Opinião
LULA CÁ
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 11 DE ABRIL DE 2018
Hoje
é o dia mais aguardado por Eduardo Cunha, por José Dirceu, pelo tucano
Eduardo Azeredo. E pelo principal interessado, que talvez se livre da
prisão menos de uma semana depois de ter ido para Curitiba: Lula. Hoje
se decide se Lula fica em sua cela especial ou volta para cá, para as
ruas.
É
hoje que o ministro Marco Aurélio promete levar ao plenário do STF duas
ações que acabam com a prisão de réus condenados em segunda instância.
Os réus só poderiam ser presos depois de encerrado o processo, como
ocorria até recentemente. Caso uma das ações seja vitoriosa (o Supremo
está dividido) Lula e Eduardo Cunha voltam para casa. Palocci também.
José Dirceu se livra de riscos. E Eduardo Azeredo, ex-presidente
nacional do PSDB, ex-governador de Minas, já condenado a 20 anos e 10
meses em duas instâncias, continuará livre, leve e solto.
Até
2016, os réus só podiam ser presos no fim do processo, sem apelo
possível. Aceitava-se a multiplicação das garantias. Como se diz em
latim, “quod abundat non nocet” (em português, “é melhor sobrar do que
faltar”, ou “o que abunda não prejudica”). O Supremo mudou de posição e
passou a autorizar a prisão de condenados em segunda instância. Mas a
divisão continua, 6x5 para um lado ou outro. Promotores acham que,
assim, desaparece o incentivo à delação premiada, já que ninguém vai
preso mesmo.
Pode ser – mas quais ministros e dirigentes ficam tristes com isso?
O x da questão
O
voto-chave no Supremo é o da ministra Rosa Weber. Ela é a favor de
prisões só no final do processo; mas Sérgio Moro, favorável a prender
logo, foi seu auxiliar, e ela acha que não se pode mudar uma decisão
após tão pouco tempo, pois isso afeta a segurança jurídica. O placar
depende dela.
O caso Azeredo
O
PT surgiu na política dizendo-se diferente dos outros partidos, entre
outros motivos por não roubar nem deixar roubar. Não era bem assim, e os
petistas passaram a dizer que os outros partidos também tinham
malfeitos e eram protegidos pela Justiça. Dois nomes eram citados: Aécio
(gravado por Joesley Batista pedindo dinheiro) e Azeredo, por
participar de uma versão mineira do Mensalão.
No
dia 17, o Supremo decide se Aécio deve se tornar réu no caso Joesley.
No dia 24, o Tribunal de Justiça de Minas julga o último recurso de
Azeredo no mensalão mineiro. Já condenado em duas instâncias, pode ser
preso se o recurso for rejeitado (e esta é a tendência). Se o Supremo
mudar, ele se livra. E o crime talvez prescreva sem punição.
Firme como geleia
Lula
foi preso – e daí, como isso influenciará as eleições? Talvez não dê
tempo para saber: se a decisão do Supremo levá-lo a ser solto, como isso
se refletirá em sua popularidade? Será visto (não pelos seguidores,
claro, mas pela opinião majoritária) como um criminoso que escapou da
punição ou como um vitorioso que nem a Justiça consegue submeter? A
partir do que ocorrer hoje será possível começar a avaliar quem ganhou e
quem perdeu. De qualquer forma, pela Lei da Ficha Limpa, Lula é
inelegível. Mas, num país em que é difícil prever até o passado, como
saber se não terá saída? Dilma não manteve direitos políticos mesmo
tendo sofrido impeachment?
PT a nocaute
Se
Lula não puder ser o candidato do PT (e das esquerdas em geral, como
Renan Calheiros, Ricardo Coutinho, Roberto Requião, Eunício Oliveira e
outros), de acordo com a Lei da Ficha Limpa; e se não derem um jeito de
interpretá-la, quem será o candidato em seu lugar? Em seu último
discurso, Lula jogou o PT ao mar: não citou ninguém – nem Dilma! - a não
ser, muito de leve, Fernando Haddad. Citou gente de outros partidos: o
dirigente dos sem-teto, Guilherme Boulos, do PSOL, e Manuela D’Ávila, do
PCdoB.
Não citou o melhor nome para uma composição: Ciro Gomes, do PDT. Lula não quer dar ao PT qualquer saída que não seja ele mesmo.
Um de fora
A
Justiça Federal aceitou denúncia contra o Quadrilhão do PMDB. Dois
amigos próximos de Temer, o coronel Lima (João Baptista Lima Filho) e o
advogado José Yunes estão na lista, ao lado de Eduardo Cunha, Henrique
Alves, Geddel, Rocha Loures, todos ligados a Temer, e três doleiros.
Muda sem mudar
A
presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carmen Lúcia, deve
assumir a Presidência da República depois de amanhã, e ocupar o cargo
por algo como 24 horas. O presidente Michel Temer vai ao Peru, onde
participa da Cúpula das Américas. Carmen Lúcia é a terceira na linha de
sucessão, mas Rodrigo Maia, presidente da Câmara, não pode assumir por
ser candidato à Presidência; Eunício Oliveira, presidente do Senado, é
candidato ao Governo do Ceará, e por esse motivo também não pode
assumir. Ambos têm viagens ao Exterior na época da saída de Temer.
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