Opinião
CHEGOU A HORA DA BOBEIRA
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 2 DE MAIO DE 2018
O
presidente Temer luta hoje não para que o café venha quente, mas que
pelo menos venha. O Congresso obteve de Temer cada cargo e cada verba
que ele conseguiu arranjar; já não tem interesse em votar nada e só
pensa em se afastar de um presidente impopular (além disso, há as festas
juninas e a Copa do Mundo). Hoje o Congresso só pensa em Tite e na
Federal. Estamos naquela fase que os americanos chamam de silly season,
período tolo: não há o que discutir, mas é preciso fingir que o
Congresso trabalha.
Hoje,
supõe-se, já que a pauta está agendada, que o Supremo restrinja o foro
privilegiado para deputados (que só teriam o benefício para casos que
ocorrerem durante o mandato, e relacionados à atividade parlamentar). O
placar se inicia com 8x0 pela restrição ao benefício – ou seja, a medida
tem votos mais do que suficientes para ser aprovada. Por que, então, só
se supõe que a decisão será tomada? Porque basta um dos três que ainda
não votaram pedir vistas do processo para que tudo seja paralisado. E
pedido de vista, na prática, não tem prazo: o processo é devolvido
quando o ministro que o requereu resolva, por sua vontade, devolvê-lo. A
proposta que espere.
Os americanos, além da silly season, deram o nome de Silly Symphonies a
75 desenhos animados produzidos por Walt Disney de 1929 a 1939, em que a
ação seguia o ritmo de belas músicas, muito bem executadas. Foram
obras-primas com nome de tolices. Nossas tolices fazem jus ao nome.
A voz divina
Diziam
os gregos que os deuses, quando queriam destruir uma pessoa, atendiam
seus desejos. Temer quis muito ser presidente, e foi atendido. É
presidente, mas os únicos ministros que pode nomear são aqueles de
sempre, Eliseu Padilha, Moreira Franco, sua eterna turma; até Renan e
Eunício andam flertando com Lula – que, mesmo ainda preso, rende mais
que Temer, mesmo que ainda solto.
E,
mesmo nomeando os ministros que o Congresso exige, não consegue nem
votar as medidas essenciais para que a economia funcione. Resultado: a
inflação cai, os juros básicos caem, os juros que os bancos cobram
continuam altíssimos e o desemprego sobe.
Alô, mamãe
A
proposta do deputado petista Vicente Cândido já tem tempo de casa, mas
andava meio esquecida. Agora o PT propôs retomá-la, proibindo a
transmissão pela TV das sessões do Supremo. Na opinião deste colunista, é
uma boa medida: contribuiria para tirar o estímulo de oradores que,
para dizer que acompanham o voto do relator, falam durante cinco ou seis
horas. O ideal seria que alguns julgamentos fossem transmitidos mais
tarde, em outro dia, com os trechos principais dos votos. Se o clássico
discurso em que Churchill prometeu sangue, suor e lágrimas durou algo
como cinco minutos, como se explica que um voto precise de dez horas
para ser lido?
O progresso da Lava Jato
A
Procuradoria Geral da República denunciou na segunda-feira ao STF o
ex-presidente Lula, os ex-ministros Palocci e Paulo Bernardo, e a esposa
de Bernardo, senadora Gleisi Hoffmann (PT-Paraná), por lavagem de
dinheiro e corrupção. Diz a denúncia que a Odebrecht prometeu a Lula uma
doação de US$ 40 milhões em troca de benefícios. Contra os denunciados
há delações premiadas, planilhas e mensagens obtidas pela quebra do
sigilo telefônico da empresa. A Odebrecht, diz a Procuradoria, teve o
aumento da linha de crédito do BNDES para atuar em Angola. A defesa de
Lula diz que as acusações não têm base e seguem a linha da perseguição
política.
Excelente notícia
Uma
nova empresa israelense de tecnologia, a A1C Foods, é a esperança de
boa parte da população: com base num produto que desenvolveu e do qual
tirou patente, acena com chocolates, sorvetes, pães e pizzas com baixo
teor de carboidratos e açúcares. Esses alimentos, diz a empresa, poderão
ser consumidos por diabéticos. Ainda falta um longo caminho – por
exemplo, os testes da FDA, a agência americana que aprova ou não
alimentos e remédios. Mas é uma esperança: a A1C usa açúcar em suas
fórmulas, não adoçantes; e farinha normal – mais o produto que
desenvolveu. A empresa foi criada em 2016 por Ran Hirsch, cuja filha tem
diabetes.
Dia de balanço
Todas
as centrais sindicais anti-Temer – as maiores – convocaram uma
manifestação conjunta para a tarde de ontem, em Curitiba, juntando o Dia
do Trabalho e o protesto contra a condenação de Lula. Até a central que
sempre se opôs a Lula, a Força Sindical, aderiu – claro, o Governo
Temer extinguiu o Imposto Sindical, que garantia às centrais um belo e
garantido aporte de recursos, mesmo que os assalariados não quisessem
contribuir. Jogaram tudo para reunir o máximo possível de gente.
E
fracassaram: havia um punhado de gente, talvez duas mil pessoas (ou,
fazendo um esforço, talvez cinco mil). É mesmo difícil sustentar que um
político preso é um preso político, e que sua prisão é ilegal, depois
que foi condenado pelo juiz singular, depois que o tribunal de segunda
instância confirmou a condenação e ampliou a pena.
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