Perda de potência impediu que voo da FAB prosseguisse, diz tripulação sobrevivente



Leandro Prazeres
Especial para o UOL Notícias
Em Manaus

Os tripulantes do C-98 Caravan da Força Aérea Brasileira (FAB) que caiu na última quinta-feira (29) na floresta Amazônica disseram que uma perda súbita de potência no motor da aeronave foi a causa do acidente.


Os militares (Carlos Wagner Ottone Veiga, José Annanias da Silva Pereira e Edmar Simões), que falaram à imprensa nesta segunda-feira (2) pela primeira vez, não souberam dizer, no entanto, os motivos da falha do motor.

O primeiro-tenente Carlos Wagner Ottone Veiga, que pilotava o avião no momento do pouso forçado, disse que o avião estava a 9.000 pés (cerqca de 3.000 metros) de altitude quando o motor começou a falhar. "Tivemos uma perda súbita de potência e um conseqüente superaquecimento do motor. Ficou claro que não conseguiríamos prosseguir o nosso vôo até o final. Então, a tripulação decidiu junto que teríamos de fazer um pouso forçado", conta Veiga.

Apesar de admitir a falha do motor, Veiga não disse que tipo de problemas poderia causar a perda súbita de potência do equipamento. "Nós não sabemos as causas. Elas serão investigadas pelos órgãos competentes. Não sei dizer o que aconteceu. Só sei dizer que houve uma perda de potência e nós tivemos que fazer o pouso", afirma.

O piloto conta ainda que, assim que o motor apresentou a falha, a tripulação analisou as cartas de navegação para procurar uma clareira ou estrada onde a aeronave pudesse pousar. Como não encontraram, a tripulação se viu diante do dilema de pousar na floresta ou em algum rio da região. "Foi uma decisão conjunta. Ou a gente fazia o pouso na mata ou em um rio. Optamos em pousar na água", conta o primeiro-tenente Veiga.

O segundo-tenente José Annanias da Silva Pereira disse que a aeronave demorou pouco mais de um minuto para submergir logo após a queda. "Foi muito rápido. Felizmente os passageiros colaboraram bastante. Eles seguiram todas as nossas instruções e por isso conseguimos sair, quase todos, com vida", afirma.

Os três militares lamentaram a morte do técnico da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) João de Abreu Filho e do suboficial Marcelo dos Santos Dias. "Estamos felizes por termos conseguido salvar tanta gente, mas tristes pelas mortes que ocorreram", disse o primeiro-tenente Veiga.

O piloto diz que, logo após nadarem para margem do igarapé Jacupará, onde o avião pousou, notaram que o suboficial Dias havia desaparecido. "A correnteza era muito forte. Não tínhamos como voltar à aeronave para resgatar ninguém", disse Veiga.

O segundo-tenente José Annanias, que pratica triatlon, disse que o macacão e o coturno usados pelos militares durante os voos prejudicaram sua natação. "Eu cheguei a me afogar. A roupa que usamos fica muito pesada. Até eu, que tenho o hábito de nadar, tive muita dificuldade."

O comandante do 7º Comando Aéreo Regional, brigadeiro Jorge Cruz Souza e Mello, disse que equipes da Aeronáutica e da Marinha estão trabalhando no içamento do avião acidentado.

Um pequeno ancoradouro está sendo montado às margens do igarapé Jacurapá para facilitar o procedimento. A ideia é instalar catracas nas árvores e "amarrar" cabos de aço na aeronave para que ela saia do leito do rio. Outra possibilidade é instalar tambores de metal flutuantes para tirar o avião do local. A correnteza, no entanto, tem atrapalhado o serviço dos mergulhadores. "A correnteza e visibilidade da água, que é zero, dificultam o nosso trabalho", afirmou.

O brigadeiro não deu prazo para o fim dos procedimentos de resgate da aeronave. Segundo ele, o resgate é fundamental para as investigações das causas do acidente.

A tripulação deverá ficar sem voar por tempo indeterminado, enquanto será submetida a exames clínicos e psicológicos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário