Da Coluna Política, do jornalista Érico Firmo, no O POVO desta quinta-feira:

Esta coligação informal criada para a disputa para o Senado no Ceará envolve muito de hipocrisia e jogo de cena para a plateia – sobretudo nacional – e um tanto de olho no futuro. Um disfarce para fingir não apoiar tanto assim o aliado. Fecha acordo, faz o arranjo, mas não formaliza aliança. PT e PDT estão morando junto com o MDB. Apenas não casaram de papel passado. Qualquer juiz reconheceria a relação estável. Na prática, é a mesma coisa ou muito perto disso.
A presidente do PT nacional disse que o partido não apoiaria Eunício Oliveira. A questão foi levada à direção nacional, que confirmou a decisão estadual: o PT não tem candidato a senador. Não foi permitido a José Pimentel concorrer à reeleição. A chapa de Camilo tem apenas um candidato. Como são duas vagas, qual a ideia? Deixar o Ceará com um senador a menos?
O PDT também disse que não queria conversa com Eunício. Ensaiou lançar André Figueiredo. No fim, também foi só com um candidato, Cid Gomes.
No fundo, o PT não quis oficializar o que é evidente: sua aliança com o MDB no Ceará. Com os “golpistas”. Não há coligação, mas tem Camilo e Eunício grudados em tudo quanto evento, de jogo de futebol a oração. A aliança já existia no governo, o que é mais sério e mais importante que na campanha.
O PDT, por sua vez, não quis ter no palanque estadual de Ciro o carimbo de aliado ao partido que o candidato a presidente mais achincalha. Ele tanto falou dos acordos espúrios do PT com os emedebistas, com que cara ficaria país afora se o mesmo fosse feito no Ceará? Ocorre que seu grupo, desde o governo do seu irmão, faz o mesmo e faz pior do que qualquer governo fez em Brasília. Não sei se a aliança que governa o Ceará, a maior da história do Estado, já teve paralelo em algum outro estado.
Porém, a informalidade salva ao menos as aparências. Disfarça, ou tenta, a evidência: Ciro e seu grupo, no Ceará, estão aliados ao MDB. Estão aliados a Eunício. O resto é malabarismo, ginástica para esconder o óbvio.
Eunício, com Cid, na época em que o emedebista foi disputado com Luizianne e foi decisivo para eleger Roberto Cláudio Iana Soares, em 22/6/2012
Eunício, com Cid, na época em que o emedebista foi disputado com Luizianne e foi decisivo para eleger Roberto Cláudio Iana Soares, em 22/6/2012

É também uma tentativa de se resguardar para o futuro. Ciro e Cid sabem que é muito grande a chance de estarem trocando ofensas com Eunício daqui a pouco tempo. Querem ao menos o argumento de que não houve coligação formal. Do mesmo jeito que, em 2010, Ciro evitou palavras mais eloquentes em favor de Eunício. Parecia vislumbrar o rompimento que viria.
Com todos esses cuidados, na prática, se Eunício for reeleito, será pelas condições viabilizadas pela aliança governista. No fim das contas, isso é o que importa.
O governador Camilo Santana, quem já o entrevistou sabe, é escorregadio. Porém, justiça se lhe faça, é a única pessoa de sua aliança que tem dito a coisa como ela é com todas as letras: Eunício é o candidato dele ao Senado. É o de Cid. E ponto final.
O resto é jogo de cena de uma aliança que quer tirar proveito do acordo que faz sem arcar com o ônus.