A Câmara concluiu ontem (21) a aprovação da PEC (proposta de emenda à
Constituição) da Gastança, que expande o teto de gastos por um ano para
o cumprimento de promessas do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da
Silva (PT).
O debate começou na terça-feira (20), após acerto entre
deputados e aliados de Lula, com a votação em primeiro turno. Nesta
quarta, foi feito o segundo turno, e a proposta foi aprovada por 331 a
163. Eram necessários, no mínimo, 308 votos favoráveis. Nenhum destaque
(sugestão de mudança pontual no texto) foi aprovado.
O texto deve
ser reanalisado pelo Senado. A promulgação deve ocorrer hoje (22),
mesma data em que está prevista a votação do Orçamento de 2023.
A
conclusão foi viabilizada após o presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), conseguir um acordo com o Republicanos para evitar uma nova
desidratação da PEC.
Um destaque apresentado pelo Novo buscava
retirar a possibilidade de o governo eleito apresentar, até o fim de
agosto de 2023, uma proposta de nova âncora fiscal que substituísse o
teto de gastos por um projeto de lei complementar.
Partidos como PSDB
e Cidadania, que haviam apoiado a PEC, foram favoráveis ao destaque. O
argumento central é que o dispositivo fragiliza o processo de escolha de
âncoras fiscais e facilita para o futuro governo petista se desfazer do
teto de gastos.
Para evitar o revés, Lira suspendeu a sessão da
Câmara na terça-feira (20) após a votação do texto em primeiro turno e
iniciou uma negociação para que o Republicanos, que votou contrário à
PEC no primeiro turno, não apoiasse o destaque.
Auxiliares de Lula
então retomaram a articulação com o partido. O presidente do
Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), foi procurado pelo deputado
José Guimarães (PT-CE), pelo senador Jaques Wagner (PT-BA), além do
futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O partido reclamou
da falta de diálogo com representantes do presidente eleito, que negocia
espaço no novo governo com outras siglas. O plano é ampliar a
articulação com o Republicanos, deixando a porta aberta para que, no
futuro, a legenda possa deixar de ser independente e passar a ser base
de Lula.
Na votação pelo destaque, 40 parlamentares da sigla foram contra o destaque do Novo, que acabou derrubado por 366 a 130.
A
aprovação da PEC amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões no próximo
ano. O texto ainda autoriza R$ 23 bilhões em investimentos fora da regra
fiscal -o valor se refere ao excesso de arrecadação que o governo teve
no ano anterior.
Com o espaço no teto, o governo eleito pretende
pagar os R$ 600 do Bolsa Família mais R$ 150 para cada família com
crianças de até seis anos.
O relator do Orçamento de 2023,
senador Marcelo Castro (MDB-PI), ainda deve recompor programas como o
Farmácia Popular, o Minha Casa, Minha Vida e reajustar o salário mínimo
acima da inflação.
Em um desenho inicial feito pelo relator, o
aumento do teto de gastos servirá para distribuir recursos para os
orçamentos do Ministério da Saúde (R$ 22,7 bilhões), Desenvolvimento
Regional (R$ 18,8 bilhões), Infraestrutura (R$ 12,2 bilhões) e Educação
(R$ 10,8 bilhões), entre outros.
Por acordo entre líderes
partidários, a Câmara desidratou a PEC da Gastança. Inicialmente, o
governo tinha interesse em manter o aumento do teto de gastos autorizado
por, no mínimo, quatro anos.
O Senado reduziu a validade da medida para dois anos. Na Câmara, o prazo foi enxugado ainda mais, para um ano.
Arthur
Lira afirmou que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o
telefonou para pedir que a PEC seja analisada na íntegra pelos
senadores. A ideia original era que a nova votação se restringisse às
mudanças acrescidas pela Câmara, ou seja, a divisão dos valores das
emendas de relator.
“O presidente do Senado e o relator da PEC
[senador Alexandre Silveira, do PSD de Minas Gerais] nos fizeram a
solicitação por telefone, e eu informo ao plenário e consulto os
líderes, pedindo a devolução do texto completo e se comprometendo pela
votação ipsis litteris do texto que a Câmara aprovou, sem nenhuma
alteração ou destaque”, disse Lira.
Pelos termos do acordo, que deve ser mantido pelo Senado, o Congresso
irá distribuir os R$ 19,5 bilhões previstos para as emendas de relator
em 2023 da seguinte forma: metade fica sob o controle dos parlamentares,
engordando as emendas individuais, e a outra metade voltará para o
Executivo, repartindo o montante entre os ministérios.
Apesar da distribuição, os recursos que voltarão aos ministérios podem ser utilizados como moeda para negociações políticas.
Assim,
a cúpula do Congresso conseguirá manter alguma influência sobre parte
do valor realocado em articulação com os ministérios do governo eleito.
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