"Ronda do Quarteirão é polícia de fantoches"



Presidente da Associação de Praças da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar do Ceará - Pedro Queiroz

Após caso Bruce, soldados afirmam que formação policial é ineficaz


Por Sara Oliveira
Da Redação do Jornal O Estado

“O Ronda do Quarteirão é pura polícia de fantoches”. A definição foi de um dos soldados do programa de segurança pública implementado pelo Governo do Estado. Os policiais, que não quiseram identificar-se, temendo represálias, conversaram com a equipe do Jornal O Estado e expuseram a precariedade na formação daqueles que deveriam estar preparados para defender o cidadão, com qualidade e eficácia. Segundo M.A. e S.O. (iniciais dos nomes fornecidos), o conceito de policiamento “vendido” para os cearenses está repleto de incoerência e instabilidade. “Eu, há três anos na corporação, não estou preparado para atirar”, garantiu M.A.
Após o assassinato do garoto Bruce Cristian de Sousa Oliveira, no último domingo (25), os soldados estão envergonhados e apreensivos com o futuro de uma das instituições mais importantes da sociedade: a Polícia. “Tudo começa com a falta de investigação sobre a vida dos policiais, de onde eles vêm e quais são suas condições psicológicas para trabalhar seis dias seguidos. Depois com uma formação de fachada, com pouco ou quase nenhum aprendizado sobre como atuar. Os erros seguem pela falta de acompanhamento do policial. Você troca tiro, vê corpo e corre o risco de morrer, e a única coisa que te perguntam é se você está pronto para a próxima ocorrência”, desabafou S.O.

TREINAMENTO: “É UM
FAZ DE CONTA”
Mesmo com o crescimento da criminalidade nos últimos anos, o tempo de preparação para que o soldado comece a atuar na rua diminuiu. M.A., formado há três anos, passou apenas três meses recebendo as instruções do curso preparatório. O colega de profissão, S.O., formado em 1994, recebeu oito meses de aprendizado. A similaridade entre os cursos só existe quando constatada, pelos dois profissionais, a falta de acompanhamento técnico e prático. “Depois daquele período, que supostamente dá condições para o policial trabalhar, não há mais nenhum tipo de treinamento. Aliás, nós recebemos, no lugar disso, aulas de etiqueta à mesa e relaxamento indiano”, declarou M.A. De acordo com ele, durante os seis meses, as aulas de tiro acontecem em apenas dois dias, onde eles têm um treinamento com apenas cerca de 150 disparos.

Segundo os soldados, as táticas de abordagem, principal estratégia para que a ação policial seja bem sucedida, não são treinadas de forma intensiva. “É com a prática de abordagens que aprendemos a executar uma entrada tática e trabalhar em equipe. Mas isso não acontece”, explicou M.A. Já segundo S.O., a falta de preparo continua ao longo da vida militar. “Fiz curso para ser cabo e 50% da carga horária era inexistente. Não tinha instrutor e muito menos aula”, declarou. O psicológico também é um dos fatores que são ignorados pela equipe que monitora os policiais. “Existem até viciados em droga dentro da minha corporação”, disse S.O.

COTIDIANO
NA VIATURA
No dia em que Bruce morreu, na viatura onde estava Yuri Silveira, soldado suspeito pelo assassinato do garoto, só havia mais um soldado. “O motorista de uma viatura é 99% inoperante. Como ele vai ajudar alguém que está em uma ação de fogo cruzado, por exemplo?”, questionou S.O. De acordo com ele, as câmeras existentes dentro do carro funcionam, principalmente, para o monitoramento detalhista do fardamento usado pelos policiais. “Por várias vezes, o comandante liga dizendo que estamos sem a boina ou com a blusa desabotoada. Isso é ridículo”, falou M.A.
As funções dos policiais do Ronda, de acordo com as afirmações de M.A e S.O., generalizam o que, de fato, não contribui para a segurança da população. “Nós fazemos qualquer coisa, desde briga de vizinho ao trabalho ofensivo. Já fomos instruídos, inclusive, para cadastrar o números de vendedores de espetinhos nas áreas onde trabalhamos. E ainda tem meta de visitas às casas, parte do ‘disfarce’ [ironizou] do policiamento cidadão”, constatou S.O. “O governador vendeu um produto ao eleitor e efetivou outra coisa”, completou.

