Lá pensei em viver pra ver tanta novidade no mundo
Mês do Orgulho LGBTQ+
Viatura à paisana e clima tenso: PM gay pede namorado em casamento em SP
Viatura à paisana e clima tenso: PM gay pede namorado em casamento em SP
Janaina Garcia
Colaboração para Universa
23/06/2019 11h36
A Polícia Militar negou,
e o soldado Leandro Prior, 28, atendeu: não pediu a mão do namorado em
casamento, neste domingo (23), na Av. Paulista, durante a 23ª Parada
LGBTI de São Paulo. Prior, então, fez o pedido próximo à base em que
está de plantão neste fim de semana, nos Campos Elíseos, região central
da cidade: longe da animação multicolorida que marca o evento da
Paulista, nos arredores da cinzenta e degradada região da Cracolândia.
Mas de farda, como constara na solicitação negada, esta semana, pela
corporação. "O ponto crucial que me fez ir em frente é o fato de
que eu nunca na vida permiti que a opinião do outro me ferisse, muito
menos que a opinião do outro, seja quem fosse, suprimisse a minha
felicidade", disse o soldado a Universa.
O
pedido de casamento seria uma surpresa ao namorado, Elton da Silva
Luiz, 26, mas acabou vazando em grupos de PMs no WhatsApp antes mesmo de
Prior ter recebido uma resposta -- no caso, negativa -- da corporação. A
PM alegou não haver um regulamento em que estejam previstas situações
em que o militar possa fazer uso do fardamento. "Considerando que o uso
do fardamento por Policial Militar em manifestações não está previsto no
regulamento de uniformes, não há fundamentação legal para que seja
autorizada a sua utilização", informou a PM, em nota.
Clima tenso e viatura à paisana
O
pedido feito hoje foi rápido -- não durou nem 5 minutos -- e
acompanhado apenas por poucos amigos do casal. O clima, no entanto, era
de tensão: uma viatura da PM com insulfilme parou em frente ao local
escolhido pelos noivos e saiu tão logo o pedido de casamento foi feito.
Imagem: Gabriela Burdmann/UOLPrior
estava com as mãos trêmulas ao colocar a aliança de noivado no
namorado. Ao final, o casal se beijou e foi cumprimentado por
frequentadores da praça. Após o "sim", o soldado voltou a seu posto de
trabalho na base.
O advogado de Prior, Antonio Alexandre Dantas
de Souza, afirmou na última sexta (21) a Universa que a resposta da PM
sobre o regimento não tratava de "proibição" e salientou que a
iniciativa não se tratava "de um ato político por parte do Prior, como
nos alegaram, mas sim, algo muito mais intimista", definiu. Indagado
se temia algum tipo de consequência institucional por conta do pedido, o
soldado ponderou que agiu sob respaldo jurídico e que tem apoio de
grupos ativistas -- ele, próprio, é coordenador nacional da área de
segurança pública da ONG Aliança Nacional LGBTI+. Por outro lado,
amenizou: "Espero que tenhamos paz, muitas realizações e que todos e
todas possam seguir em frente, convictos de seus valores e princípios,
leais a si mesmos."
"E se eu fosse hétero?"
A reportagem
buscou saber da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo se outros
policiais, independentemente de orientação sexual, fizeram pedidos
semelhantes aos de Prior, e que resposta tiveram. A pasta não respondeu
às perguntas. Na internet, no entanto, existem diversos vídeos de
casais de homem e mulher policiais em situações de pedidos de namoro ou
casamento. Além de uso de farda, vários deles têm em comum a
participação ou a ajuda de outros policiais e apoio logístico como o de
viaturas ou eventos da PM. Em nota ao UOL na sexta (21), a PM
enfatizou ser "uma instituição legalista, que tem como um de seus
alicerces a dignidade da pessoa humana e não faz distinção de pessoa por
sua orientação sexual ou identidade de gênero, incluindo os mais de 80
mil policiais militares de São Paulo".
"Homofobia sempre vai ter"
O
noivo de Prior é caça-talentos em uma agência de modelos. Ele contou
que o pedido em casamento foi feito um mês, apenas, após o início do
namoro, mas explicou que mantinha um relacionamento de amizade com o
soldado nos últimos três anos. Silva já convivia com o policial,
por exemplo, quando Prior foi vítima de uma série de ataques e ameaças
homofóbicas no ano passado depois de ser filmado no metrô, fardado,
dando um selinho no então namorado. O vídeo, feito sem seu conhecimento,
parou em grupos de WhatsApp de PMs. A resposta veio em seguida, com ameaças de morte e xingamentos. A Corregedoria chegou a abrir procedimento, mas, ate hoje, não houve punições. "Eu
apoio o Leandro em tudo o que ele acha certo; apoio as lutas dele, que
também, de certo modo, agora são minhas. Sou muito tímido, e acho que o
mais gosto nele é que ele é sincero em tudo: o que tiver de falar,
fala", elogia o parceiro.
Que tipo de futuro vislumbra para o
casal? "Um futuro de muita luta. Sei de tudo o que ele passou,
acompanhei isso e sei que foi muito difícil - mas sei também que, se ele
já enfrentou situações como essas antes, estou preparado para o que vai
vir, porque, juntos, somos mais fortes para lidar com isso. Homofobia,
infelizmente, sempre vai ter."
Silva conta já ter passado por
episódios de preconceito "na própria família e na escola" -- o pai, diz,
não o aceita gay ate hoje. Ele chegou a namorar uma mulher por três
anos antes de se admitir homossexual, aos 17.
"Tive muitos
problemas quando resolvi assumir que queria ficar com meninos, e não com
meninas. Ouvi muita coisa, mas só tratava de ignorar. Agora, com
Leandro, entendo que a gente tem que ignorar menos essas coisas, porque
elas podem acontecer - aliás, agora é crime", disse, referindo-se à
recente decisão do Supremo Tribunal Federal) de classificar homofobia como crime de racismo, punível com até cinco anos de prisão.
Menção a Stonewall e a homofobia após no metrô
No
ofício à corporação, semana passada, o policial pedia autorização para
usar a farda e destacava que a 23ª edição da Parada homenagearia os 50
anos da Batalha de Stonewall -- série de manifestações de membros da
comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York, em junho de
1969, no bar Stonewall Inn, em Manhattan, na cidade de Nova York.
Ele
ainda ponderou, no documento, que fossem consideradas as situações de
homofobia pelas quais afirma ter passado na PM nos últimos 12 meses.
Três newsletters, Transforma, Inspira e Pausa, e uma ideia: debates para as mulheres de um mundo em evolução.
Viatura à paisana e clima tenso: PM gay pede namorado em casamento em SP
Viatura à paisana e
clima tenso: PM gay pede namorado em casamento em SP ... - Veja mais em
https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2019/06/23/viatura-a-paisana-e-clima-tenso-pm-gay-pede-namorado-em-casamento-em-sp.htm?cmpid=copiaecola
Viatura à paisana e
clima tenso: PM gay pede namorado em casamento em SP ... - Veja mais em
https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2019/06/23/viatura-a-paisana-e-clima-tenso-pm-gay-pede-namorado-em-casamento-em-sp.htm?cmpid=copiaecola
Nenhum comentário:
Postar um comentário