Bolsonaro admite erro em vídeo com hienas, pede desculpas e promete retratação
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) admitiu que errou e se desculpou
nesta terça-feira (29) pelo vídeo com hienas e leões publicado em uma
rede social na véspera. O conteúdo foi apagado pouco tempo depois, após
repercussão negativa. No vídeo publicado nesta segunda-feira (28), Bolsonaro se compara a
um leão acossado por hienas que o atacam. Uma delas representa o STF
(Supremo Tribunal Federal).
ReproduçãoOutras hienas representam a imprensa, a OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil), a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a ONU
(Organização das Nações Unidas), partidos de oposição (como PT e PC do
B) e o seu próprio partido, o PSL. “Me desculpo publicamente ao STF, a quem por ventura ficou ofendido.
Foi uma injustiça, sim, corrigimos e vamos publicar uma matéria que leva
para esse lado das desculpas. Erramos e haverá retratação”, disse
Bolsonaro ao jornal O Estado de S. Paulo durante viagem à Arábia
Saudita. O vídeo provocou reação no STF. O ministro Celso de Mello, decano da
corte, disse que a postagem evidencia que “o atrevimento presidencial
parece não encontrar limites”. Segundo Bolsonaro, ninguém percebeu alguns símbolos que apareciam
“por frações de segundos” no vídeo. “Depois, percebemos que estávamos
sendo injustos, retiramos e falei que o foco são as nossas viagens”,
disse ao jornal O Estado de S. Paulo. O presidente não respondeu se o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), seu
filho, foi o responsável pela publicação do vídeo. O tuíte veio depois
de postagens com teor semelhante feitas por Carlos, que já admitiu em
outra ocasião publicar nas redes do presidente. Bolsonaro afirmou que não se pode culpar Carlos, que mais pessoas têm
a senha das suas redes e que a responsabilidade era dele. O presidente
disse ainda que orientou sua equipe a evitar esse tipo de conteúdo. Nas entrevistas coletivas em Riade, Bolsonaro se recusa a falar sobre
a polêmica. Pela manhã, ele interrompeu uma conversa ao ser questionado
sobre a reação do ministro Celso de Mello. No início da noite, logo
após voltar de um encontro com o princípe herdeiro Mohammed bin Salman,
Bolsonaro se aproximou dos jornalistas, mas virou às costas quando foi
novamente questionado sobre o assunto. O presidente interno Hamilton Mourão disse nesta terça não acreditar
que tenha sido Bolsonaro que publicou o vídeo. Para o general da
reserva, a publicação foi divulgada por alguém que “tem acesso à rede
social” do presidente. Ele, no entanto, não quis arriscar um palpite. “Acho que foi alguém que postou. Alguém que tem acesso à rede social
dele. Não sei quem. E ele, obviamente quando viu, tirou”, disse. A aposta de aliados do presidente é de que o vídeo foi compartilhado
por Carlos. A publicação em rede social foi feita no momento em que
Bolsonaro entrava numa limusine em Riad, capital da Arábia Saudita, a
caminho de um jantar com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Bolsonaro postou o vídeo em meio às vitórias da esquerda e
manifestações de rua em países da América Latina. “Chile, Argentina,
Bolívia, Peru, Equador… Mais que a vida, a nossa liberdade. Brasil acima
de tudo! Deus acima de todos!”, escreveu o presidente. O vídeo termina com a chegada de outro leão, “conservador patriota”, e
com um apelo: “Vamos apoiar o nosso presidente até o fim e não
atacá-lo”. “Já tem a oposição pra fazer isso!”, dizia o letreiro. Na montagem publicada, além da Folha, são identificados como hienas
veículos como a TV Globo, a revista Veja, o jornal O Estado de S. Paulo e
a rádio Jovem Pan. A publicação causou mal-estar entre ministros do Supremo. Nos
bastidores, alguns ministros classificaram a publicação como infantil e,
com ironia, disseram que o governo precisa chegar à vida adulta. No Supremo e no Congresso, a avaliação é a de que, mesmo que tenha
sido Carlos o autor da postagem, o presidente precisa pôr um freio no
filho. Também houve resposta dentro do partido de Bolsonaro, o PSL,
que está rachado entre congressistas que apoiam o presidente e outros
que o veem com ressalvas. No Twitter, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo
no Congresso, reagiu ao vídeo afirmando que “Deus limitou só a
inteligência”. “A burrice é ilimitada.” “Quando um político (ou uma família de políticos) posta um vídeo
comparando o PSL -maior partido da base e que mais ajudou o governo- a
uma hiena, significa dizer que ele está dispensando os votos e ajuda do
partido?”, escreveu ela. QUEM SÃO AS HIENAS NO VÍDEO STF Bolsonaro
já criticou a corte em junho, quando disse que o STF “cometeu um
equívoco” ao decidir pela criminalização da homofobia e “legislava” no
lugar do Congresso. Além disso, se manifestou favorável à prisão de
condenados logo após a 2ª instância, tema que a corte analisa e deve
proibir IMPRENSAAlvo constante de ataques do
presidente desde o início do mandato. No caso mais recente, Bolsonaro
afirmou que a Folha desceu “às profundezas do esgoto” após publicação de
reportagem sobre suspeita de caixa dois em campanha. Em setembro,
declarou que “parte da grande imprensa” é inimiga dele PSL Bolsonaro deflagrou uma guerra
interna em seu próprio partido ao dizer que o presidente da sigla,
Luciano Bivar, está “queimado pra caramba”. Ele atuou para emplacar seu
filho Eduardo como líder do partido na Câmara e ameaça deixar o PSL.
Nenhum comentário:
Postar um comentário