Contato

Morreu Roberto Macedo

 

Morre o empresário Roberto Proença de Macêdo (1944 – 2025)
Obtuário de um industrial, engenheiro e guardião da autenticidade
Faleceu na noite desta segunda-feira, em Fortaleza, aos 81 anos, o empresário e ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Roberto Proença de Macêdo, vítima de complicações pós-operatórias no intestino.
Figura de rara discrição, Roberto Macêdo foi, antes de tudo, um homem de princípios — um industrial guiado por valores humanos e espirituais, que acreditava que o verdadeiro progresso só se consolida quando caminha ao lado da ética e da responsabilidade social.
Raízes e formação
Nascido em Fortaleza em 2 de fevereiro de 1944, Roberto era filho de José Dias de Macêdo e Maria Proença de Macêdo, casal que construiu, a partir de 1939, um dos grupos empresariais mais importantes do Brasil — a J. Macêdo S/A, detentora de marcas como Dona Benta, Petybon, Sol e Hidracor.
Formou-se em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mas foi no convívio familiar, sob a disciplina e a religiosidade do pai, que consolidou o senso de dever e o olhar ético que marcariam sua trajetória.
Em entrevista ao jornalista Fábio Campos, ao celebrar os 75 anos da empresa, Roberto lembrou com ternura a fé e a disciplina do patriarca:
“Meu pai era uma pessoa encantadora sob muitos aspectos. Lembro da sua religiosidade, sua espiritualidade. Quando ele chegava em casa, nós, meninos ainda, rezávamos o terço ajoelhados em volta da cama. Deus era muito importante para ele e ele queria transformar isso numa realidade para os filhos.”
O legado empresarial
À frente da J. Macêdo, Roberto representou a segunda geração de uma família que fez da indústria cearense uma referência nacional.
Como diretor-presidente da J. Macêdo S/A – Comércio, Administração e Participações, e também da Tintas Hidracor, conduziu junto com o irmão Amarílio a expansão da empresa com equilíbrio, sempre fiel a um princípio básico herdado do pai: a austeridade.
“Meu pai dizia: ‘sou um homem de classe média com recursos. Não sou rico’. Ele não gostava de grifes, não queria carro importado. Essa simplicidade moldou a empresa e a família”, dizia Roberto a respeito do pai, sua maior referência. Em seu modo sereno de conduzir os negócios, Roberto cultivava uma visão de indústria integradora e sustentável. Foi defensor do desenvolvimento com responsabilidade ambiental, participando de conselhos e ações em defesa da Caatinga, e chegou a ser agraciado com o Prêmio Ambientalista Joaquim Feitosa pela Secretaria do Meio Ambiente do Ceará.
“Estou ainda mais entusiasmado para continuar e aumentar a preocupação e dedicação aos biomas, sobretudo à Caatinga, que é exclusivamente nossa e temos a responsabilidade de tomar conta dela”, declarou em uma de suas homenagens.
O líder da indústria cearense
Entre 2006 e 2014, Roberto presidiu a FIEC em dois mandatos consecutivos. Sua gestão foi marcada pela reunificação da instituição, pela ampliação do diálogo com os 39 sindicatos filiados e pela introdução de práticas mais democráticas na escolha de seus dirigentes.
Deixou a entidade fortalecida, moderna e integrada, fiel ao princípio de que a indústria é também instrumento de coesão social e progresso humano.
Em reconhecimento à sua trajetória, foi condecorado em 2016 com a Medalha do Mérito Industrial, no Dia da Indústria, e, posteriormente, indicado para receber o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará, pela contribuição ao desenvolvimento regional.
Visão e valores
Roberto via o papel do industrial como o de um construtor de pontes entre o local e o global, o econômico e o humano.
No livro Made in Ceará – Indústria e Cidadania na Integração Local-Global, escreveu:
“O desenvolvimento equilibrado do Brasil, do Nordeste e do Ceará é objeto recorrente de minhas atenções. A confiança no potencial de crescimento do nosso país, respeitando o meio ambiente, é um ponto permanente da minha vida.”
E concluiu com uma ideia que resume sua filosofia:
“Precisamos acrescentar um vice-versa à velha máxima: é preciso também pensar localmente e agir globalmente.”
Família e humanidade
Mais do que empresário, Roberto Macêdo foi filho, irmão, marido e pai dedicado.
Criado em ambiente familiar de forte união, cultivou, até o fim, os laços herdados do pai, que “não deixava os filhos brincarem na rua” porque acreditava que a verdadeira convivência era dentro de casa, com a família.
Essa marca gregária, de acolhimento e respeito, atravessou gerações — e explica o tom de serenidade e humanidade com que Roberto tratava a vida e o trabalho.
Discreto, religioso e de fala mansa, era admirado por colegas e amigos pela coerência entre o que dizia e o que vivia. Autenticidade, simplicidade e humildade eram os pilares de seu modo de estar no mundo.
Era sempre um prazer encontrar Roberto em sua Montmarttre, na Dom Luís. No almoço ou no fim da tarde, estava sempre lá, um ambiente mantido pelo seu núcleo familiar com carinho e dedicação que surpreendem a muitos diante da dimensão do grupo empresarial que o elevou à condição de um dos bilionários da Forbes brasileira, posição que ele e a família nunca deram importância.
Despedida
Roberto Proença de Macêdo deixa a esposa Tânia, filhos, netos, irmãos e uma legião de colaboradores, amigos e admiradores. O Ceará perde um de seus mais notáveis industriais, mas ganha um exemplo duradouro de integridade, fé e responsabilidade.
Sua trajetória confirma que o verdadeiro líder é aquele que transforma o trabalho em missão, o lucro em propósito e o sucesso em legado coletivo.
Roberto deixa uma família grande e unida, composta por oito irmãos — quatro homens e quatro mulheres —, sendo o segundo na ordem de nascimento.
Casou-se ainda jovem com Tânia — “menino”, como costumava dizer, lembrando com humor o espanto dos que duvidavam da durabilidade daquela união. “Ninguém acreditava, diziam que não ia durar. E já são 64 anos”, contava, com orgulho sereno.
Dessa vida partilhada nasceram quatro filhos, que lhe deram genros, noras, dez netos e, mais recentemente, um bisneto — novas gerações que continuam a história da família Macêdo.
A exemplo do pai, José Macêdo, Roberto sempre fez da união familiar um valor central. Gostava de reunir todos, de viajar em grupo, de acompanhar de perto a vida de cada um.
“Seriedade, humildade e respeito — foi isso que ele nos ensinou. E é isso que seguirá vivo entre nós.”

Fonte da história - Focus.jor
Foto da Fiec

Nenhum comentário:

Postar um comentário