Análise: Com MEC paralisado, inexperiência do novo ministro pesará mais
A inexperiência em políticas e gestão educacionais de Abraham Weintraub, anunciado ontem para o lugar de Ricardo Vélez no Ministério da Educação
(MEC), pesará diante do cenário de paralisação que caracteriza a pasta
há quase cem dias. A avaliação é de especialistas no setor.
Um
diagnóstico divulgado ontem pela organização Todos Pela Educação indica
que de sete temas considerados prioritários o país na área, cinco não
avançaram nos últimos três meses.
O
contexto atual, segundo o diretor de políticas educacionais da
organização, Olavo Nogueira Filho, difere do momento em que Vélez,
também sem experiência na área, assumiu o ministério.
Acabou o 'benefício da dúvida'
"No
caso do ministro Vélez, que também era um nome desconhecido, houve o
benefício da dúvida, dando-se um tempo para que ele pudesse apresentar
seu projeto. Mas o projeto não foi apresentado, e o MEC já está há três
meses sem funcionar", diz.
Para
ele, a expectativa era pela nomeação de alguém com experiência prévia
em gestão pública, teoricamente mais apto a por o MEC mais rapidamente
nos trilhos. "[Seria] alguém para se contrapor a esse início de governo
inoperante, que atrapalhou a formatação de qualquer tipo de agenda de
ação efetiva para a educação", diz.
Sob os holofotes depois de ter confrontando Vélez, a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) também criticou o currículo do sucessor para a pasta em sua página no Facebook.
"Me
causa mais tristeza do que surpresa que o ministério da educação
continue sendo uma das poucas pastas para as quais admitimos ter um
ministro com pouca ou nenhuma experiência na área", escreveu a
parlamentar.
Quais os projetos do MEC?
Maria
Helena Guimarães de Castro, membro do Conselho Nacional de Educação e
ex-secretária-executiva do MEC, reclama da falta de projetos. A opinião é
compartilhada pelo filósofo e professor Mario Sergio Cortella, para
quem "não tivemos um Ministério da Educação nesses cem primeiros dias".
Para
ambos, o governo até agora não explicou como tratará de questões
complexas e essenciais, como é o caso da distribuição do Fundeb,
principal mecanismo de financiamento da educação básica, cujo modelo
vence no próximo ano. "Sou um cidadão do país que precisa que o MEC
demonstre quais são suas políticas, o que não foi demonstrado até o
momento", diz Cortella.
Sugestão: foco na equipe
Maria
Helena e Cortella dizem respeitar a escolha de Bolsonaro. "Essa é uma
escolha do governante", diz Cortella, que foi secretário municipal de
Educação de São Paulo (1991-1992) e chefe de gabinete de Paulo Freire, a
quem sucedeu na secretaria.
"Espero
que ele [Weintraub] tenha muita vontade de dialogar com todos os
atores, movimentos, ONGs, universidades, para poder entender qual a
agenda de política que está em curso", diz Maria Helena.
Para
compensar a falta de preparo do novo ministro, ela dá uma sugestão: que
o titular se cerque de uma equipe bem preparada. Os colegas de Maria
Helena concordam.
"Se
pegarmos o Mendonça Filho, concordando ou não com sua linha de atuação,
ele foi capaz de montar um time de qualidade técnica, de pessoas que
conhecem educação e que permitiram avançar uma agenda em período
bastante curto", diz Nogueira Filho, do Todos pela Educação.
Desafio pela frente
O
cientista político Mauricio Fronzaglia, professor da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, alerta que, de todo modo, não será uma tarefa
fácil.
"Não
é algo simples. Nosso sistema de educação é bem complexo, exige
conhecimento técnico e de gestão", diz. "É uma área de resultados
demorados, que normalmente já sofre com problemas de comunicação entre o
ministério e as secretarias, para a implementação de políticas
públicas."
Para
Maria Helena, porém, é preciso dar um crédito de confiança para que
Weintraub "organize uma equipe alinhada", que não apresente as
dissidências internas observadas sob o comando de Vélez.
"Eu,
como brasileira e educadora, quero que a educação brasileira dê certo.
Estou aqui desejando boa sorte ao ministro e acredito que todas as
pessoas em educação pensam da mesma forma", diz.
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