Alemanha: Merkel confirma quarto mandato
O partido da chanceler alemã, Angela Merkel, teve uma vitória
agridoce nas eleições de domingo, marcadas pela ascensão da extrema
direita, segundo as projeções de resultados. A CDU (União
Democrata-Cristã) recebeu 33,2% dos votos, cerca de oito pontos abaixo
do obtido nas últimas eleições, de acordo com a projeção feita pela
Forschungsgruppe Wahlen para o canal ZDF.
Seu rival, o SPD (Partido Social-Democrata) de Martin Schulz,
registrou 20,8%, percentual que foi o seu pior resultado na história.
Ambos governam atualmente em coalizão. “Não há nada bonito para falar. O
resultado é uma decepção amarga para nós”, disse o líder da CDU, Horst
Seehofer.
“Naturalmente, esperávamos um resultado melhor”, afirmou Merkel na
festa da vitória na sede do partido, em Berlim. “Mas temos a tarefa de
formar um governo e contra nós nenhum governo pode ser formado.” A
novidade do pleito foi a ascensão da sigla de direita populista AfD
(Alternativa para a Alemanha), que teve 13,2% dos votos e entrará no
Parlamento -a primeira vez em que a extrema-direita chega à Casa desde o
fim da Segunda Guerra em 1945.
O oposicionista FDP (Partido Democrático Liberal) foi outro vencedor do
pleito. Após não entrar no Parlamento na eleição passada por não
ultrapassar a cláusula de barreira de 5% dos votos, a legenda obteve
dessa vez 10,1%. A Esquerda, por sua vez, levou 8,9%, e os Verdes, 9,3%.
Como líder do partido com mais votos, Merkel deverá formar o próximo
governo e manter o cargo de chanceler em um quarto mandato consecutivo.
Com isso, pode completar 16 anos no poder e se igualar, assim, ao
ex-chanceler Helmut Kohl. Merkel se manterá, portanto, no cargo de uma
das mulheres mais poderosas do mundo – a Alemanha é a maior economia da
União Europeia, com PIB estimado em US$ 3,4 trilhões neste ano. Ela
acumulará ainda a fama informal de líder do mundo livre, em um cenário
internacional marcado pela ausência de referentes morais desde o fim do
governo de Barack Obama nos EUA.
Governo
Após o anúncio dos primeiros resultados, Schulz anunciou que lideraria o
SPD na oposição -ou seja, o partido deixa a coalizão com a CDU no novo
governo. Merkel terá de escolher, agora, quem serão seus novos
parceiros. A única alternativa viável parece ser uma aliança entre CDU,
FDP e os Verdes. O trio somaria cerca de 52,6% dos votos, segundo a
projeção do ZDF. “Não somos automaticamente parceiro de coalizão apenas
porque o SPD saiu de cena”, disse, porém, o vice-líder Wolfgang Kubicki,
do FDP.
A AfD comemorou os resultados, criticando a “arrogância” do SPD, que
horas antes havia dito que o partido “de racistas não pertencia ao
Parlamento”. “A arrogância do SPD será vingada amargamente. Vivam com
isso, companheiros: a partir de hoje, a onda esquerdista acabou”,
escreveu em rede social Frauke Petry, uma das expoentes do partido.
A meta do partido, segundo ela, será trabalhar para uma “mudança de
governo” em 2021. O crescimento do populismo na União Europeia é o
grande tema político destes dois últimos anos, como mostrou em junho de
2016 o voto britânico para deixar o bloco econômico, processo conhecido
como “brexit”. Na França, o desafio veio da sigla de direita
nacionalista Frente Nacional, de Marine Le Pen, que teve 34% dos votos
no segundo turno em 7 de maio, sendo derrotada pelo centrista Emmanuel
Macron, hoje o presidente.
Macron e Merkel têm fortalecido o eixo entre Paris e Berlim para
possivelmente reformar a União Europeia e lidar com a insatisfação que
resulta no voto populista. Por essa razão, “a questão central destas
eleições é o futuro da Europa”, diz à Folha Markus Kaim, analista do SWP
(Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança). Merkel
representa, para parte do eleitorado, um voto por mais integração
regional e mais estabilidade.