A menina M.N., de nove anos de idade, não lembra
nada da família biológica. Ela não fala sobre ninguém com quem teve
algum tipo de relacionamento familiar anteriormente. Em seu tão pouco
tempo de existência, a menina não tem referências familiares, não sabe
se participou de festas com pai e mãe ou se teve um dia o carinho deles.
Ela vive em uma instituição de acolhimento há tanto tempo que essas
lembranças já não consegue alcançar. A convivência familiar para ela
hoje só é possível graças ao programa de Apadrinhamento de Crianças e
Adolescentes, lançado pelo TJCE em 2015 em três modalidades: afetivo,
financeiro e prestação de serviços. Há dois anos, M.N. é apadrinhada afetivamente pelo casal Marissol de
Medeiros Melo e Tarcísio Lemos, ambos servidores públicos. Esse tipo de
apadrinhamento permite com que a criança ou o adolescente possa sair da
instituição de acolhimento e ficar fins de semana ou feriados com os
padrinhos. Sempre que sabe que o casal vai pegá-la, M.N. fica ansiosa e
feliz. “Desde o início do programa nós quisemos apadrinhar. Para a
criança é muito importante, isso é mostrado pela ansiedade dela quando
vamos pegá-la. Se todo mundo pudesse fazer um pouco seria ótimo, pois há
muitas crianças ainda abrigadas e fora do perfil que as pessoas
geralmente procuram para adoção. Essa é uma forma de essas crianças e
adolescentes terem uma convivência familiar e comunitária. Estamos muito
felizes”, disse Marissol Melo. “O programa visa levar a essas crianças um pouco maiores de idade a
oportunidade de conhecer uma família e de participar da vida familiar.
Geralmente, são crianças ou adolescentes que são mais difíceis de serem
adotadas. A intenção é que as pessoas queiram dar um pouco de si, do seu
apoio e afetividade para essas crianças e adolescentes que,
infelizmente, ficam no abrigo às vezes sem nunca ter conseguido uma
família. É um apoio para fazer a diferença na vida deles. Saber que
alguém acredita e confia em você ajuda na autoestima”, disse a psicóloga
do setor de Apadrinhamento do Juizado da Infância e Juventude, Joselita
Oliveira. DADOS Atualmente, de acordo com o setor de Apadrinhamento do Juizado da
Infância e Juventude do Fórum Clóvis Beviláqua, 17 crianças estão
participando do apadrinhamento afetivo; 9 participam do apadrinhamento
financeiro e 117 estão sendo atendidas pelo apadrinhamento de prestação
de serviços. De acordo com Nathália de Lourdes Coelho Cruz, coordenadora de Processos Administrativos e Judiciais da Vara da Infância e Juventude de
Fortaleza, o apadrinhamento é uma forma positiva que oportuniza uma vida
melhor para crianças e adolescentes. “Precisamos fazer com que a
sociedade saiba e tenha ciência do programa. O apadrinhamento afetivo é o
mais importante. Geralmente, essas crianças e adolescentes não sabem
como é ter uma família e o programa proporciona esse conhecimento que
para muitos é simples, mas para eles não é. Situações simples do dia a
dia, como uma alimentação ou qualquer outra atividade coletiva em
família para eles é muito representativo”. FORMAS DE APADRINHAMENTO Afetivo – incentiva a manutenção de vínculos
afetivos, ampliando as oportunidades de convivência familiar e
comunitária. O voluntário pode visitar o apadrinhado na unidade de
acolhimento, levá-lo para passear, passar fins de semana, férias
escolares (por período não superior a sete dias), entre outras ações
lazer. Financeiro – contribuiu economicamente para atender
as necessidades do acolhido, sem criar necessariamente vínculos
afetivos. Pode custear os estudos do apadrinhado, atividades
extracurriculares, tratamentos de saúde, além de poder presentear o
jovem com livros, vestimentas e outros bens. Prestação de serviços – é realizado por profissional
liberal que poderá executar, junto às instituições de acolhimento,
cursos direcionados ao público infantojuvenil, custear atividades
diversas que garantam acesso à dignidade dos acolhidos, além de
colaborar com serviços inerentes às atividades do voluntário. Para participar do programa é preciso se dirigir a uma Vara da
Infância e Juventude do Fórum Clóvis Beviláqua. Mais informações podem
ser conseguidas no telefone (85) 3278-7684 ou via e-mail:
apadrinhamento@tjce.jus.br. Por Crisley Cavalcante
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