Estudantes voltam às ruas em manifestação
Milhares de pessoas foram às ruas do Benfica, na tarde de ontem (30),
em manifestação contra a proposta de reforma da Previdência e o
contingenciamento anunciado pelo governo para as universidades públicas
federais no Brasil. Segundo organizadores, a multidão, formada
majoritariamente por estudantes e representantes de sindicatos e
centrais sindicais, somava 70 mil pessoas.
O grupo, que inicialmente se concentrou na Praça da Gentilândia, nas
proximidades do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará (IFCE), seguiu pela Avenida 13 de Maio e, após, pelas avenidas da
Universidade e Domingos Olímpio, caminhando em seguida para a Reitoria
da Universidade Federal do Ceará (UFC). Lá, houve programação cultural
com shows na Concha Acústica.
O ato, conforme as instituições organizadoras, funciona como uma
continuação ao realizado no último dia 15, motivado pelo mesmo
contingenciamento, e que havia reunido manifestantes em mais de 200
cidades brasileiras. Aparece, ainda, como contraponto aos atos de rua
realizados no último domingo (26) no Brasil inteiro, que manifestavam
apoio à reforma da Previdência e outras pautas da administração federal.
Ao longo da multidão, via-se diversas bandeiras e faixas com inscrições
de partidos como PT, PCdoB, Psol, PSTU e PCO. Várias faixas e palavras
de ordem pediam, ainda, a soltura do ex-presidente Luís Inácio Lula da
Silva, preso na superintendência da Polícia Federal (PF) de Curitiba
desde abril do ano passado.
Alguns dos dizeres nos cartazes e faixas levados pelos manifestantes
incluíam: “Não vai ter corte, vai ter luta”; “Por uma educação pública,
gratuita, crítica e de qualidade”; “Tem que morrer o fascismo no Brasil,
não vai sobrar nenhum fascista pra contar”; “Abaixo o capitalismo, pela
revolta proletária e o socialismo”; “Eu defendo o meu IFCE”; e “Kizomba
contra os cortes na educação”.
Os manifestantes chamavam, ainda, para uma greve geral que deverá ser
acionada pelos sindicatos para o dia 14 de junho. “Vamos parar o Brasil,
dizer ao governo ilegítimo que foi eleito graças ao fake news que não
tem legitimidade para aprovar a reforma da Previdência e retirar
direitos dos trabalhadores. Todos nós, estudantes e trabalhadores nas
ruas, vamos impedir essa votação”, conta Roberto Luque, representante da
Executiva da Central Única dos Trabalhadores do Ceará (CUT-CE).
Para Ana Jéssica do Nascimento, estudante do IFCE e representante do
Diretório Central dos Estudantes (DCE) da instituição, a movimentação
nas ruas de Fortaleza no dia de ontem foi tão intensa quanto a do dia
15. “Foi feita mobilização desde o dia [do último ato], fizemos passagem
em escolas, para além das universidades, mais de 100 escolas foram
mobilizadas só na Capital”, diz ela.
Segundo os sindicatos, foram realizadas manifestações na maioria dos
municípios cearenses, com atos em todas as regiões do Estado. Os atos
aconteceram em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, com
protestos programados em pelo menos 150 municípios até a data.
Água
Um grupo levantava bandeiras e faixas contra a privatização dos serviços
de água e esgoto no País. Jadson Sarto, presidente do Sindicato dos
Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado do Ceará
(Sindiágua), conta que a categoria decidiu apoiar a iniciativa dos
estudantes e professores, aproveitando, ainda, para levantar a própria
bandeira. “O governo federal está, através da Medida Provisória 868,
querendo privatizar a água com o argumento de que tem que acontecer a
universalização do saneamento. Porém, a 868 quer entregar para a
iniciativa privada somente regiões que são rentáveis, deixando as que
não têm recurso para se bancar sozinhas abandonadas”, conta ele.
“Isso acaba com o que tem hoje de social no saneamento básico, que é o
subsídio cruzao, e isso não vamos permitir e não vamos aceitar. Estamos
na rua mostrando para a sociedade que isso é ruim para ela”, continua,
mencionando que 265 cidades no mundo já reestatizaram os serviços de
saneamento após eles terem sido privatizados, nos anos 1980 e 1990. “Foi
comprovado que, nessas cidades, o principal prejuízo para a sociedade
foi o aumento da tarifa e a baixa qualidade do serviço prestado.”
Apresentações
Na Concha Acústica, localizada na Reitoria da UFC, artistas locais
fizeram shows, na parada final da manifestação da tarde. Apresentaram-se
Os Alfazemas, Maracatu Solar, Renegados, Pedro Falcão, Parahyba e Cia.
Bate Palmas, Getúlio Abelha, Fernando Catatau, Mandingueiros
Intergaláticos, Eugênio Leandro, Gustavo Portela, Fran Ddk, Calé
Alencar, Lídia Maria, Gildomar Marinho, Orlângelo (Dona Zefinha),
Roberta Kaya, Zé Rodrigues, Serrão de Castro, Carolina Rebouças Duas
Doses de Música, DJ Márcio Motor, DJ Lucas Moreira, Assun, Santos de Uma
Esquina e Bloco Di Favela.