Bancada do PT diverge sobre oposição a RC
Dois representantes eleitos do Partido dos Trabalhadores (PT)
para o próximo mandato na Câmara Municipal de Fortaleza divergem sobre a
posicionamento da legenda diante a gestão do prefeito reeleito Roberto
Cláudio (PDT). De um lado, Guilherme Sampaio frisa que não há argumentos
para modificar atual postura. Do outro, Acrísio Sena chama atenção para
o pleito de 2018. Mas, numa coisa os dois concordam: a legenda precisa
se reunir para um debate mais amplo e, assim, definir os rumos.
No primeiro mandato de RC, o PT de Fortaleza tirou uma resolução
afirmando sua oposição à gestão do Prefeito, entretanto, nos bastidores,
já se comenta a possibilidade de abertura de um diálogo com o prefeito
reeleito, em função da aproximação com o PDT, na luta contra o “golpe” e
do enfrentamento ao bloco conservador liderado, agora, no Ceará, pelos
senadores Tasso Jereissati (PSDB) e Eunício Oliveira (PMDB), que se
aliaram para apoiar o candidato derrotado à Prefeitura de Fortaleza,
Capitão Wagner (PR).
“Por enquanto, os pontos de vistas são individuais, embora não se
tenha uma posição oficial. Vislumbrando 2018, creio que PDT e PT
precisam redimensionar os rumos” pontuou Acrísio, lembrando que as
mesmas forças irão se enfrentar novamente nas próximas eleições e,
portanto, a sigla cumpre o papel estratégico na manutenção do governo
Camilo Santana. Acrísio defende a mudança do PT diante da gestão Roberto
Cláudio. Ele, inclusive, diz ter conversado recentemente com o
presidente municipal da sigla e deputado estadual, Elmano de Freitas,
que destacou, segundo Acrísio, a necessidade de reunir as instâncias do
partido e avaliar o resultado eleitoral e qual perspectiva deve ser
seguida futuramente. O encontro, entretanto, ainda não tem data
definida.
Já Guilherme Sampaio afirmou que, com a redução das forças de
esquerda, o PT precisará de uma “bancada atuante e crítica” e, por isso,
“não pode renunciar a esta missão”. Ele defende que a legenda se
mantenha na oposição a RC. “Não vejo nenhuma razão para que o PT
reavalie esta posição. Acho que o PT tem que qualificar sua intervenção e
posicionamento na Câmara. Agora, com uma bancada reduzida”, disse ele.
As palavras de Guilherme se assemelham à postura da deputada federal
Luizianne Lins. Luizianne foi candidata à Prefeitura de Fortaleza pelo
PT, mas não conseguiu ir para o segundo turno, ficando em terceiro
lugar. A petista, porém, tem afirmado esperar que o PT de Fortaleza
reafirme o projeto do partido. “Do ponto de vista municipal, eu espero
que o PT reafirme nosso projeto, que não é o que está posto e nem o que
surgiu como alternativa”.
O PT estadual, contudo, tem parceria com o PDT. O governador Camilo
Santana declarou apoio irrestrito à reeleição de Roberto Cláudio desde o
primeiro turno, apesar de o partido possuir candidatura própria. O
Governador, inclusive, costuma classificar RC como “o melhor prefeito da
História de Fortaleza”.
“Tranquilidade”
Mesmo com a possível oposição do PT, Roberto Cláudio terá tranquilidade
na Câmara Municipal. Isso porque, dos 43 vereadores eleitos, 32 compõem a
base de apoio do pedetista. Inclusive, o PDT elegeu a maior bancada em
Fortaleza, com oito parlamentares. As legendas, que fazem parte da
coligação de Roberto Cláudio, emplacaram 74% das vagas no Legislativo.
Já os partidos que encabeçaram aliança com o deputado estadual Capitão
Wagner (PR) elegeu oito vereadores. Em 2012, RC contava com, pelo menos,
nove parlamentares na oposição.
Aliado de Wagner, o vereador eleito Soldado Noelio (PR) afirmou que será
preciso sabedoria e independência para discutir e ter força para trazer
a população para as discussões, lembrando que a Câmara terá de votar
não para o prefeito, mas para as melhorias da cidade. O político disse,
ainda, que, independente do cenário eleitoral, exercerá sua função com
“independência” fiscalizando e propondo projetos que melhorem a vida da
população, dentro das promessas realizadas durante sua campanha
eleitoral. “Se fizer uma oposição responsável, e é isso que pretendo
fazer, vamos trabalhar para realizar os projetos para a cidade”, frisou
ele.
Já o atual líder do Governo, vereador Evaldo Lima (PCdoB), aposta na
continuidade do diálogo para manutenção da governabilidade. “O prefeito
tem uma característica com relação à instituição municipal, que é o
tratamento respeitoso e harmônico com a Casa Legislativa. Ao longo dos
últimos anos, Roberto Cláudio teve diálogo permanente. Este diálogo,
inclusive, ajudou o trabalho da liderança do governo”, frisou o
comunista.
“PT tentou ter hegemonia”, afirma ex-ministro Cid Gomes
O ex-governador Cid Gomes (PDT) declarou que um dos motivos para atual
rejeição do PT foi a adoção da “tese da hegemonização”. Isso porque os
resultados do segundo turno confirmaram o fracasso do PT nas eleições
municipais, com direito a derrotas significativas como em Santo André –
um de seus berços políticos – e em Recife, única capital onde disputava a
prefeitura no último domingo.
Gomes comentou ainda sobre a possibilidade de um apoio petista a uma
eventual candidatura presidencial de seu irmão, o ex-ministro Ciro Gomes
(PDT), em 2018. Cid, porém, afirmou que há integrantes do partido com
visão crítica a essa ideia. “Penso que há frações no PT que compreendem a
importância de oxigenar a estrutura do partido”, frisou ele.