O presidente da Associação de Praças da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (Aspramace), Pedro Queiroz, retratou, através de sua experiência, a falta de preparação dos soldados. “Há 28 anos na Polícia Militar, conto nos dedos quantas aulas de tiro tive. A tentativa governamental de implantar um policiamento cidadão deveria estar atrelada à estrutura que cerca o cotidiano de um policial. Insistindo nos erros, a Polícia não age como deveria e os crimes aumentam. O aumento do uso de crack nos últimos quatro anos já é reflexo disso”, analisou.

FAÇO O QUE FOR NECESSÁRIO
O governador Cid Gomes continua consternado com o caso do jovem Bruce Cristian. Durante a visita feita ontem à central de digitalização dos processos do Judiciário Estadual (leia mais na página 13), o governador reiterou que acompanhará de perto as investigações e salientou que o Governo do Estado, através da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), vai fornecer toda assistência psicológica à família e oferecer o que for necessário para “atenuar” a dor dos parentes de Bruce.

Por outro lado, Cid não confirmou se prestará suas condolências pessoalmente aos familiares. Ele ressaltou que isso pode causar publicidade desnecessária e pretende apenas realizar atos que não ultrapassem o limite da prestação de solidariedade aos parentes da vítima. “Se eu, um dia, resolver fazer uma visita à família, farei da forma mais discreta possível e longe dos holofotes da imprensa. Será uma visita de pai para um pai que perdeu um filho, vitimado por um agente do governo”, revelou.

Sobre possíveis indenizações do Estado, o governador mostrou-se cauteloso nas afirmações e apenas informou que a STDS está “conversando” com a família de Bruce. “O que a família necessitar, o governo terá total sensibilidade e abertura para oferecer”, explicou Cid Gomes.

MORTE DE BRUCE
De acordo com o coronel da Polícia Militar (PM), Werisleyk Pontes Matias, comandante do Ronda do Quarteirão, “nada do que houve está associado à má formação” dos soldados do programa. O comandante afirmou que o ocorrido foi consequência individual do soldado suspeito pelo assassinato e que o mesmo terá a punição adequada. Ele ressaltou que todos os policiais formados a partir de 2007 não “deram menos do que 250 tiros” durante o treinamento. O porta voz da PM, Major Marcos Costa, foi procurado pela equipe do jornal O Estado, mas eles não atendeu às tentativas de ligação.

Lula demite presidente e diretor dos Correios


O substituto David José de Mattos já trabalhou com Roriz e Arruda
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu demitir o presidente dos Correios, Carlos Henrique Custódio, e o diretor de Recursos Humanos, Pedro Magalhães. As exonerações serão publicadas hoje, no “Diário Oficial da União”. Custódio será substituído por David José de Mattos, um técnico de Brasília.

Com isso, Lula espera estancar a crise que há meses atinge a empresa, que registrou no ano passado o menor lucro desde o início do governo, o que levou o Planalto a determinar uma intervenção branca nos Correios.

As demissões constam das recomendações dos ministros Erenice Guerra (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Planejamento), responsáveis pelo raio X na empresa, entregue nesta semana a Lula.

O nome do novo presidente foi definido pelo Palácio. O ministro José Artur Filardi (Comunicações), a quem os Correios é subordinado, foi apenas comunicado da decisão, assim como a cúpula do PMDB.

Novo presidente
Convidado pelo Palácio do Planalto a assumir a presidência dos Correios, David José de Matos já trabalhou nos governos de Joaquim Roriz (PSC) e José Roberto Arruda (sem partido) e foi mantido no governo mesmo após a crise do mensalão do DEM.
Engenheiro de carreira, ele é o atual secretário-geral da Novacap, estatal do DF responsável pelas licitações de obras, cargo que ocupa desde janeiro de 2009.

Ligado ao PMDB do deputado federal Tadeu Filippeli (DF), Matos foi o único mantido na Novacap pelo novo governador do DF, Rogério Rosso (PMDB), que demitiu os demais dirigentes indicados por Filippeli. Rosso substituiu Arruda no governo após este último ter se envolvido em escândalo de corrupção e perdido o cargo.

