Opinião
OS FABRICANTES DE REIS
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 22 DE ABRIL DE 2018
Quinze
senadores envolvidos em inquéritos podem perder o tal foro
privilegiado: se não forem reeleitos, responderão diante do juiz de
primeira instância – talvez Sérgio Moro, por que não? Cinco governadores
investigados, para se candidatar a outros cargos, renunciaram e estão
sem foro privilegiado: já respondem ao juiz singular. Só voltam ao foro
privilegiado se forem eleitos. Ou seja, é
você, caro leitor; é você, caro eleitor, que decide se eles ganharão as
eleições, o que significa que anos vão se passar até que os tribunais
superiores possam cuidar de seus casos.
Seu
voto decide -e só os votos decidem - se Suas Excelências serão julgados
como cidadãos que são ou como Excelências que nem todos são.
Ex-governadores:
Marconi Perillo, PSDB/Goiás; Raimundo Colombo (PSD/Santa Catarina);
Geraldo Alckmin (PSDB/São Paulo); Beto Richa (PSDB/Paraná); Confúcio
Moura (PMDB/Rondônia). É improvável que algum seja julgado antes da
eleição, mas se não vencer fica sem o foro.
Senadores: Renan Calheiros, PMDB, AL; Humberto Costa, PT, PE; Vanessa Grazziotin, PCdoB, AM; Romero Jucá, PMDB/RR; Dalírio Beber, PSDB/SC; Ciro Nogueira, PP/PI; Benedito de Lira, PP/AL; Eunício Oliveira, PMDB/CE; Cássio Cunha Lima, PSDB/PB; Agripino Maia, PP/RR; Jorge Viana, PT/AC; Valdir Raupp, PMDB/RR; Aécio Neves, PSDB/MG; Lídice da Mata, PSB/BA; José Pimentel, PT/CE.
Quem é quem
Alguns destes nomes são desconhecidos. Outros são bem conhecidos.
A fé e a força
Fernando
Henrique, lançando seu novo livro, deu entrevistas em que se diz
confiante na candidatura de Alckmin à Presidência. Garante que, como
candidato, o ex-governador paulista é um corredor de maratona, que não
dá grandes arrancadas mas chega bem ao final. Pode ser. E quem acha que
Alckmin tem um problema se engana. Alckmin tem vários problemas, do
baixo índice na pesquisa (paradinho nos 7%) à abertura de inquérito
sobre a acusação de que teria recebido R$ 10 milhões da Odebrecht, mais
a carga que será carregar o peso de Aécio, mesmo que o expulse do
partido. Há mais: o goiano Marconi Perillo, que foi até cogitado para
coordenar a campanha, enfrenta inquérito na primeira instância e delação
da Odebrecht.
A
multiplicação de candidatos do mesmo setor (Álvaro Dias, Meirelles,
Temer, Flávio Rocha) dificulta a tarefa de se consolidar. Pois não há
tucanos olhando com esperança a possibilidade de lançar João Dória?
Desigualmente iguais
Outro
problema grave de Alckmin é o desgaste da imagem do PSDB. Durante uns
30 anos, o PSDB foi o porto seguro para quem rejeitava o PT. O PSDB
aproveitou a oportunidade oferecida pelo PT para um contraste de imagem,
mostrando o Governo petista como corrupto. De repente, Aécio também
vira símbolo, o Ministério Público inaugura a temporada de caça aos
tucanos, o PT acusa tucanos de cometer os mesmos pecados de que os
acusavam e o partido, além de moderar os ataques, tem de se defender.
Como, se as acusações vêm das mesmas fontes que o PSDB citava contra o
PT – e o candidato à Presidência é Alckmin, com todo o seu charme?
Coisa que não pode
Por
falar em desgaste: que deu na cabeça do presidente da Petrobras, Pedro
Parente, para aceitar acumular o cargo na estatal com um privado, o de
presidente do Conselho da BRF (união Sadia-Perdigão)? Parente foi um
ótimo ministro, de capacidade reconhecida e irregularidades zero;
dirigiu depois um grande empreendimento jornalístico privado, a Rede
Brasil Sul, com sucesso; ao assumir a Petrobras, ordenhada à exaustão
nos governos anteriores, faz um trabalho impecável de recuperação. Não
há suspeitas sobre ele. Mas misturar um grupo privado com a maior
estatal do país não é aceitável. É dar a volta ao mundo para pisar numa
casca de banana. Estatal é estatal, empresa privada é empresa privada, e
ponto final.
Por que lá?
Nada
de estranho: um cidadão, o subtenente do Exército Édson Moura Pinto,
foi assaltado na madrugada de quarta-feira, em Curitiba, e levaram
aquilo que encontraram em seu carro. Moura Pinto havia sido cedido ao
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e, na
forma da lei, designado para a segurança do ex-presidente Lula.
Esquisito:
que é que fazia Moura Pinto em Curitiba, considerando-se que o
ex-presidente Lula estava preso, sob a guarda da Polícia Federal? Os
meandros burocráticos do serviço público certamente explicam esse fato.
Muito
estranho: de acordo com Moura Pinto, foram levados do carro o
passaporte de Lula e outros pertences do ex-presidente: roupas, talão de
cheques, um frigobar. OK: roupas e frigobar poderiam ser levados a
Lula.
Mas que fazia o passaporte de Lula no carro? E o talão de cheques?
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