Ruínas e igreja: 'cidade fantasma' no sertão do CE tem apenas 6 habitantes

Poucas construções seguem em pé em Cococi, no Ceará

Imagem: Reprodução/Globoplay

A cerca de 450 quilômetros de Fortaleza, a cidade de Cococi guarda um passado carregado de história. Hoje, no entanto, a região é considerada uma "cidade fantasma", cercada por ruínas e lar de apenas duas famílias.

O que aconteceu

No atual Sertão dos Inhamuns, Cococi surgiu em 1707, como uma fazenda de gado. A região foi sede de uma das maiores sesmarias (lote de terras distribuído a um beneficiário, em nome do rei de Portugal) do Ceará durante o período colonial. A pecuária se firmou como principal atividade econômica local.

Até então, Cococi era distrito de municípios vizinhos. Na década de 1950, o conjunto de fazendas da poderosa família Feitosa deu origem à vila Cococi. Somente em 1957 Cococi recebeu oficialmente o título de cidade, com pouco menos de 4.000 habitantes e muita influência dos Feitosa.

Família tinha cerca de 90% das terras que compunham a cidade. Intercalando-se como prefeitos, os Feitosa controlavam a cidade, até que uma denúncia ao Governo Federal chegou à Justiça. Segundo o inquérito, todos os moradores trabalhavam para os Feitosa, e os secretários e vereadores também pertenciam à numerosa família.

O governo entendeu que ali funcionava uma fazenda que se passava por cidade. A verba pública foi cortada, e o município, extinto em 1970. Após a extinção, o município foi incorporado à vizinha Parambu. O clã Feitosa e os moradores da época decidiram migrar para cidades vizinhas, deixando Cococi praticamente vazia. Os agricultores, sofrendo com a seca, também partiram. Poucas casas, igreja e escola. Hoje, apenas duas famílias de agricultores vivem na área que, um dia, foi a cidade de Cococi. Cerca de seis pessoas moram no atual distrito. Em meio à paisagem da caatinga, restam o cemitério e as poucas casas. O hotel, a sede da prefeitura, o palacete da família Feitosa, o cartório e as construções onde funcionava o comércio local, como a padaria e a farmácia, estão em ruínas, cobertas pelo mato, ou desabaram por conta da ação do tempo.

Graças aos cuidados dos poucos moradores, a construção mais bem preservada é a igreja. Ela é dedicada à Nossa Senhora da Conceição, padroeira do ex-município.

Moradores de comunidades vizinhas só vão visitar Cococi por causa da igreja. A tradição da novena religiosa dedicada à Nossa Senhora da Conceição, em dezembro, atrai centenas de moradores de comunidades próximas, que lotam a igreja inaugurada em 1748. Além das solenidades religiosas e sociais, como visitas aos túmulos no cemitério e às ruínas, há também o reencontro de familiares e conhecidos.

A Escola de Ensino Fundamental Eufrasio Alves Feitosa atende alunos da região rural, não só de Cococi. Segundo reportagem do Fantástico (TV Globo) de 2022, 14 crianças faziam parte de uma mesma sala de aula, e apenas uma professora trabalhava na instituição.