciliar.
Cargo e função
Em
abril de 2016, José Yunes deixou vazar que, se Dilma caísse, ele seria
assessor especial de seu amigo Michel Temer. “Serei aquele assessor com
liberdade para fazer considerações positivas e negativas. Não levarei
apenas notícias boas”. Durou três meses no cargo e levou a Temer muitas
notícias ruins. A primeira: a delação premiada de Cláudio Mello Filho,
da Odebrecht, segundo a qual o dinheiro para financiar as campanhas do
PMDB paulista era entregue, em notas, no escritório de Yunes.
Desrespeito ao voto
A
população paulistana elegeu, em primeiro turno, a chapa João Doria –
Bruno Covas para prefeito e vice-prefeito. É uma chapa puro-sangue,
escolhida apenas entre tucanos. Deveriam compartilhar suas ideias.
Muita
gente se escandalizou com a decisão de João Dória de deixar a
Prefeitura para disputar o Governo do Estado. É verdade que Doria
prometeu cumprir todo o mandato, e o está abandonando antes de completar
dois anos no cargo. Mas é verdade, também, que o eleitor terá uma
excelente oportunidade de dar sua opinião sobre a atitude de Doria: se a
desaprovar, é só mudar de candidato. Escandalosa mesmo é a posição de
Bruno Covas, cuja principal força é ser neto do falecido governador
Mário Covas.
Ele
disse que, ao assumir no lugar de Doria, vai mudar sua política para
algo mais semelhante ao que seu avô fazia. Pergunta-se: se Covas não
concordava com as ideias de Doria, por que aceitou ser seu vice? Ninguém
votou em seu nome: foi eleito como integrante da chapa do outro. Mudar
aquilo em que o eleitor votou é desrespeitar o voto. Esta é sua posição?
Sempre ganha
Desemprego,
crise, recessão? Isso é para os fracos; o lucro dos bancos do país
subiu mais uma vez, como de hábito. Sete dos dez maiores bancos tiveram
receitas crescentes; no total, os dez bancos somaram R$ 86 bilhões em
lucros, 20,2% mais que os ganhos de 2016.
Os
bancos que mais ganharam, segundo o site Poder 360°, foram Itaú, Banco
do Brasil, Bradesco, Caixa, Santander, Safra e Votorantim.
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