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Ricos comunistas

Pouca gente sabe: o PCdoB, mais antigo partido do Brasil, é hoje um dos mais ricos e tem uma sede nova em São Paulo, com sete andares e 3.400 metros quadrados. Custou R$ 3,3 milhões e foi pago à vista. O partido tem 205 mil militantes e representação em mais de dois mil municípios. Desde 1991, elege todos os presidentes da UNE – União Estadual dos Estudantes e mantém a foice e o martelo em sua bandeira. Nas alianças, contudo, não escolhe ideologia e até criou sua própria central, a CTB – Central dos Trabalhadores do Brasil, para sair do guarda-chuva da CUT.
Midia paulistana (Giba Um)

Minissaia no cordel

Para quem não sabe: a Uniban é a quarta maior universidade do Brasil em volume de alunos e está em 159º lugar entre 175 avaliadas em todo o Brasil pelo MEC. Ou seja: começando de baixo para cima, significa que é a 16ª pior do país. Mais: o lamentável episódio envolvendo Geisy Arruda acaba de ganhar versos de cordel, assinados por Miguezim de Princesa. Um trecho: “Trajava um mini-vestido/ Arrochado e cor de rosa/ Perfumada de extrato/ Toda ancha e toda prosa/ Pensou que estava abafando/ E ai ter rapaz gritando:/ “Arrocha a tampa, gostosa”. E mais adiante: “Mas, Geisy se enganou/ O paulista é acanhado/ Quando vê lance de perna/ Fica logo indignado/ Os motivos, eu não sei/ Mas pra passeata gay/ Vai todo mundo animado!”

O comentário do Carlos Chagas

Não resisto à leitura do querido amigo Carlos Chagas. Hoje ele está impagavel. ALiás eu não poderia pagar para publica-lo, o que faço na confiança da amizade. Veja aí:

DE NOVO DONA MARIQUINHAS E DONA MARICOTA
Por Carlos Chagas

Só falta mesmo o ex-presidente Fernando Henrique acusar o presidente Lula pelo apagão registrado na metade do país na noite de terça-feira e na madrugada da quarta. Esses acidentes, quando raros, fazem parte do inusitado da vida. Nos tempos do sociólogo, deveu-se à falta de chuva nas cabeceiras dos rios, provocando queda no volume dos reservatórios. Não se acusará o governo da época de imprevidência, incapacidade ou sucedâneo, apesar do sacrifício a que toda a população foi exposta, obrigada ao racionamento.

Agora, a falta de energia deveu-se à queda de uma torre de transmissão na saída de Itaipu. Teria sido o Lula culpado pela tempestade que derrubou a torre e gerou o efeito dominó no abastecimento dos estados do Sudeste e Centro-Oeste?
Assistimos hoje a um debate inócuo, insosso e inodoro, entre personagens do governo atual e do passado, com destaque para as principais figuras de um e de outro. Parece o bate-boca entre dona Mariquinhas e dona Maricota, na calçada do subúrbio de uma cidade qualquer. Coisa ridícula ficar comparando quem foi melhor e quem foi pior. Faz tempo que essa tertúlia caipira vem se registrando, mas avolumou-se com a recente intervenção de Fernando Henrique, em artigo de jornal. O presidente Lula pegou o peão na unha e delegou a Dilma Rousseff agilizar as farpas. Ela acaba de declarar que não desejava o confronto, mas agora “tudo o que quer é comparar, pois a atual administração dá de 400 a zero na anterior”. Pegou gosto, como acrescentou. O apagão desta semana é apenas um capítulo a mais nessa novela de pouca audiência.

PREMUNIÇÃO?
Desde tempos imemoriais que se discute o dom da premunição entre bissextos personagens da História, de Nostradamus às ciganas leitoras de mão. Acredita quem quer, duvida quem pode.
Pois não é que o Banco do Brasil antecipou-se ao recente apagão da noite de terça-feira? Porque naquele dia, desde o meio-dia, mais de quatrocentas agências do BB saíram do ar, em todo o país. Apagaram, causando enorme transtorno aos clientes, impossibilitados de movimentar suas contas. Teria sido um aviso? A torre de transmissão de Itaipu ainda não tinha caído, os rotineiros temporais da época só chegaram no final da tarde, mas o nosso principal estabelecimento de crédito saiu na frente. Existirão culpados?

