Mobilização vai homenagear os servidores que sucumbiram a crises de depressão e demais problemas psíquicos
Os
policiais federais do Rio de Janeiro fazem nova manifestação pública
nesta terça-feira, dia 23, durante a visita do Papa Francisco, na
Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Eles vão se concentrar a partir das
10 horas, em frente à sede da Superintendência Regional (SR), na Praça
Mauá. Desta vez, o protesto chamará atenção para denúncias de assédio
moral na corporação e o alto índice de doenças e problemas emocionais
que acometem agentes, papiloscopistas e escrivães, muitos, inclusive,
vítimas de suicídio.
Em
trajes de cor preta simbolizando o luto, os servidores da ativa,
aposentados, pensionistas e familiares de policiais federais estarão
expondo faixas alusivas e uma cruz em tamanho natural, além de
carregarem cruzes nas mãos. Será aberta a fala aos representantes de
classe e, em seguida, aos participantes. Encerradas as falas, haverá um
momento de oração, com Pai Nosso e Ave Maria, em homenagem aos mortos.
Haverá o toque de corneta militar de funeral. Para finalizar, serão
soltos balões brancos e amarelos (as cores do Papa).
"A
manifestação levará à população o sentimento de luto da categoria pela
morte de vários colegas que, infelizmente, sucumbiram diante da falta de
políticas sociais por parte da administração do DPF e em decorrência do
já alardeado assédio moral que persiste sem que medidas administrativas
mais efetivas sejam adotadas para a solução do problema", diz a
Comissão de Mobilização, em nota oficial.
A
manifestação pacífica foi acordada em Assembleia Geral Extraordinária
(AGE) realizada no último dia 17, pelo Conselho de Representantes da
Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), que decidiu pela
continuidade da agenda de mobilizações pela democratização da PF. Os
dirigentes sindicais entendem que o ato durante a visita papal não
deverá envolver aspectos políticos, em respeito à religiosidade e à
população, em observância aos princípios éticos que sempre fundamentaram
a atuação sindical da Fenapef.
Os
federais do Rio de Janeiro já haviam realizado manifestações dias 28 de
junho e 10 de julho - neste último, caminharam até a Igreja da
Candelária, onde iniciaram a coleta de assinaturas para um documento que
pede a inclusão da Segurança Pública na pauta do pacto nacional
proposto pela presidente Dilma Rousseff entre União, estados e
municípios. No último dia 16, cerca de 40 policiais do Rio também se
juntaram a mais de 500 colegas para a marcha em Brasília que marcou a
instalação da Frente Parlamentar pela Reestruturação da Polícia Federal,
na Câmara dos Deputados.
Pesquisa revela Polícia Federal doente
Valéria
Manhães, presidente do Sindicato dos Servidores do Departamento de
Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro (SSDPF/RJ), ressalta que, de
1997 até hoje, pelo menos 15 casos de suicídio foram registrados.
Enquanto se vê aumentar o número de pessoas que sofrem com doenças como
estresse, ansiedade, depressão e ideações suicidas, existe apenas um
psicólogo para atender a mais de 700 servidores somente na sede da
Superintendência Regional. O alerta foi lançado no início do ano, na
sede do Sindicato, na abertura de uma série de encontros para discutir o
projeto de prevenção ao estresse e outras doenças psicossociais que
acometem os servidores do DPF no estado.
Recentemente,
pesquisa inédita realizada pela Fenapef mostrou que, dos 2.360
policiais federais entrevistados, 69,03% entendem que o ambiente de
trabalho prejudica a saúde - 30,30% responderam que, por causa da
atividade, se submetem ou já se submeteram a tratamento psicológico ou
psiquiátrico. Ao todo, 86,53% responderam que não estão bem no trabalho.
Apenas 13,47% se dizem satisfeitos. Esse contingente representa cerca
de 20% de todo o efetivo da PF.
Um
universo de 97,84% dos entrevistados alegou que não lhes são conferidas
as mesmas oportunidades de crescimento profissional, enquanto 90,76%
informaram que se consideram "subaproveitados" e 76,23% não são
motivados. O critério político também permeia a escolha dos que ocupam
postos de chefia. É o que opinaram 75,64% - apenas 24,36% acreditam que
as indicações obedecem quesitos de mérito ou competência.
A
pesquisa mostra que 68,2% deixariam a PF para atuar em outro órgão
federal, desde que "com a mesma remuneração e regime jurídico" e 77,92%
não recomendariam a carreira para um amigo ou parente. A maioria
(99,28%) afirma que os dirigentes da instituição "não atuam na defesa e
na valorização de todos os cargos de forma isonômica".
"O
resultado é surpreendente e se revela como sintoma de gestão que
privilegia os cargos de delegado e perito, enquanto segrega as demais
categorias dos cargos de chefia e das oportunidades de crescimento
profissional", afirma a Fenapef, que se revela preocupada com "os
alarmantes índices" de doenças psíquicas, desmotivação e até suicídios.
A
consulta ocorreu entre 6 e 11 de julho e alcançou a base de
sindicalizados. Eles se manifestaram por meio de mensagens eletrônicas
individualizadas, respondendo ao questionário, em 10 itens. O mapeamento
será levado ao Ministério do Planejamento e ao da Justiça e à
Organização Internacional do trabalho (OIT). (Fonte: O Estado de S. Paulo, com Agência Fenapef e Redação)