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A pinga nossa de cada dia



Lula e Wilson Ibiapina (DIFICIL É SABER QUEM INSPIROU QUEM)



Um alambique dos melhores

Wilson Ibiapina
Aprendi a beber cachaça em Ubajara, ainda muito jovem.
Morava em Fortaleza e as férias na Serra dava-nos a liberdade para
experimentar tudo. Ou quase tudo. . Porres inesquecíveis Curava
gripe, abria o apetite, cortava fome. Podia ser consumida nos momentos
de alegria e de tristeza. Um santo remédio. Hoje vejo que não era
invenção do pessoal lá da Serra Grande. A Aguardante, que na Europa
era feita de cereais, frutos, raizes e sementes, era usada desde a
Idade Média como medicamento. A palavra água+ardente aparece com o
sentido de água da vida em vários idiomas, Em francês é eau-de-vie, em
italiano acquavite.O professor Reinaldo Pimenta, mestre de
português, que especializou-se em descobrir a origem das palavras,
conta que tudo começou em 1300. O alquimista espanhol Arnau de
Villanova destilou o vinho e obteve álcool, pela primeira vez. Foi
chamado em latim de spiritus vini (espirito do vinho). Até hoje, em
inglês, a palavra spirits serve para designar bebida alcoólica
destilada. O quimico suiço Paracelso foi o primeiro a substituir
spiritus vini pela palavra álcool. Outra explicação dele: A palavra
vem do espanhol alcohol, que veio do árabe al-kuhl. Deu origem a
cachaça árabe Arake, que tem gosto de aniz....Nas linguas européias a
palavra alcool passou a designar qualquer substância produzida por
destilação.
Como você pode ver, a água ardente vem de muito longe e
seu nome provem da crença de que era um elixir da longa vida. Até
hoje se toma cana com limão e mel (Caipirinha) como remédio para
cortar gripe. A água da vida foi batizada pelos irlandeses de uisce
beatha (água da vida. Depois passou a ser chamada só de uisce (água,
termo que virou em inglês whisky que passou para uisque em português.
Os russos batizaram sua cachaça de Vodka (aguinha). Que locura: água
e aguinha.
Bem essas são as explicações verdadeiras para a etimologia da
aguardente. Mas há os que preferem as explicações inventadas pelo
povo, que são mais sedutoras.
Antigamente, no Brasil, para se ter melado os escravos
colocavam o caldo
da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer
até que uma consistência cremosa surgisse
.Essa é a verdade. Aí vem a mente criativa e diz que “ um
dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os
escravos simplesmente pararam e o melado desandou! O que fazer agora?
A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do
feitor. No dia seguinte, encontraram o melado
azedo (fermentado). Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo
com o novo e levaram os dois ao fogo. Resultado: o "azedo" do melado antigo
era álcool que aos poucos foi evaporando, formando no teto do engenho umas
goteiras que pingavam constantemente.
Era a cachaça já formada que pingava
(por isso o nome PINGA) As gotas, quando batiam nas suas costas marcadas
com as chibatadas, ardiam muito, por isso o nome "AGUARDENTE". Caindo em
seus rostos e escorrendo até a boca, os escravos viram que a tal goteira
dava um barato, e passaram a repetir o processo constantemente. Êta,
como a mentira fica bem mais interessante que a verdade!.

Wilson Ibiapina é jornalista e, já foi, um dos grandes cachacistas deste País. Hoje, semi-aposentado do assunto, faz esse tipo de confissão/documento/memória

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