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Como disputa eleitoral acirrada afeta a gestão das cidades?

Quando o debate em torno das eleições é antecipado e influenciado pela lógica das redes sociais, a população e a cidade podem perder. Entenda


Falta ainda cerca de um ano para os eleitores irem às urnas eletrônicas e escolherem quem serão os próximos prefeitos em suas cidades, além dos vereadores.  Porém, na prática, a disputa eleitoral já começou. Quem está à frente das atuais gestões municipais corre contra o tempo para “mostrar serviço”, promovendo suas ações. Já quem é oposição e pretende disputar a função de gestor da cidade reforça as críticas à atual gestão.


De acordo com Karlo Medeiros, especialista em Gestão Pública, o fato de esse embate eleitoral começar antes do tempo afeta negativamente a gestão pública das cidades e, consequentemente, os interesses da população, uma vez que quem está no poder se preocupa em participar desse embate. Segundo ele, ao se preocuparem mais com a entrega de resultado mais imediato, os atuais gestores deixam de lado os problemas mais complexos das cidades.


“Isso está se agravando. Com o cenário das eleições irem ‘se emendando’, a pauta eleitoral toma a centralidade na discussão e a pauta dos problemas da cidade ficam em segundo plano”, disse. Além disso, ele considera que, muitos gestores se deixam levar pela lógica das redes sociais, priorizando ações com resultados rápidos e que causem maior repercussão entre a população. Assim, assuntos e problemas mais complexos ficam de lado. 


“Nós temos dois grandes problemas nos municípios hoje: a questão do desenvolvimento econômico e a questão da criminalidade. (...) Esses são problemas graves, entre tantos outros, que estão ficando em segundo plano (...). Os municípios estão perdendo a oportunidade de debater isso com a sociedade porque não gera engajamento”.


Para Medeiros, o problema não atinge apenas as gestões atuais mas também as futuras, ou seja, aquelas iniciadas por outros candidatos que venham a vencer a eleição. A ideia do “primeiro ganhar (a eleição) para depois pensar no que fazer” traz o risco de o gestor chegar à Prefeitura sem ter clareza das propostas estruturantes da gestão. “Ele (o novo prefeito) perde aí o primeiro ano da gestão apenas para se encontrar (...). Isso é muito comum acontecer com os candidatos ‘outsiders’ ”.


O especialista sustenta que a falta de preparação dos políticos, tanto de situação como oposição, por conta de uma disputa eleitoral cada vez mais antecipada e acirrada, vai trazer prejuízos para a próxima administração. Entretanto, há maneiras de os candidatos se qualificarem melhor tanto para a disputa eleitoral como para uma possível gestão. 


“Para quem está na oposição, diria que é preciso conhecer bem a cidade, porque isso vai ajudar não só na própria campanha mas na estruturação da base de gestão”. Ele aponta uma espécie de fórmula básica em três passos: o candidato identifica um problema na cidade e, assim, há a conexão com as pessoas; aponta possíveis maneiras de resolver o problema e se coloca como aquele que possui a capacidade para implementar essa solução.


“Para quem está na situação já é mais complicado. Acho que um grande passo é fazer a avaliação do próprio governo. Quando você faz isso, antes de ser apontado pelo opositor, você mesmo identifica os problemas e já passa a corrigi-los em tempo real. Já para aqueles (problemas) que são mais graves, é aí que entra a comunicação transparente. Então, para quem está no governo: avaliar os próprios resultados; comunicar bem o que deu certo e justificar o que não deu certo”.


Medeiros aponta ainda que os eleitores também podem chegar ao período eleitoral mais preparados adotando algumas atitudes: perceber na figura pública o que é autêntico; deixar as paixões mais de lado e olhar o que está sendo ou proposto para a gestão; compreender que os problemas são complexos e ponderar isso para escolher a pessoa mais preparada para resolver os problemas da sua cidade.

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