“EU NÃO DISSE?”

Coube ao competente Merval Pereira, ontem, em sua coluna diária, sinalizar aquilo que a imensa maioria da imprensa, dos partidos políticos, das associações de classe e dos sindicatos preferiram ignorar. O comentarista registrou diálogo entre o presidente Lula e o vice-presidente José Alencar, numa solenidade em São Paulo, aliás, mais um monólogo, porque apenas o chefe do governo falou. Seu substituto ouviu e no máximo passou a mão no rosto, não se sabe se para espantar uma mosca ou espantado mesmo. O problema é todo mundo também ouviu, com os microfones ligados.
Disse o Lula que a permanência dos dois, no poder, poderia ser maior, se eles quisessem. Só que “o pessoal não quer”, acrescentou o presidente, frisando que os dois agüentariam a batalha por mais cinco anos, ainda que “se encontrem quietinhos esperando que o jogo seja jogado”.
Faz mais de dois anos que vimos alertando para a possibilidade de um terceiro mandato. Jamais a probabilidade, porque as instituições democráticas, afinal, continuam prevalecendo. Do que sempre falamos foi da hipótese de o presidente Lula não conseguir emplacar uma candidatura capaz de vencer as eleições de 2010. Nesse caso, os companheiros entregariam o governo aos tucanos, dada a prevalência até hoje registrada nas pesquisas, de José Serra? Abririam mão de mais de 36 mil cargos federais comissionados, centenas de diretorias de empresas estatais, milhares de ONGs que apesar de não governamentais, são sustentadas pelos cofres públicos? Sem falar, é claro, nas divergências ideológicas entre os modelos neoliberal e estatizante hoje em discussão.
Parece pesadelo a mudança nas regras do jogo depois dele começado, mas essa moda é antiga. Que o diga Fernando Henrique Cardoso, eleito para quatro anos mas que ficou oito, impondo a reeleição ao Congresso.
Mil vezes o presidente Lula negou sua permanência no palácio do Planalto além dos dois mandatos, mas algumas vezes engrenou a marcha-a-ré, como agora. Permanece no ar, mesmo como brisa leve, a tempestade capaz de gerar imenso apagão democrático. Porque se depender da população, ninguém se iluda: mais de 80% dos brasileiros apoiarão o terceiro mandato, a prorrogação ou equivalente...

QUEBRANDO PRECONCEITOS
Bem fez a direção da Uniban ao rever a expulsão da universitária Geizi Arruda por haver freqüentado aulas usando mini-saia, ainda que um tanto curta. O que não deu para aceitar foi a reação medieval de alguns alunos, que investiram sobre a moça como se estivesse contrariando antigos preceitos e costumes da discutível moral pública. Ainda bem que tudo se resolveu pela lógica.
A esse respeito, registre-se episódio igual ou mais explosivo, verificado no final dos anos setenta. No Congresso, as mulheres eram proibidas de usar calças compridas. Só vestidos, para transitar pelos corredores, gabinetes e plenários.
Uma jornalista, Leda Flora, decidiu reagir. Compareceu para a cobertura normal dos trabalhos usando um terninho, aliás de griffe, e foi barrada na portaria. Não teve dúvida: foi ao toillete, livrou-se da parte de baixo da roupa e apresentou-se com a parte de cima, por sinal de razoável comprimento, mas deixando expostas suas pernas bem torneadas. Era um vestido, para todos os efeitos. Resultado: caíram naquela tarde as muralhas do preconceito, as calças compridas são hoje uniformes para a imensa maioria das senhoras e senhoritas que trabalham no Legislativo. Até senadoras e deputadas...

Câmara: CCJ aprova PEC do jornalista

Primeira vitória
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta (11) a proposta de emenda à Constituição que torna obrigatório curso superior para o exercício da profissão de jornalista. Há quatro meses, o Supremo Tribunal Federal derrubou a obrigatoriedade do diploma. Segundo a Corte, legislar sobre o assunto seria uma tentativa de “restrição da liberdade de expressão, prevista na Constituição”. Agora será criada uma comissão especial da Câmara que terá o prazo de 40 sessões para analisar a matéria.

