Ele foi executado com um único disparo — a vida de Che Guevara terminou num modesto colégio rural da Bolívia, em 9 de outubro de 1967, depois de uma campanha guerrilheira que atravessara fronteiras, selvas e ideologias. Capturado pelas forças bolivianas e observado de perto pelo agente da CIA Félix Rodríguez, Guevara encontrou o fim não num campo de batalha, mas numa sala silenciosa, onde ordens seriam cumpridas com a frieza de um gesto burocrático. Sua captura foi o ponto final de anos perseguiendo ideais revolucionários; e ali, naquele instante suspenso, sua visão e sua carne se chocaram com o peso brutal da política real.
Não foi apenas uma execução. Foi o desfecho de um homem que havia se tornado símbolo — e, justamente por isso, alvo. Rodríguez e os soldados bolivianos, câmeras preparadas, armas em punho, posicionaram-se diante de Guevara como testemunhas e agentes de um momento que o mundo ainda observaria com perplexidade. A fotografia que surgiu dessa cena captura não só a eficiência mecânica do ato, mas também o fardo histórico sobre aquela pequena sala: um revolucionário silenciado, um mito nascendo, um corpo imóvel que se tornaria ícone permanente.
A serenidade de Che diante da morte — o maxilar firme, o olhar estável, a presença que não se dissolveu nem mesmo cativa — revelava a consequência extrema da vida que escolhera. Ele havia caminhado voluntariamente no fio entre idealismo e perigo, sabendo que esse caminho quase sempre termina diante do cano de uma arma.
Quando a notícia da sua morte atravessou a Bolívia e alcançou o mundo, Che Guevara já não era apenas um homem. Tornara-se mártir para uns, advertência para outros, símbolo inevitável para todos.
Mas além das imagens e das histórias repetidas, poucos conseguem imaginar o silêncio daquela sala: o momento antes do disparo, o sopro curto do medo ou da aceitação, a tensão de uma existência prestes a ser apagada.
Sua morte nos devolve uma pergunta profunda — talvez a única que realmente importa quando falamos de convicção:
O que você faria se suas crenças colocassem um alvo nas suas costas, e a morte esperasse apenas um passo adiante?
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