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Análise: Com MEC paralisado, inexperiência do novo ministro pesará mais

Luciana Quierati
Do UOL, em São Paulo
09/04/2019 04h01
A inexperiência em políticas e gestão educacionais de Abraham Weintraub, anunciado ontem para o lugar de Ricardo Vélez no Ministério da Educação (MEC), pesará diante do cenário de paralisação que caracteriza a pasta há quase cem dias. A avaliação é de especialistas no setor.
Um diagnóstico divulgado ontem pela organização Todos Pela Educação indica que de sete temas considerados prioritários o país na área, cinco não avançaram nos últimos três meses.
O contexto atual, segundo o diretor de políticas educacionais da organização, Olavo Nogueira Filho, difere do momento em que Vélez, também sem experiência na área, assumiu o ministério.

Acabou o 'benefício da dúvida'

"No caso do ministro Vélez, que também era um nome desconhecido, houve o benefício da dúvida, dando-se um tempo para que ele pudesse apresentar seu projeto. Mas o projeto não foi apresentado, e o MEC já está há três meses sem funcionar", diz.
Para ele, a expectativa era pela nomeação de alguém com experiência prévia em gestão pública, teoricamente mais apto a por o MEC mais rapidamente nos trilhos. "[Seria] alguém para se contrapor a esse início de governo inoperante, que atrapalhou a formatação de qualquer tipo de agenda de ação efetiva para a educação", diz.
Sob os holofotes depois de ter confrontando Vélez, a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) também criticou o currículo do sucessor para a pasta em sua página no Facebook.
"Me causa mais tristeza do que surpresa que o ministério da educação continue sendo uma das poucas pastas para as quais admitimos ter um ministro com pouca ou nenhuma experiência na área", escreveu a parlamentar.

Quais os projetos do MEC?

Maria Helena Guimarães de Castro, membro do Conselho Nacional de Educação e ex-secretária-executiva do MEC, reclama da falta de projetos. A opinião é compartilhada pelo filósofo e professor Mario Sergio Cortella, para quem "não tivemos um Ministério da Educação nesses cem primeiros dias".
Para ambos, o governo até agora não explicou como tratará de questões complexas e essenciais, como é o caso da distribuição do Fundeb, principal mecanismo de financiamento da educação básica, cujo modelo vence no próximo ano. "Sou um cidadão do país que precisa que o MEC demonstre quais são suas políticas, o que não foi demonstrado até o momento", diz Cortella.

Sugestão: foco na equipe

Maria Helena e Cortella dizem respeitar a escolha de Bolsonaro. "Essa é uma escolha do governante", diz Cortella, que foi secretário municipal de Educação de São Paulo (1991-1992) e chefe de gabinete de Paulo Freire, a quem sucedeu na secretaria.
"Espero que ele [Weintraub] tenha muita vontade de dialogar com todos os atores, movimentos, ONGs, universidades, para poder entender qual a agenda de política que está em curso", diz Maria Helena.
Para compensar a falta de preparo do novo ministro, ela dá uma sugestão: que o titular se cerque de uma equipe bem preparada. Os colegas de Maria Helena concordam.
"Se pegarmos o Mendonça Filho, concordando ou não com sua linha de atuação, ele foi capaz de montar um time de qualidade técnica, de pessoas que conhecem educação e que permitiram avançar uma agenda em período bastante curto", diz Nogueira Filho, do Todos pela Educação.

Desafio pela frente

O cientista político Mauricio Fronzaglia, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, alerta que, de todo modo, não será uma tarefa fácil.
"Não é algo simples. Nosso sistema de educação é bem complexo, exige conhecimento técnico e de gestão", diz. "É uma área de resultados demorados, que normalmente já sofre com problemas de comunicação entre o ministério e as secretarias, para a implementação de políticas públicas."
Para Maria Helena, porém, é preciso dar um crédito de confiança para que Weintraub "organize uma equipe alinhada", que não apresente as dissidências internas observadas sob o comando de Vélez.
"Eu, como brasileira e educadora, quero que a educação brasileira dê certo. Estou aqui desejando boa sorte ao ministro e acredito que todas as pessoas em educação pensam da mesma forma", diz.

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