Mendes: STF terá solução para Battisti


GILMAR MENDES
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, afirmou que a Corte “têm condições” de julgar o caso do ex-terrorista italiano Cesare Battisti e terá soluções adequadas a qualquer controvérsia. Gilmar Mendes comentou a possibilidade de os advogados do italiano tentarem transferir a decisão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no caso de o STF decidir pela extradição. O presidente do STF destacou que primeiramente é preciso aguardar um pronunciamento formal do Supremo. Logo em seguida, ele ressaltou que, no Brasil, "não há qualquer tradição de descumprimento de decisões do Judiciário, sobretudo do Supremo Tribunal Federal". O julgamento está marcado para acontecer nesta tarde.

US Airways vai operar no Brasil


A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) autorizou nesta quarta (11) a companhia aérea US Airways a operar no Brasil. A companhia, uma das maiores empresas do setor nos Estados Unidos, poderá operar “serviço aéreo de transporte regular internacional de passageiro, carga e mala postal”. A empresa anunciou que vai realizar, a partir de 16 de dezembro, uma rota ligando o Rio à cidade de Charlotte (Carolina do Norte), principal centro de conexão de vôos da companhia aérea nos EUA. A autorização da Anac foi publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União.
Ouví de fonte muito bem informada nos Estados Unidos que Fortaleza poderia cair na malha da usairways.

Caim


O Primeiro Ministro José Sócrates.O outro sou eu.
O livro do Saramago que está fazendo Adão e Eva bulirem no túmulo, ainda não chegou ao Brasil. Nas livrarias de Lisboa, e na Europa como um todo, já está na quarta edição em menos de 50 dias de seu lançamento. A leitura que agora começa a ser divulgada e discutida, chegou à mesa do Primeiro Ministro José Sócrates. Jantando a seu lado, no restaurante do Hotel Tivoli, em Lisboa, dois dias antes de sua posse no comando do Governo portugues perguntei pelo livro. Polidamente, como quem não queria entrar na discussão, Sócrates descartou: - Ainda não lí, e rimos dos comentários sobre a obra que já espicaçavam a vida portuguesa.

Igreja nega comunhão a deputados que aprovarem o aborto

Espanha:
Os deputados espanhóis que votarem a favor do projeto de lei do aborto “não poderão comungar”. A informação foi divulgada nesta quarta (11) pelo secretário-geral da Conferência Episcopal Espanhola, Juan Antonio Martinez Camino. Segundo ele, os parlamentares que apoiarem a iniciativa “estarão objetivamente no pecado”. O projeto de lei socialista, que é examinado no parlamento, contempla a possibilidade de abortar livremente com até 14 semanas de gestação. De acordo com a proposta, menores de 16 e 17 anos poderão abortar sem o consentimento nem informação prévia dos pais. O projeto, aprovado no dia 26 de setembro pelo governo, está sendo debatido no Parlamento e é inspirado na legislação em vigor na maior parte dos países da União Europeia.

STF retoma julgamento de terrorista

O julgamento do caso Battisti deverá ser retomado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta (12). O pedido de extradição foi feito ao Brasil pelo governo italiano, com base em quatro crimes que teriam sido cometidos por Battisti entre os anos de 1977 e 1979 – quando ele integraria o movimento Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) – e que levaram à sua condenação pela justiça daquele país, à pena de prisão perpétua. Foram reservadas 30 cadeiras no Plenário da Corte para os jornalistas, a serem ocupadas por ordem de chegada, no dia do julgamento, entre os credenciados. As empresas de comunicação que realizarão a cobertura do julgamento solicitaram o credenciamento por escrito, em papel timbrado. O julgamento será iniciado às 14hs.

20 anos sem muro

De volta à Rua Yunosti*
Em 1969, com 20 anos, em plena ditadura militar, saí de Aracaju escondendo o paradeiro até mesmo da família e fui, acredite, para a antiga União Soviética, onde vivi durante 15 meses com a identidade falsa de Ivan Nogueira. Lá, enviado pelo PCB, estudei o ABC do marxismo-leninismo na escola internacional do Komsomol, organização juvenil do PCUS. Eu era então, como se diz em Frei Paulo, um tabaréu nordestino, monoglota, esquelético, carregando esquistossomose na barriga e estava sendo apresentado na viagem ao adorável mundo novo do avião, do bife à milanesa e da neve — não necessariamente nesta ordem.

