"Ou é lá ou não será", Cid rebate Luizianne

Governador diz que só há um lugar para o estaleiro no Ceará: a praia do Titanzinho
Do Jornal O Estado
Bruno de Castro

Fortaleza tendo prefeita ou não, só há um destino para o estaleiro cearense: a comunidade do Titanzinho, localizada no bairro Serviluz. O ultimato do local foi dado ontem pelo governador Cid Gomes (PSB), durante visita à Assembleia Legislativa. Segundo ele, este é o único ponto dos 578 quilômetros de faixa de praia do Estado em condições de receber um empreendimento deste porte.

A tese é sustentada no seguinte argumento: para ser instalado, um estaleiro precisa principalmente de perímetros com boa profundidade de mar. Do contrário, não pode receber embarcações de grande porte. Conforme Cid, estudos técnicos indicam que apenas o Titanzinho encaixa-se neste perfil. A prefeita Luizianne Lins (PT), porém, pensa o contrário e defende a migração do projeto para outra área. Tanto que declarou, na última segunda-feira, em passagem pela Câmara Municipal, que a vontade do governador não deve prevalecer, porque a capital tem um Executivo para decidir sobre o assunto.

No entanto, Cid Gomes avalia que posicionamentos contrários existem por conta de informações falsas disseminadas sobre a proposta. De acordo com ele, rumores de que os moradores da área serão desapropriados e de que a mão-de-obra empregada no empreendimento virá de fora são um exemplo disso. Ambas hipóteses foram descartadas pelo socialista. “Ou é lá ou não será. Não há segunda opção. Não é por capricho. É porque, para encontrar uma enseada no nosso litoral, é difícil”, justificou.

FOGÃO
Apesar de dizer que respeita o contraditório, o governador ironizou a fala de Luizianne sobre mudar o estaleiro de local. Ele criticou o fato de algumas lideranças tratarem a questão como algo de cunho pessoal. A própria prefeita foi uma das que o alfinetou, tipificando como “esquisito” o encontro entre Cid e oito vereadores no último dia 21. O governador teria recebido a comitiva para convencer os parlamentares da importância do empreendimento.

Ontem, Cid levantou a bandeira da realização de debates. “Indústria naval não é uma indústria de fogão, que você pode colocar onde quer. Se tivéssemos a alternativa de fazer em Aracati ou Camocim, não tenha dúvidas de que eu seria o principal interessado. Mas, infelizmente, questões geográficas apontam para o aporte do estaleiro naquele local [Titanzinho]. Aí, a discussão passa a ser: seremos a favor ou contra? Eu não vou tratar isso como uma coisa de “achou bom ou achou ruim”. Vou tratar como uma coisa profissional e não vou arredar um milímetro sequer no que diz respeito a discutir de forma técnica”, acrescentou.

A INTERVENÇÃO
Diante de uma verdadeira sabatina feita pelos deputados estaduais, o socialista explicou como o projeto deve ser implementado. Das quatro horas e meia seguidas de pronunciamento, quase metade foi destinada ao estaleiro. Somente membros da base de apoio ao Estado colocaram-se. Todos, claro, a favor da proposta.
De acordo com Cid, o quebra-mar da região será ampliado e uma cortina de contenção será construída. Só não se sabe ainda se de concreto ou metal. Faixas de areia também serão dragadas. As obras devem criar 1.200 vagas de emprego diretas, além de impulsionarem outros setores.
Ele admitiu que, a princípio, o Porto do Pecém foi cogitado. Entretanto, saiu dos planos diante do investimento necessário para a viabilização das construções. Enquanto o Titanzinho sairia por R$ 200 milhões, o valor a ser empregado no distrito de São Gonçalo do Amarante ultrapassaria R$ 1 bilhão. “Eu não quero para mim a pecha de quem busca desenvolvimento a qualquer preço. Decisivamente eu não quero isso para a minha biografia”, assinalou.

CONVERSAS E PLEBISCITO
Devido à resistência de Luizianne Lins, de alguns setores da sociedade civil e, supostamente, até da comunidade do Titanzinho, o governador informou já ter agendado encontros com a prefeita, empresários e arquitetos para explicar minuciosamente o projeto. Cid qualificou o estaleiro como meta pessoal e admitiu a pretensão de visitar pessoalmente o Titanzinho para checar in loco o clima dos moradores.
Falou até na realização de um plebiscito, ideia inicialmente ventilada por vereadores. Uma Comissão Especial chegou a ser formada na Câmara só para discutir a chegada do empreendimento. “A comunidade lá, no final das contas, acaba sendo a principal interessada. E a opinião dela será decisiva. Eu acho fundamental”, avaliou.

Por ora, ele espera a prefeita voltar das férias. Afastada desde 21 de janeiro, Luizianne tem retorno previsto para a próxima quarta-feira, 10. Porém, contatos telefônicos já foram feitos e Cid deve novamente ser apresentado ao projeto de urbanização que a Prefeitura diz ter para a comunidade desde 2006.
Segundo o governador, uma iniciativa não inviabiliza a outra. E uma prova disso teria sido o aval do secretário de Governo da petista, Waldemir Catanho, à área numa reunião realizada ano passado. Mas a Prefeitura, procurada pela reportagem, negou-se a confirmar esta declaração.

SE...
A única hipótese colocada por Cid como desistência do estaleiro seria uma recusa popular ao projeto. “É oportunidade de trabalho e de renda para as pessoas. Se for ruim, se desiste. É igual àquela história do Seu Lunga: a mulher diz: ‘ai, Lunga...estão me dando uma coisa’. Ele diz: ‘então, pegue’. Ela responde: ‘não, mas é uma coisa ruim’. E ele: ‘ora...pois então não receba’. Se é bom, vamos fazer. Se não é bom, não vamos fazer. Eu acredito que seja bom. Mas, se a população, depois de inteirada do projeto, fizer restrições a ele, pode ter certeza de que serei contra também. Eu estarei ao lado do povo”, concluiu.


MAIS


- O governador anunciou para este mês o início das obras do Acquario Ceará. De acordo com ele, a licitação para a construção da estrutura de concreto deve ser concluído nos próximos dias. De imediato, será dado o start nas edificações.

- Ele também rebateu declarações do deputado Ely Aguiar (PSDC), que criticou o fato do Governo não permitir a liberação de imagens de presos ainda não julgados. Cid disparou: “não é possível que a gente direcione ações baseado no que agrada ao seu programa policial. Imagine se pegam seu filho por engano, acusam-no de estuprar uma menina, botam no camburão, levam e expõem em jornais e televisões. O dano que isso vai causar a ele é irreparável. Para mim, um caso sendo evitado justifica qualquer outra ação. As pessoas são inocentes até que se prove o contrário”.

- Aos discordantes do estaleiro, um aviso: “vou, um dia, pedir para os cursos de Psicologia das universidades desenvolverem uma tese sobre isso: tem um grupo que, para qualquer coisa que se coloque, ele é contra. É impressionante! Siderúrgica: contra! Refinaria: contra! Estaleiro: contra! Acquario: contra! Centro de Eventos: contra! O que querem? Que continue tudo como está?”

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