Consumo de crack avança entre adolescentes no interior do Ceará

Na esteira do despreparo do poder público e da sociedade em relação à prevenção e ao tratamento dos efeitos das drogas, o consumo do crack avança com desenvoltura no Ceará e faz multiplicar relatos de sua gravidade na capital e em cidades do interior.

“Nos últimos três anos o crack se espalhou de forma incrível, praticamente o consumo triplicou aqui em Quixadá”. A afirmação é de Biaggio Manzari, um dos coordenadores da Comunidade Nova Esperança, instituição filantrópica que atende a cerca de 40 ex-usuários em recuperação no município de Quixadá, no Sertão Central do Estado.

Conselheiro tutelar na cidade de Quixadá, Talvanes da Silva afirma que o consumo de crack por adolescentes aumenta a cada dia na cidade e o uso está chegando até os distritos mais afastados da zona urbana. O conselheiro denuncia que no município não há nenhum equipamento público que ofereça tratamento aos usuários, adolescentes ou adultos. “Aqui só existe o tratamento emergencial, quando a pessoa sente efeitos mais fortes como desmaios ou convulsões. O tratamento voltado para a recuperação do usuário não existe, em especial de adolescentes, que ainda estão em fase de desenvolvimento físico e psíquico”.

No município de Madalena, outra cidade do Sertão Central do estado, a situação também é muito grave. “A gente percebe que o consumo do crack vem aumentando entre os adolescentes. Hoje já existem até crianças consumindo, o que é bastante preocupante.”, afirma o conselheiro tutelar da cidade, Antônio Eduíno. Ele também denuncia que o Município não tem órgãos que ofereçam tratamento para os usuários e que o próprio Conselho Tutelar não possui estrutura nem para fazer abordagens. “Nem carro a gente tem”, completa.

O crack atinge principalmente adolescentes pobres, devido ao seu baixo custo. Uma pedra varia entre R$ 5,00 e R$ 10,00. É mais barato que a cocaína, mas, como seu efeito dura muito pouco, acaba sendo usado em maiores quantidades, o que torna o vício muito caro, pois seu consumo passa a ser maior. Francineide Amorim, Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente do município de Quixadá, afirma que a maioria dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas no município são usuários da droga. “Muitas vezes eles precisam roubar para manter o vício”. Francineide completa dizendo que um Centro de Atenção Psicossocial, especializado em álcool e drogas (Caps - AD) já está em fase em implantação no município e que isso ajudará bastante no tratamento.

Sobre a situação do município de Madalena, Estela Pinho, secretária de Assistência Social afirma que a secretaria não possui dados sobre a quantidade de usuários no município, mas admite que na cidade não haja órgãos que possam fazer o tratamento de recuperação dos usuários e frisa que o maior trabalho tem sido de prevenção. “Trabalhamos com grupos de adolescentes no sentido de alertá-los sobre os perigos da droga e de sempre incentivá-los a permanecer na escola”, completa.

O sociólogo Leonardo Mota, acredita que o interior do Estado não pode ser mais entendido como um “reduto intocado da modernidade“, longe dos progressos e malefícios que dela decorrem e que assim, como o ocorre nos grandes centros urbanos, crianças e adolescentes de municípios mais afastados acabam sendo vítimas de descaso do poder público e da própria sociedade. Atualmente, os pais, sejam eles de classe baixa, média ou alta, trabalham como loucos para prover muitas vezes o necessário e quase nunca conseguem tempo para os filhos. Existe muito abandono em todas as classes sociais, principalmente o abandono afetivo, explica o sociólogo.

Do site Prioridade Absoluta

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