A polêmica da construção do estaleiro no Titanzinho e o desacordo entre o poder municipal e estadual fez com que desafetos de Luizianne Lins, a senadora Patrícia Saboya (PDT) e ex-governador Lúcio Alcântara (PR), fiquem de seu lado.
Construir um estaleiro em qualquer praia de Fortaleza, especialmente na do Titanzinho, é uma temeridade, um absurdo e ação contra a comunidade que vive no local. O questionamento é da senadora Patrícia Saboya, que deu total razão à prefeita Luizianne Lins por lutar para que o estaleiro não seja montado naquela praia.
Ela não escondeu que o seu ex-cunhado, governador Cid Gomes, está totalmente equivocado ao insistir em colocar o estaleiro naquela localidade. A parlamentar orienta o titular do Palácio Iracema para montar o estaleiro na vizinhança do Porto do Pecém, justificando que o lugar é apropriado e não vai causar prejuízos, porque ninguém reside na localidade.
A parlamentar alerta que o estaleiro se construído no Titanzinho irá ocupar uma área de 700 metros de praia e isso, sem dúvida, prejudicará a comunidade que mora na área ou perto dela. “O Pecém foi desenhado, exatamente, para receber o estaleiro e se ele custa mais um pouco do que no Titanzinho seria uma economia pequena, que não tem vantagem devido ao prejuízo que vai causar”, aponta.
A senadora lembra ainda de catástrofes que estão acontecendo em São Paulo e em outros estados brasileiros são frutos de construções que foram feitas em locais errados e que a natureza condena punindo os homens. “Estou contra o governador nessa questão e o que ele quer fazer é uma ação que deve ser evitada enquanto há tempo. O pessoal do Titanzinho não merece isso”, pontua.
Já Lúcio Alcântara em seu blog escreveu que os argumentos do governador a favor da obra vão do terrorismo econômico à puerícia. “Ele simplifica o debate com argumentos frágeis, que ofendem a inteligência até das pessoas mais simples”, completa.
O ex-governador vê a atitude de Cid Gomes como irônica em relação ao plano diretor e também em relação aos surfistas da comunidade. Sobre o almoço no Palácio Iracema entre governador e oito vereadores, Lúcio Alcântara enxerga como um desrespeito à aliada e gestora da cidade.
Divergência não afeta aliança
Os desentendimentos da prefeita Luizianne Lins com o governador Cid Gomes sobre a construção do estaleiro na Praia do Titanzinho na opinião do deputado federal petista Eudes Xavier, não vai chegar a uma ruptura entre os dois políticos, porque eles sabem que para o sucesso do Ceará um tem que ajudar o outro.
O deputado ainda acrescenta que a posição da prefeita é conhecida pela população que habita o Titanzinho, desde que ela era vereadora. O parlamentar acrescenta que o governador Cid Gomes deve ouvir bem a população do local para que ela opine sobre a construção do estaleiro ali.
Xavier reconhece que o estaleiro é importante não só para o Ceará, mas para o Brasil. Porém, observa que não pode piorar a vida da comunidade onde vai ser instalado. Para ele, será possível chegar a um denominador comum sobre a construção, sendo só questão de ver se não vai causar impacto negativo na comunidade onde vai ser instalado.
Ele afirma ainda que a aliança política PT-PSB está firme para apoiar a reeleição do governador Cid Gomes e nada vai mudar até o dia da eleição. “A prefeita - arrisca ele - tem um compromisso na reeleição de Cid, fazendo uma retribuição ao que ele fez por ela na reeleição de 2008”, disse.
Vereadores e deputados pedem mais debate
A exemplo do governador Cid Gomes (PSB), vereadores e deputados estaduais levantaram, ontem, a bandeira de que audiências públicas precisam ser realizadas sobre a instalação do estaleiro no Titanzinho. Contudo, boa parte dos parlamentares utiliza-se do argumento de que o projeto foi idealizado pelo presidente Lula ainda durante a primeira campanha do petista e precisa ser posto em prática. “É uma iniciativa estadista”, declarou o presidente da Assembleia Legislativa, Domingos Filho (PMDB).
Na AL, Heitor Férrer (PDT) e Nelson Martins (PT) solicitaram a promoção de debates sobre o assunto. O pedetista diz que ainda existem muitas dúvidas sobre a proposta; e o petista argumenta que o empreendimento está na cota de R$ 110 milhões e terá impacto direto na geração de emprego e renda da região. Artur Bruno (PT) é outro que cobra audiências públicas.
ENVOLVIDOS
Serão envolvidos na discussão a Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), a Transpetro, a Procuradoria do Estado, a Associação Comunitária Vila do Mar, a Secretaria de Turismo do Estado, a Prefeitura de Fortaleza e o Ministério Público Federal. “Governo e Prefeitura deveriam apresentar proposta paralela para melhorar condições de moradia, esgotamento sanitário e condições de lazer, por exemplo”, complementou Lula Morais (PCdoB).
Já na Câmara, é João Alfredo (PSol) quem reivindica mais explicações sobre o projeto. O socialista diz que a praia do Titanzinho foi uma das primeiras Zonas de Especial Interesse Social (Zeis) incluídas no Plano Diretor de Fortaleza. Por conta disso, merece atenção especial. O vereador cogitou possíveis impactos ambientais. “Por causa do Porto do Mucuripe, foi-se embora a Praia de Iracema”, comparou.
Roberto Mesquita (PV) endossou o coro contra o projeto. Ele fez um apelo a Cid. “O senhor, que é um dos maiores gestores do País, não manche a sua biografia e não seja algoz dos moradores do Serviluz. Ofereça a eles o que eles merecem, mas sem cobrar este sacrifício”, pontuou.
Governador apresenta projeto a arquitetos
O governador do Estado, Cid Gomes, recebeu ontem a noite, uma comissão de sete diretores e três conselheiros do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Ceará (IAB-CE) para apresentar o projeto de construção de um estaleiro em Fortaleza. O pedido de audiência foi feito pelo IAB-CE por meio de ofício enviado na última quinta-feira, 28, ao gabinete de Cid.
De acordo com o presidente da entidade, Odilo Almeida, a reunião teve início com uma apresentação feita pelo governador de um histórico das ações que levaram a decisão da escolha do local do estaleiro ser no Titanzinho, sendo esse o único local que o suportaria.
“Vamos estudar e analisar esses estudos técnicos além de conversar com a Prefeitura, só aí será emitido um parecer”, acrescentou.
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