A reportagem apurou que Matos está reticente em aceitar o convite do governo para substituir Carlos Henrique Custódio, demitido da presidência dos Correios por não conseguir contornar a crise de gestão que atinge a estatal.
Matos tem avaliado que o cargo é muito visado. Ele só vai decidir após conversar com a família.

Penso eu - Se trabalhou com Roriz e Arruda é desenrolado.

Cid Gomes pode sair da campanha


Segundo o advogado Paulo Goyás, o Governador do Estado, Cid Gomes, poderá ser afastado da campanha à reeleição a qualquer momento. Basta que a Justiça Eleitoral conclua o processo que corre contra ele, por abuso do poder economico, na eleição passada. A pergunta e a resposta de Paulo Goyás não deixam dúvidas:


- Qual será a maior fonte de conflitos judiciais entre os candidatos na eleição deste ano?
– No primeiro momento será o problema da “Ficha Limpa”. Os candidatos que tiveram ações declaradas de abuso de poder econômico - o próprio governador está sujeito a ser declarado inelegível, porque ele ainda tem uma ação em tramitação, que não foi julgada ainda, sobre abuso de poder econômico. Se eventualmente o TRE declarar, ele está afastado da campanha.

Entrevista Especial (Direito&Justiça)


"Estamos caminhando para a ditadura do Poder Judiciário"


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A crescente intromissão de juízes em matérias de caráter político e eleitoral está levando o Brasil a uma “ditadura do Poder Judiciário”. É a avaliação do advogado Paulo Goyaz, especialista em direito eleitoral e administrativo.


Dono de extenso currículo, já tendo prestado serviços de advocacia e consultoria para políticos como José Roberto Arruda, Joaquim Roriz, Marco Maciel, Gim Argello, Pedro Henry, João Pizzolatti e José Sarney, além de partidos diversos, Goyaz está no Ceará para trabalhar na campanha de Lúcio Alcântara (PR) ao Governo do Estado.

Direito e Justiça – Como o senhor avalia a chamada mini-reforma eleitoral, aprovada no ano passado?
Paulo Goyaz – Parece-me que o objetivo maior da reforma foi dar maior lisura ao pleito. Para algumas mudanças nós temos críticas e para outras nós temos elogios. Por exemplo: uma das mudanças que elogiamos é aquela em que os partidos políticos passaram a ter direito de realizar campanha, porque a lei faz uma contradição. A lei estabelece que a partir do dia 6 de julho todos os candidatos têm direito a realizar propaganda. No entanto, na fase administrativa, o candidato entra com um pedido de registro no dia 5; eles têm oito dias para fazer o CNPJ do candidato e mais três para o banco abrir a conta. Isso dá 11 dias. E mais o tempo do partido fazer o recibo. Então, por algo em torno de 15 dias, o candidato não pode fazer campanha. E isso é uma limitação da regra geral que permite a propaganda.
No dia 05 passado vi num jornal que o Ministério Público está criticando um candidato que foi visitar uma feira. Ora, desde quando é proibido um candidato visitar uma feira? Candidato tem que estar no meio do povo, pedindo voto, conversando com o povo, esse é o espírito da lei. O espírito da lei não é engessar o candidato e deixá-lo de mãos atadas. O espírito da lei é que o candidato faça a campanha a mais barata possível para que no futuro muito próximo as campanhas sejam feitas com dinheiro público. Esse é o objetivo da norma, é um ponto que achamos salutar.
Por outro lado, como foi uma mini-reforma feita às pressas. Ela tem contradições em alguns pontos. Por exemplo, no tocante a imóveis, pintura de muros, realização de comitês. A primeira parte da norma diz que constitui gasto de campanha o aluguel de imóvel particular para fins de propaganda eleitoral. A nova lei veio e disse o quê? Que não se pode pagar para fazer propaganda em propriedade particular. Então, há um confronto das duas normas. O candidato vai seguir qual? A lei posterior, a lei anterior?

