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Mordida na orelha



Era um dia, na minha meninice, fugia de casa pra jogar bola, quando me deparo com uma cena que jamais saiu da minha memória: um homem, novo, forte, grande, agarrado na cabeça de um burro, mordendo na orelha do bicho. Mas não era mordidinha, não; era mordida séria, grande, tipo daquela de arrancar o pedaço. Estático diante do inusitado, não conseguia me mover. O homem saiu da mordida, olhou com firmeza nos olhos do burro e o puxou suavemente pelo cabresto. O burro atendeu. Ainda sem entender, perguntei para um colega de pelada que havia chegado antes de mim e perguntei o que estava acontecendo e ele contou: rapaz, o burro empacou. Cismou dos pés e não deu mais um passo. O cara puxou, gritou e até bateu e o burro nada. Parado como uma pedra. Nem molgava. Aí ele agarrou na cabeça do animal deu uma mordida grande, gritando pra dentro do orelha. Aí parou de morder, como tu viste e o burro desempacou. Tem burro cismado, burro teimoso, burro ignorante de quem é quem manda, tem burro de toda espécie e qualidade. Nossa últimos tempos, o que tem faltado não é burro, mas homem que conheça a receita de morder na orelha. O recente caso da demissão dos delegados cearenses pelo pernambucano da borboleta poderia servir de exemplo: quando o burro empaca, só com mordida na orelha. E esta, na falta de quem mande, no Governo, a sociedade está dando pela imprensa. Basta ligar o rádio.

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