Enviado por Marcos Cavalcanti -
"É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida"... (Abraham Lincoln)
O
Brasil acordou diferente. Milhões de brasileiros estiveram nas ruas
ontem de uma forma inédita: sem bandeiras e faixas partidárias. Dezenas
de milhares de pessoas fizeram com as próprias mãos os seus cartazes e
os recados eram muito claros: "NENHUM PARTIDO NOS REPRESENTA"; a
"CORRUPÇÂO É INTOLERÀVEL", queremos educação, saude e transporte de
qualidade (com padrão FIFA...).
Participei do início da
manifestação do Rio e vi quando uma centena de militantes do PSTU, PCB e
PCdo B chegaram com suas bandeiras. A reação imediata dos jovens foi
vaiar e gritar: queremos esta manifestação "SEM PARTIDOS"!
Muita gente está vendo neste tipo de reação uma ameaça à liberdade e à democracia.
Eu
vejo de outra forma. Esta tsunami contra os partidos é a constatação
da falência deste tipo de organização. Nada de novo. Os sindicatos já
tinham sofrido este esvaziamento na década passada. Agora é a vez dos
partidos. Como nos alerta Giannotti (no post que publiquei ontem neste
blog): "Os jovens já têm demonstrado suas opções por outras formas de
vida, o que demanda novas formas de politização. Pouco lhes interessa o
ritual das eleições em que se diz o que todo o mundo já está cansado de
dizer". Os partidos políticos (e os sindicatos) são instituições
falidas. Precisamos construir outras.
Detalhe: as bandeiras não
foram proibidas. Foram vaiadas! O recado é claro: estamos cansados de
TODOS OS PARTIDOS! VOCÊS NÂO NOS REPRESENTAM. Nesta noite não foram
apenas os políticos do PT, PMDB, PSDB e DEM que não dormiram direito.
Fico imaginado o que o pessoal do PSTU, PSOL e PCdoB deve estar pensando
desta experiência inédita de terem sido vaiados e rechaçados pela
"massa". Uma "massa", ao contrario do discurso de vários amigos "de
esquerda", que não era "desorganizada e sem rumo". São um grupo
organizado de forma autônoma, em rede, sem lideranças e centralismo
democrático... Organizados de outra forma. Só isso.
Outros amigos
estranham o silêncio da Presidente Dilma, do Cabral, do Paes, do
Haddad... Eu não. É o silêncio dos que não têm nada a dizer. Ou dos que
ainda não entenderam o que está acontecendo.
Enganam-se também
aqueles que acham que estamos vivendo um movimento anárquico. Confundem a
organização em rede, sem centro, sem liderança formal, com a anarquia. A
rede possui uma governança distribuída, que se auto-governa. A anarquia
é a rejeição de qualquer tipo de governança. Chamar o movimento atual
de anárquico é continuar raciocinando com o mesmo modelo mental que nos
impede de entender a mudança em curso.
O convite que estes jovens
estão nos fazendo me parece muito claro. Precisamos de novas ideias,
porque como diria o Barão de Itararé, "não é triste mudar de ideias.
Triste é não ter ideias para mudar"!