Cadeiras nas calçadas


Sou antigo, eu sei. Sou do tempo em que ladrão roubava galinhas e o Catanã, preso ou solto, dava um trabalho desgraçado pra polícia, destelhando casas, pulando muros, roubando quinquilharias ou penosas que no dia seguinte seriam vendidas no mercado. O dinheiro apurado nos roubos era utilizado pra comprar roupas, tomar umas cachaças ou raparigar na zona. Era quase uma coisa romântica e desafiadora. Não fosse roubo seria história de Trancoso. Por isso mesmo, quando vou ao interior e vejo cenas assim, fico todo derretido, saudoso, irremediavelmente perdido nas lembranças, de quando meu Pai Vovô Pompeu Ferreira da Ponte chegava do trabalho, todo santo dia, botava um  pijama, uma quartinha na janela esperando a brisa que descia da Meruoca, uma cadeira de balanço na calçada, na porta da rua, mais umas duas ou tres pra visitas ou simples passantes e com dois dedos de prosa celebrava o dia, celebrava o mundo, celebrava a vida. 
Quando vou ao Icó e tenho o registro de cenas assim, vou às lágrimas na saudade e a orgasmos cívicos com os casarões do centro histórico, onde estão becos estreiros, ruas e avenidas largas e, como no meu tempo da distante infância, uma enorme vontade ser livre. Uma enorme e desesperadora vontade de viver em paz.

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