Dados mostram onde estão os judeus sefarditas no Brasil e revelam corrida por cidadania portuguesa
Levantamento da consultoria Martins Castro identifica concentração de pedidos em SP, RJ e MG; aumento explosivo das solicitações em 2025 ocorre diante de propostas de endurecimento da Lei da Nacionalidade em Lisboa
Dados exclusivos da consultoria Martins Castro mostram um salto expressivo nas solicitações de nacionalidade portuguesa pela via sefardita no Brasil em 2025, com picos nos maiores pólos demográficos do país. A movimentação coincide com um pacote de propostas do Governo de Portugal que endurece requisitos de naturalização e prevê, na forma como foi apresentado, a eliminação do regime especial para descendentes de judeus sefarditas — mudanças cuja votação foi adiada para o calendário parlamentar do outono (outubro) de 2025
Segundo a base da Martins Castro, que possui mais de 100 mil pessoas, a busca por cidadania portuguesa pela via judeu sefardita aumentou 398,5% no Brasil — padrão semelhante no recorte internacional (México, Colombia, Israel e EUA) de 365%. Na distribuição regional, a maior parte dos interessados concentra-se em São Paulo (27,0%), seguido pelo Rio de Janeiro (9,7%) e Minas Gerais (9,2%); o Ceará representa 6,0% no recorte estadual, com outros estados distribuindo as participações restantes.
De acordo com Renato Martins, CEO da Martins Castro, o salto se dá pela percepção de que a via sefardita pode ser restringida ou encerrada se o pacote legislativo apresentado pelo Governo português que propõe regras mais exigentes — aumento de prazos de residência, exigências formais de integração e a possibilidade de limitação ou revogação do regime que permite naturalização por origem sefardita — for aprovado.
A tramitação tem sofrido adiamentos e a votação final foi empurrada para o calendário do outono (setembro/outubro de 2025), segundo comunicados e análises jurídicas — cenário que, enquanto não resolvido, alimenta a pressa entre requerentes e consultorias.
A Comunidade Israelita de Lisboa (CIL), que certifica pedidos pela via sefardita, enviou à Comissão parlamentar uma posição clara sobre a proposta do Governo, conforme um dos trechos da carta: “É, pois, excessivo e até irrazoável o abrupto corte de legítimas expectativas de quem há anos procura obter e aguarda pelo seu certificado.” Essa e outras passagens do texto explicam a posição institucional da CIL: defender a manutenção do regime de reparação histórica, mas aceitar — se necessário — uma transição ordenada que preserve expectativas legítimas de processos em curso.
Isabel Comte, jurista da Martins Castro e uma das maiores especialistas em cidadania com duas décadas de experiência na análise dos pedidos no Ministério da Justiça, sintetiza o conflito prático e jurídico que move a corrida: “A proposta, tal como foi apresentada, não prevê um regime transitório claro e há risco de retroatividade, o que geraria litígios e insegurança jurídica — por isso, o apelo prático é: quem cumpre hoje os requisitos deve candidatar-se o quanto antes.” A jurista também ressaltou que “a nacionalidade pela via sefardita não é apenas técnica legal; para muitas famílias representa a continuidade de um patrimônio cultural e afetivo".
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