Passados 40 anos, semana passada, fui rever Moscou. Haja emoção. Consegui localizar o lugar onde funcionou a minha escola. Hoje, lá existe o Instituto da Juventude, uma instituição de ensino superior especializada em administração pública e gerenciamento de empresas. Ou seja, a escola, que no passado formava jovens quadros para o comunismo, agora forma quadros para o capitalismo. Mas o prédio onde nós morávamos, chamado de Corpus B, está lá intacto. O endereço é Rua Yunosti, 5/1. Em russo, Yunosti quer dizer juventude.

Do dia que andei de avião pela primeira vez para cá, a Rússia sepultou a ditadura comunista e implantou uma economia de mercado. Isto não é pouco. Mas, ainda assim, eu esperava reencontrar um país muito mais mudado. É verdade que não podemos esperar em anos muitas transformações num país que, em 17 séculos, construiu uma rica história e uma forte identidade cultural própria. Vista por um visitante de uma semana, acho que na Rússia a tradição tem falado mais alto.

O país, cujo despotismo tem uma longa história que vem da época dos czares, carrega até hoje um viés autoritário. Na semana em que estive lá, ocorreram várias denúncias, de setores independentes, de fraudes nas eleições locais, vencidas com folga pela coligação governista Rússia Unida - que lembra um pouco, pelo tamanho agigantado e pelas ideias insossas, a nossa Arena da época dos generais.

A Rússia de Vladimir Putin procura incensar o orgulho nacional e o projeto de potência autônoma - dois postulados fortes do período comunista que foram abalados pela acachapante derrota do Leste no confronto o com o Oeste. O país tem, naturalmente, saudade de algumas conquistas do antigo regime, como a corrida espacial, por exemplo.

Acho, um pouco por isso, que os russos ainda não chegaram a um consenso sobre como lidar com o passado mais recente. A prova desta indecisão é que o corpo de Lenin continua lá no mausoléu da Praça Vermelha com o apoio, segundo pesquisa do Centro Analítico Yury Levada, feita em 2005, de quase metade da população.

Além disso, nem todas as estátuas de Lenin e Marx foram retiradas das praças. Aliás, o careca russo e o barbudo alemão viraram objeto de consumo capitalista. Nos arredores da Praça Vermelha, atores fantasiados de Lenin, e até mesmo Stalin, ganham uns trocados em rublos para tirar fotos ao lado dos turistas. No calçadão da Rua Arbat, um ponto de gente bonita e divertida de Moscou, o comércio de suvenires exibe ao lado das matrioskas, as bonecas que se encaixam umas dentro das outras, objetos como camisas, cartazes e broches dos tempos do comunismo.

No mais, a parte central e histórica de Moscou continua preservada, imponente e grandiosa. O metrô, com suas lindas estações, é o mesmo da época soviética. De novo na cidade, os engarrafamentos provocados pela grande quantidade de carros — muitos dos quais, modelos caros e luxuosos de uma elite emergente que, como alguns novos ricos da Barra da Tijuca, no Rio, adora exibir sinais exteriores de riqueza. (Aliás, a falta de estacionamentos faz os carros ocuparem as calçadas, e o colunista pensar em abrir uma franquia em Moscou do MSC da R — Movimento dos Sem Calçada da Rússia).

Há ainda outros sinais de, como o freguês queira chamar, ocidentalização ou globalização. No Gun, um enorme shopping em frente à Praça Vermelha, estão fincadas lojas das principais grifes da Europa e dos EUA. Em uma delas, o colunista, até então aceitando resignadamente as mudanças, perdeu a paciência com a exibição na vitrine de ornamentos da festa Halloween. Como diria um russo: "Halloween é o rui."

* Artigo de Ancelmo Gois publicado na edição de papel do GLOBO de hoje.

Penso eu: "rui" em russo é aquilo mesmo que ce tá pensando.