Chico Alencar cobra afastamento de Cunha, que fica de costas para o líder do PSOL
Em sessão no
plenário da Câmara, no início da noite desta terça-feira, o líder do
PSOL, deputado Chico Alencar (RJ), cobrou, novamente, o afastamento
imediato do deputado Eduardo Cunha das funções de presidente da Câmara.
Chico Alencar repetiu o que havia dito na reunião de líderes horas antes
e onde foi única voz entre os demais líderes partidários.
“Em
qualquer Parlamento do mundo, em qualquer sociedade onde haja
instituições democráticas, inclusive de controle, funcionando, é
evidente que uma situação dessa mereceria de imediato um pronunciamento
do próprio denunciado, agora, que não é mais só investigado; em segundo
lugar, um afastamento da função até que tudo se esclarecesse. É isso que
estaríamos cobrando aqui”, afirmou Chico Alencar. “Em nome da dignidade
do Parlamento, e não só o PSOL como partido, mas dezenas de
Parlamentares querem uma postura, no mínimo, para enfrentar o problema
sob pena de estarmos aqui dando mais força à profunda crise de
credibilidade que existe em relação às instituições políticas
brasileiras”.
Enquanto o líder do PSOL discursava, Eduardo Cunha,
que presidia a sessão, permaneceu sentado, de costas para a tribuna onde
estava Chico Alencar.
Leia abaixo a íntegra do discurso:
“Normose
é uma doença psicológica que o terapeuta e filósofo francês Jean-Yves
Leloup e o brasileiro Roberto Crema definem como um comportamento
apático que gera sofrimento e produz um grande alheamento da realidade.
Eu,
infelizmente, constatei isso hoje na reunião do Colégio de Líderes e
vejo neste plenário até agora. Parece que ninguém foi informado aqui que
o Ministério Público Federal fez uma denúncia grave, robusta,
encaminhada a um inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal contra
aquele que me dá as costas, como de hábito — em geral, contra quem fala
algo que o incomode —, acusando, repito, com elementos muito robustos de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ora, em qualquer
Parlamento do mundo, em qualquer sociedade onde haja instituições
democráticas, inclusive de controle, funcionando, é evidente que uma
situação dessa mereceria de imediato um pronunciamento do próprio
denunciado, agora, que não é mais só investigado; em segundo lugar, um
afastamento da função até que tudo se esclarecesse.
É isso que
estaríamos cobrando aqui. Creio que há unanimidade, se algum Ministro de
Estado estivesse nessa condição de denunciado. E o faremos se isso
acontecer com essas investigações crescentes e profundas da Operação
Lava Jato, que parece não poupar quase ninguém.Alguém pode alegar:
mas e a presunção da inocência? Ora, a presunção da inocência está garantida, o que se tem que pensar é na dignidade do Parlamento.
Deixar
uma função não significa ser condenado a nada, nem reconhecimento de
culpa, é para se defender, e exige tempo e dedicação. E para não usar a
função, como já foi feito, inclusive acusando todos os Deputados de
terem seu sigilo violado, fazendo, até mesmo, o fechamento sobre as
investigações da Kroll, que custaram ao povo brasileiro mais de1 milhão
de reais para um trabalho pífio, que até já foi encerrado, mas lá,
Alberto Youssef e Júlio Camargo, não por acaso, dois denunciantes do
Presidente, foram devidamente perscrutados pela Kroll.
Isso é usar o cargo e a função na sua própria defesa. Isso é absolutamente equivocado.
Então,
em nome da dignidade do Parlamento, e não só o PSOL como partido, mas
dezenas de Parlamentares querem uma postura, no mínimo, para enfrentar o
problema sob pena de estarmos aqui dando mais força à profunda crise de
credibilidade que existe em relação às instituições políticas
brasileiras.
Quando se critica, e com razão, Parlamentares de um
partido ou de outro, o Governo da República, nós não podemos praticar a
ética seletiva, ou a moralidade pública de ocasião. Não dá para poupar
uns e atacar outros. É preciso ter coerência. É preciso ter
independência. É preciso ter preocupação com este Parlamento, que é algo
fundamental.
Nós temos mais de 80 páginas, sem contar, inclusive,
com os documentos anexos, dessa denúncia. Espero que, embora ninguém
tenha tocado neste assunto, as pessoas se deem ao trabalho de ler,
porque, de alguma maneira, atinge não apenas uma figura do Presidente,
mas o Parlamento como um todo.
Se nós nos envolvemos em tenebrosas
transações, se nós somos acusados de alianças e consórcio com fins
ilícitos para tirar vantagem, inclusive, derivada de um mandato
parlamentar muito precioso que todos recebemos — todos sabem quanto
custa fazer uma campanha com ideias e causas e não com dinheiro no bolso
—, nós, nessa omissão, poderemos estar nos comparando à
omertà,
que é uma expressão muito comum no sul da Itália e que revela
cumplicidade, acocoramento, silêncio negativo diante de uma situação
real que temos que enfrentar.
Dignidade, Sr. Presidente.”