Com Ceará na mira, governo federal inicia demissões contra Centrão
Reação ocorre após derrota na votação da MP do IOF na Câmara. Ao menos um servidor indicado por deputado cearense já foi atingido
O governo do presidente Lula (PT) iniciou a retaliação após a derrota na votação da Câmara dos Deputados que derrubou a MP 1303/2025, a Medida Provisória do Imposto sobre Operações Financeiras.
Em reação a parlamentares e partidos que votaram para retirar de pauta e invalidar a medida, vista como essencial para o governo, foi iniciada uma série de demissões em cargos de órgãos federais com indicados por esses deputados que votaram contra o governo. Aliados de parlamentares cearenses também estão na mira e já foram atingidos.
Foi exonerado nessa terça-feira (14) o servidor Alex Renan de Sousa Galvão, até então no cargo de diretor de Desenvolvimento Tecnológico e Produção do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Ele era uma indicação do deputado federal Moses Rodrigues (União-CE). A decisão foi formalizada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), na edição de ontem do Diário Oficial da União (DOU).
A expectativa é que novas exonerações ocorram nos próximos dias. Da bancada cearense na Câmara, 8 dos 22 deputados federais votaram junto com a oposição ao governo federal, portanto, contra a MP do IOF. Outros dez cearenses votaram a favor da proposta do governo e quatro não participaram da votação.
Votaram para derrubar a matéria os deputados AJ Albuquerque (PP), André Fernandes (PL), Dayany Bittencourt (União), Dr. Jaziel (PL), Júnior Mano (PSB), Luiz Gastão (PSD), Matheus Noronha (PL) e Moses Rodrigues (União). Fora o PL, a maior parte dos partidos desses deputados compõe o chamado Centrão, que mantém posições no governo federal.
Os votos contra o governo podem prejudicar especialmente Júnior Mano e Moses Rodrigues, que são cotados para disputar vaga de Senado na chapa do PT no Ceará. Porém, conforme governistas, esse apoio pode não ocorrer em razão dos seus posicionamentos em votações como a da MP do IOF.
As exonerações no governo federal são encabeçadas pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), com o aval de Lula. O deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do presidente na Câmara, havia antecipado a reação contra os deputados "infieis".
O petista previu um "rebuliço" para esta semana. "A Gleisi vai meter a faca. Estou dizendo isso porque ela já me disse”, comentou Guimarães em entrevista ao podcast As Cunhãs, que foi ao ar no sábado (11).
Sem citar nomes, o líder de Lula relatou até que deputados do Ceará o haviam procurado em busca de evitar as demissões. "A turma vota e vem me ligar. Tem deputado do Ceará que tem cargos e vem me ligar. 'Zé, pelo amor de Deus, me ajuda, eu tenho cargos ali'", relatou Guimarães, que disse ter respondido: "Você tem que se entender com a Gleisi". Ainda segundo Guimarães, as demissões estariam dentro de uma reorganização da base do governo Lula no Congresso Nacional, com a redistribuição desses cargos para os governistas.
A primeira rodada de exonerações começou na sexta-feira (10) passada. Já foram demitidos, por exemplo, nomes ligados ao PP, do senador Ciro Nogueira, na Caixa Econômica Federal, e do PSD, de Gilberto Kassab, no Ministério da Agricultura. Os dois teriam sido responsáveis por articular a derrota da MP do IOF. Também teriam se envolvido na movimentação o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e o presidente do União Brasil, Antônio Rueda.
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