DE – O TRE proíbe pintura ou placa, em muro, que excedam quatro metros quadrados. O tribunal também proíbe o dono do imóvel de cobrar pelo espaço de propaganda.
PG – O dono do imóvel pode alugar, mas não pode cobrar. Uma norma diz que ele pode alugar; outra norma diz que ele não pode cobrar.

OD – Como é que alguém aluga sem cobrar?
PG –(risos) É isso que nós vamos perguntar para o TSE, que não respondeu.

OD – A lei diz que o dono do imóvel pode fazer propaganda de forma espontânea e gratuita. Mas, se o imóvel é meu e eu quero vender o espaço para um candidato, por que eu não posso ?
PG – Veja bem. O legislador, quando trabalha às pressas, comete equívocos. Existem duas propagandas básicas em residências. Uma é a pintura no muro, uma das propagandas mais baratas que existem. Esse muro pintado custo muito pouco para o candidato. É a mídia mais barata que existe e a mais eficaz. A limitação em 4m2 é para evitar o abuso do poder econômico, que alguém pegue um grande muro em alguma avenida interessante e coloque uma propaganda gigante. O candidato vai poder usar este muro, mas dividindo a propaganda em placas de 4m2.

OE – O senhor não acha que o TSE já está entrando até na propriedade privada, e também na livre negociação, inclusive na imprensa? Porque agora foi limitado o número e a dimensão dos anúncios, e os jornais são obrigados a informarem o valor do anúncio. E a livre negociação, como fica?
PG – Naturalmente, o que a Justiça Eleitoral quer é evitar os excessos, mas, para evitar os excessos, a Justiça começa a entrar em outros campos que não são dela. A verdade é que os jornais já têm limitações, porque eles têm isenção do tributo sobre o papel, o que não ocorre com as revistas. As revistas podem fazer matérias sobre um candidato apenas. Os jornais não podem. Eles têm que dar tratamento igualitário para os candidatos.

OE – Há candidatos que se queixam de propaganda subliminar na imprensa.
PG – É muito relativo interpretar o que é propaganda subliminar. Assinei uma representação contra o candidato à reeleição [governador Cid Gomes] em função das propagandas sobre a cidade de Sobral que estão sendo veiculadas nos jornais. Está sendo dada quase uma página de jornal para a Prefeitura de Sobral. Entendi que ali tem propaganda subliminar e estou submetendo à apreciação da Justiça para saber se é ou não propaganda subliminar. Porque não é normal, em periodo eleitoral, que uma prefeitura do Interior passe a publicar, em todos os órgãos de imprensa do Estado, matéria vinculando sua divulgação, se levarmos em conta que o governador e candidato à reeleição foi prefeito de Sobral e que o prefeito atual é da linha sucessória dele. Então é questão de bom senso. Ninguém quer tirar a propaganda, mas que a propaganda também seja limitada e não seja tão ostensiva.

OE – E a propaganda na internet, que foi o grande debate, como ficou? Está liberada sem restrições?
PG – A propaganda na internet está proibida nos sites comerciais. Os candidatos podem pôr os sites deles, os blogs, os e-mails próprios, os e-mails dos partidos. Eles só precisam comunicar à Justiça Eleitoral quais são os sites e blogs que eles utilizam. Isso por quê? Para evitar os atentados. Porque a internet é utilizada mais para a propaganda negativa do que para a positiva, por ora. A tendência é mudar, a internet vai passar a ser um instrumento de propaganda positiva. O candidato tem “n” formas de fazer propaganda na internet. Eu considero o e-mail uma das formas mais eficazes de propaganda. O candidato pode substituir a perda de tempo no horário gratuito através do e-mail, assim como eu posso utilizar o e-mail para fazer propaganda negativa, só que não é recomendado que o candidato faça propaganda negativa, ele tem que fazer propaganda propositiva dele. Aí surge o problema. Porque se alguém acessa através de um site, principalmente do Oriente, o que acontece? Lá não se tem uma fiscalização. Se o candidato tiver um acesso por lá, ele manda uma propaganda negativa e não tem como rastrear.

OE – E quem não é candidato, pode abrir um site?
PG – Pode, mas se o site tiver uma caracteristica política e tiver alguma forma de receita, aí não pode. Aí a pessoa vai ter que dar tratamento isonômico.
Eu vejo a internet como um instumento que deveria ser livre, inclusive para as críticas, porque essa é uma forma de comunicação moderna. O e-mail, hoje, está presente em praticamente todas as comunidades. O cara pode não ter computador em casa, mas ele tem e-mail, ele acessa da lan house, da casa do amigo, do trabalho. O e-mail está virando um instrumento de comunicação em massa.

OE - A consulta feita pelo PPS ao TSE. Essa resolução não tem caráter vinculante.
PG – Em princípio, nenhuma resolução do TSE tem carater vinculante, mas ela é um indicativo no sentido do que a Corte vai julgar. Em relação a essa decisão, acho que o TSE não analisou com a calma que deveria. O TSE viu com profundidade a matéria e os efeitos e conseqüências dela. Se a lei permite a coligação do partido A com o partido B e com o partido C em nível nacional, e permite que os partidos A, B e C coliguem com outros partidos fora, a lei não pode proibir a utilização do horário gratuito. Quando muito eles podem estabelecer, por exemplo: se o partido A tem 15 segundos, o candidato dele só pode entrar 15 segundos. Se o partido B coligado tem 30 segundos, pode usar os 30 segundos deles. Agora, quando os partidos se coligam, com candidatos diferentes à Presidência, a tendência é retirar o candidato a presidente da propaganda. Essa é a conseqüência natural. Isso já aconteceu no passado. Se olharmos as eleições passadas para presidente, era comum que candidatos a governador não tivessem propaganda no horário gratuito de candidato a presidente em função das coligações. Acho que o TSE vai voltar atrás.

DJ– A resolução do TSE não seria um contra-senso? O Tribunal havia acabado com a verticalização e, agora, com essa resolução, (...).
PG –Fiz uma sustentação oral , no Tribunal Regional Eleitoral em Brasília. O assunto era infidelidade partidária. Abri a sustentação dizendo o seguinte: na minha vida, nunca votei para um juiz ser juiz, não admito, no regime da República Federativa do Brasil, que um juiz seja legislador. Se o juiz quiser ser legislador, ele dispute uma eleição, ganhe uma eleição e vá legislar. Porque a função do Judiciário é analisar e interpretar as leis, e não criar as leis. Cabe ao Poder judiciário interpretar o que está escrito, mas jamais baixar normas e regulamentar o que não está na lei. Acho que essa competência o Poder Judiciário não tem. Sou um critico do Judiciário atual em função disso.

DJ– O senhor acha que o Poder Judiciário atual está entrando na seara do Legislativo?
PG – Com certeza e ainda vou mais longe. No meu sentimento, nós estamos vivendo e colocando o país em uma ditadura do Poder Judiciário, porque cabe ao Poder Judiciário, agora, dizer quem pode ser candidato ou não em um futuro muito próximo. E acho que isso não é bom para o povo. “Ah, mas aquele determinado candidato é ficha-suja”. Mas o povo vota nele, e se nós olharmos onde os candidatos “ficha-suja” têm votos, nós teremos uma surpresa, porque eles têm mais votos na classe média e na classe alta do que na classe popular, se olharmos os percentuais. Com raríssimas exceções.
Então, se o povo acha que aquele político comete deslizes, mas é capaz de representá-lo, não cabe aos iluminados, só porque têm um diploma e são juízes, dizer que o povo não tem o direito de escolher esses candidatos. A norma mostra o que torna um candidato inelegível. Então essa regra não pode ser mudada dentro do processo eleitoral. A filiação partidária terminou em 3 de outubro. Os partidos compuseram sua nova base partidária em função do que havia na legislação. Foram surpreendidos, na última hora, por uma nova norma que estabelece que muita gente não era inelegível passou a ser inelegível. Houve uma mudança da regra do jogo no ano eleitoral, e isso é altamente pernicioso. No momento em que nós começarmos a abrir e permitir isso, estamos colocando na mão de sete homens do TSE e 11 do Supremo Tribunal Federal, na verdade sete mais oito. Quinze homens vão estar decidindo o futuro do país em termos políticos, quem pode ou não pode concorrer, e me parece que não é esse o objetivo da Constituição de 88, ela manteve o sistema federativo com autonomia dos três poderes.
Usam aquela a desculpa: “Ah, mas o Legislativo está corrompido”. A mídia tem trabalhado muito em cima disso. Tudo bem, o Legislativo pode estar corrompido. Mas será que o Judiciário não está corrompido? Será que o Executivo não está corrompido? Por que só o Legislativo?

DJ– Mas o Judiciário alega que está entrando na seara do Legislativo porque existiria uma brecha para tanto.
PG – Mas não está previsto na Constituição esse direito deles. O Poder Judiciário não pode substituir o Congresso Nacional, porque senão os juízes passam a ser políticos, e eu não quero ser julgado por um político, eu quero ser julgado por um juiz de ofício, com capacidade técnica e isenção para julgar qualquer pessoa. Eu vejo que há essa extrapolação.

OD – O senhor acha que, nesse caso específico do projeto “Ficha Limpa”, o TSE falhou ao se deixar influenciar pelo clamor popular?
PG – O problema é saber o que é clamor popular e o que é clamor da mídia. No meu sentimento, a mídia trava uma disputa muito grande com os políticos para saber quem reflete a opinião pública. E nessa briga dos dois, o Judiciário acaba sendo influenciado mais pela mídia. Vou dar um bom exemplo: a crise política que houve em Brasília, As denúncias do governador José Roberto Arruda.. O governador foi preso quando ainda detinha 25% dos votos do eleitorado do Distrito Federal. Por que isso? Porque a opinião pública que refletiu as decisões contra o governador era a da mídia, e não a opinião pública do povo de Brasília. As manifestações que ocorreram em Brasília nunca passaram de mil pessoas e eram sempre as mesmas pessoas.
Uma coisa é a opinião pública da mídia, do jornalista, do dono do jornal, da TV. Outra coisa é o sentimento da grande maioria da população. Então, quem detém esse controle? É o político ou o meio de comunicação? Nessa briga entre os políticos e os meios de comunicação, a influência dos meios de comunicação junto ao Judiciário acaba sendo maior que a do povo, porque o povo, normalmente, é uma maioria silenciosa.

OD – O senhor acha que o Judiciário está julgando sob pressão da mídia?
PG – Com certeza. O Judiciário está agindo emocionalmente em função do clamor popular. A ministra Carmen Lúcia, no voto dela que aprovou o “Ficha Limpa”, foi muito clara nesse sentido, de que o clamor popular para aprovar a lei gerava a obrigação de a lei entrar em vigor imediato. Agora, qual clamor popular? Um milhão de brasileiros que assinaram? Será que, desse um milhão, todos sabiam o que estavam assinando? Será que os 199 milhões de brasileiros restantes era a favor? São coisas que a gente deve analisar com calma.
No caso da lei do “Ficha Limpa”, o Congresso deveria ter parado, adotado a lei, mas estendendo-a para o Poder Judiciário, o Poder Executivo e para o quarto poder, que é o Ministério Público. Eu acho muito mais grave um juiz denunciado de corrupção continuar julgando do que um político denunciado de corrupção continuar atuando como político. Se é para moralizar o Brasil, se é para ter “ficha limpa”, tem que moralizar todos os segmentos dos quatro poderes.

OD- Qual será a maior fonte de conflitos judiciais entre os candidatos na eleição deste ano?
PG – No primeiro momento será o problema da “Ficha Limpa”. Os candidatos que tiveram ações declaradas de abuso de poder econômico - o próprio governador está sujeito a ser declarado inelegível, porque ele ainda tem uma ação em tramitação, que não foi julgada ainda, sobre abuso de poder econômico. Se eventualmente o TRE declarar, ele está afastado da campanha.

Penso eu - Não é de hoje que este blog e a coluna de papel do Jornal O Estado, criticam o comportamento dos políticos que permitiram que a Justiça cada vez nais se intrometesse no mundo da política. Faz anos falamos disso aqui e com os políticos com quem lidamos no dia-a-dia de nosso mister. Eles nunca tem respostas que agora aí acima o advogado Paulo Goiás oferece.

Primeira página do Jornal O Estado


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Coluna do blog



Sem privilégios exclusivos

O Brasil não é um país com privilégios exclusivos de corrupção e sacanagens. Não é só aqui que bombeiros roubam roupa velha e leite dos corpos e bocas de criancinhas de Alagoas. Não é só aqui que polícia mata inocentes no meio da rua, mesmo que estes estejam ajudando o pai no trabalho. Não é exclusividade nossa que narcotraficicantes e bandidos de toda ordem rodeiem os gabinetes oficiais, quando não estejam aboletados nos próprios. Não, não é só no Brasil que juiz mete a mão. Longe de nós, brasileiros, a exclusividade do tráfico descarado de influência e a aplicação diária da lei da vantagem ou do famoso QI, de quem indica. Outro dia, nos Estados Unidos, vi que isso ocorre lá, também. Na França, o Sarkozy anda enrolado em papel de seda dos cosméticos e, como aqui, a Polícia procura aviões que se escondem em pistas e hangares que correm riscos de serem usados pra coisas imorais nas fronteiras de Bolívia, Venezuela, por acolá. O que se ouve soa a escândalo, como a venda de emendas de bancada de deputados que já, já chegarão aos plenários. O que pouco se conhece, como da compra de aeronaves desnecessárias por milhões de dólares, não é privilégio brasileiro. Teve um carinha aí que comprou um avião pra servir ao governo sem sequer ter aviador pra botar o bicho pra voar. Somos, por fim, um país sem privilégios exclusivos, mas com tantos outros, comuns ao banditismo, que nos faz pensar... se isto vai dar certo a vida inteira.


“Só quem tem um romance com a própria história pode amar a história dos outros.” Conceito de amor ao próximo.

Vitória

Agenor Neto pescou pra Iguatu uma vara da Justiça Federal. O presidente do Fórum Federal, José Parente Pinheiro, foi lá abençoar a conquista.


• Vem Ibope aí.
Nosso querido Edilmar Norões anuncia na Verdinha que nos próximos dias teremos Ibobe. Vai ser o tira-teima de Folha versus Vox, diz Norões.

• Adversário fala.
O mesmo Ronda que elegeu Cid é o mesmo que põe em risco sua reeleição, diz um adversário do tipo que não larga do pé.

• Aliás...
Segunda-feira à tardinha, o governador foi a Brasília. Quem o viu saindo para viajar anotou o cenho franzido e a cara de poucos amigos.

• Tão bulindo.
Tem super- mercado bulindo nos preços da água mineral. A água e outros produtos que o cidadão nem nota estão sendo majorados. Olho vivo!, já dizia Zé Rangel.

• À mesa, como convém.
O comando da campanha do PT marcou um encontro da candidata Dilma Rousseff com o ex-pré-candidato Ciro Gomes, hoje, em Brasília.

• Salada mista.
A ideia é que o almoço marque a retomada do diálogo entre Ciro e Dilma, depois que o PT e o PSB ...cê sabe. Apesar da encrenca, Dilma e Ciro sempre foram muito amigos.

• Contagem.
Ontem, sete e meia da manhã, no trajeto entre o Mucuripe e a Pontes Vieira, o locutor que vos fala contou 12 carros de prefeituras do interior. Delas, oito eram ambulâncias.

• Tomara que contem.
O novo livro do João Soares, neto, homenageia personalidades do Ceará. “Gente que Conta” é o título que deu às entrevistas que fez e enfeixou.

• Fala sério.
O comandante do Ronda disse que os seus, lá dele, policiais, têm treinamento de 90 horas/aula de uso de arma de fogo. E quatro meses pra passarem a pronto. Ah, bom.

• Sugesta.
Todo juiz ou promotor que cuide de crianças para adoção em orfanatos deveria passar um mês internado pra aprender o que é acordar de manhã e não ter um abraço. Dr. Sávio Bittencourt, promotor de Justiça.

• Por sinal...
Terça-feira, na Oboé, o lançamento de livros do promotor Sávio Bittencourt, promoção deste Jornal, O Estado, foi sucesso absoluto. Quanta gente quer saber de adoção!

• Sorteados.
Os municípios de Crateús, Pacujá e Beberibe foram sorteados para fiscalização da Controladoria-Geral da União. A CGU quer saber se os meninos tão gastando direitinho.

O sol da manhã


A paz da enseada do Mucuripe