Opinião

Dados indicam freada na economia em dezembro e reduzem previsões para 2020

José Paulo Kupfer

Conhecidos os números da produção em dezembro, os sinais são de que a economia deu uma freada no último mês de 2019, reduzindo o ritmo de crescimento que exibiu no terceiro trimestre. Janeiro começou com indicadores antecedentes apontando em direções divergentes. A expedição de papelão ondulado fechou o mês em alta e a venda de cimento, em baixa.
Esse quadro ainda não permite traçar uma trajetória definitiva para o ritmo da atividade econômica em 2020. Mas há indicações de que as projeções para a expansão da economia, nem bem o novo ano começou, já estão passando por revisões baixistas. Aquelas estimativas mais otimistas, de crescimento acima de 2,5%, estão sendo abandonadas.
O resultado do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) de dezembro, fechando o número de 2019, divulgado nesta sexta-feira (14), traz um sinal dessa redução na marcha econômica. O indicador mostrou um avanço de apenas 0,89% no ano passado, com recuo de 0,27%, na comparação de dezembro com novembro.
Criado pelo BC para ajudar em periodicidade mensal o acompanhamento do ritmo de evolução da economia, o IBC-Br, no curto prazo, não reproduz os movimentos completos da atividade econômica, captados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), trimestralmente, no cálculo do PIB (Produto Interno Bruto). Mas, sobretudo em prazo mais longo, costuma ser uma boa aproximação da realidade. Até aqui, as previsões para o PIB de 2019 estão em torno de uma expansão de 1,1%, inferior aos 1,3% de 2017 e 2018.
Com números modestos em 2019 e resultados abaixo dos esperados em dezembro, a produção industrial, o comércio e os serviços, segmentos que compõem o IBC-Br, já haviam antecipado um breque na trajetória da atividade, na virada do calendário. Esta foi estimulada, no terceiro trimestre, pela liberação de recursos do FGTS, mas o efeito na aceleração da demanda foi de fôlego curto.
A primeira consequência dessa desaceleração, ainda que venha a ser pontual, é o de reduzir o empuxo transmitido pela economia do fim de 2019 para 2020. Com base na melhora dos indicadores, no terceiro trimestre, as estimativas para o crescimento neste novo ano contavam com um "carregamento" de 1%. Ou seja, se tudo se mantivesse como estava em fins do ano passado, a economia em 2020 avançaria pelo menos 1%. Agora, os cálculos mostram que o "carregamento" de um ano para o outro tende a ser nulo.
Fatores externos e internos se combinam para apontar tendência menos otimista para a trajetória da atividade. Do lado externo, a maior possibilidade de freio deriva dos desdobramentos da epidemia do coronavírus. Incertezas quanto à duração e amplitude do contágio se somam ao inevitável breque na economia da China, epicentro do problema, pelo menos no curto prazo.
Não há mais muitas dúvidas de que o comércio internacional será atingido, com as restrições impostas à circulação de pessoas e mercadorias, na segunda maior economia do mundo. O Brasil, grande fornecedor de commodities agrícolas e metálicas para a China, não terá como escapar.
Com base nos impactos do coronavírus, o banco global UBS revisou sua estimativa de crescimento da economia brasileira, em 2019, de 2,5% para 2,1%. Também o banco de investimento JP Morgan cortou sua projeção para 1,8%.
No boletim Focus, em que o BC organiza previsões de analistas do mercado financeiro, a perspectiva para o PIB, neste ano, se mantém em 2,3%, mas não será surpresa se foram feitas novas revisões para baixo. Embora ainda não anunciadas, cortes nas projeções de crescimento apontam para uma convergência em torno de um teto de 2% este ano.
Além dos efeitos do coronavírus na economia global, afetando a atividade no Brasil, fatores internos também podem contribuir para reduzir o impulso da atividade. São, por exemplo, incertezas e desconfianças que se refletem em hesitação nas decisões de investimento.
Nos cálculos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o total de  investimentos na economia brasileira recuou 2% entre novembro e dezembro e caiu 2,7%, no quarto trimestre de 2019. O fato de que, no acumulado em 12 meses, os investimentos tenham registrado alta de 2,1%, só reforça a ideia de que o ritmo da atividade econômica ficou mais lento no fim do ano.
Especificamente no caso de máquinas e equipamentos, ocorreu uma verdadeira paradeira no fim do ano. Embora o consumo de máquinas tenha avançado 3,1% em 2019, em dezembro, na comparação com novembro, a retração foi de 7%, com queda de 9% na produção interna e 7,7%, nas importações.
Favorecidos em teoria pelos juros básicas em baixa inédita e a alta na taxa de câmbio, os investimentos não estão reagindo como se poderia esperar. Para José Francisco Lima Gonçalves, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo) e economista-chefe do Banco Fator, "estamos aprendendo com os juros baixos e uma das lições é a de que o investimento responde a juros, mas não só a juros".
Segundo o economista, a ociosidade ainda muito elevada, incluindo a existente no mercado de trabalho, é uma trava aos investimentos. E sem investimentos, a economia tende a andar de lado.
A isto é o caso de acrescentar incertezas com origem nas turbulências provocadas no ambiente econômico por atitudes e declarações do presidente Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário