Adeus, Marcela

Empresária, 34 anos, mais uma vítima da violência que assola o Ceará


Por Aline Pedrosa
Da Redação

Um sentimento de euforia e esperança dominou, ontem, 10, por volta das 11:15 horas até às 13 horas, o Hospital São Mateus, onde a empresária Marcela Montenegro estava internada. A família suspendeu o processo de extração de órgãos para doação e o velório, após um último exame detectar reação por parte da paciente, que apontou fluxo sanguíneo no cérebro. Porém, às 17 horas, acabou a euforia e morreu a esperança, dando lugar ao choro de dor e à indignação.

O Protocolo ME (Morte Encefálica) confirmou o óbito da empresária. No hospital mesmo, foi realizada a retirada dos órgãos (fígado, rins, córneas e coração) para doação. O coração foi para Curitiba e os demais serão implantados em pacientes no Ceará. De acordo com familiares, o velório ocorrerá, hoje, a partir 7 horas, na funerária Ethernus, na rua Padre Valdevino, no bairro Dionísio Torres. Já o sepultamento será às 17:30 horas, no cemitério Parque da Paz.

INSEGURANÇA
“Hoje em dia, infelizmente, a gente saí de casa e não sabe mais se volta. Tanto faz sair de carro, ônibus ou a pé. Não existe mais lugar e nem hora. Aonde vamos parar?”, questionou a pensionista Maria de Castro, 55. É bem verdade o que ela disse. O fortalezense anda com medo. A insegurança é o principal motivo. O latrocínio que vitimou a empresária Marcela Montenegro, 34, na última segunda-feira, foi só mais um exemplo da precariedade e da incerteza que temos do regresso em paz ao lar.
De acordo com o delegado titular das Delegacias Especializadas, Jairo Pequeno, nunca se deve reagir a um assalto. “Claro que a atitude é imprevisível. É do momento. Não podemos prever a reação do ser humano, mas o ideal é não esboçar nenhuma reação, pois pode ser pior”, disse. Ele ainda falou que é importante evitar passar por ruas e avenidas que já têm um histórico de perigo.
É preciso estar atento. Para Jairo Pequeno, outras medidas de segurança são: evitar distrair-se no celular quando estiver dirigindo, estar sempre atento nos retrovisores; se possível, avisar alguém em casa, que já está chegando, para abrir portões ou mesmo olhar pela janela; não estacionar em locais esquisitos, dentre outros cuidados.
“A bandidagem é audaciosa. É de praxe esse pessoal estar assaltando. Tem que haver um mapeamento das áreas mais críticas e um policiamento mais efetivo nesses locais”, defende o delegado. Sobre a facilidade dos bandidos terem armas nas mãos, Jairo Pequeno não se espanta. “Eles andam à margem da lei”, explica.

O secretário de Segurança Pública, Roberto Monteiro, e o secretário adjunto da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Nival Freire, foram procurados, mas recusaram-se de falar sobre a tragédia e a problemática de violência e da insegurança que aterroriza os cearenses.

JURISTA
Segundo com o advogado criminalista, professor de direito penal e mestre em direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Leandro Vasques, no Brasil existem 500 mil presos e uma carência (déficit) de 106 mil vagas. “O que há é uma hiper população carcerária. E dois corpos não podem ocupar um mesmo espaço. Sem falar que estes formam um exército de ociosos, 24 horas por dia planejando como cavar um túnel ou escalar uma muralha”, falou.

Justamente em virtude dessa carência de uma política penitenciária, o jurista declara-se contra a redução da menoridade penal, pois causaria um colapso no sistema. “Iria agigantar o ciclo vicioso, apesar de compreender que um jovem de 16/17 anos, no atual quadro do tempo e da evolução tecnológica, sem dúvida, possui discernimento do que é certo ou errado”, completou.

Leandro Vasques ainda defendeu uma capacitação permanente dos policiais e a elevação dos vencimentos, pois haveria um estímulo aos profissionais. “Assim como a população, os policiais também são vítimas da realidade”, afirmou. Ele é advogado do espanhol que em 2007, foi baleado por policiais, na sua chegada a Fortaleza, quando passava pela avenida Raul Barbosa.

ENVOLVIDOS
Todos os envolvidos no caso foram capturados. Francisco Leandro, de 22 anos, o “Pica-Pau”; Jacinto Alves Filho, de 21 anos, o “Buiú”, um adolescente de 16, uma criança de 11 e o quinto envolvido no crime, um jovem de 17 anos. Os acusados de 21 e 22 anos continuam presos no 15º Distrito Policial, no bairro Cidade 2000.
Foi o adolescente de 17 anos que efetuou o disparo contra a empresária Marcela Montenegro. Ele disse, em depoimento, que foi coagido a atirar, por parte do outro assaltante de 21 anos. De acordo com o jovem, o outro assaltante disse: “Atira, atira! Atira, para ver se ela para”.

O delegado titular 15º DP, Alísio da Justa, trabalha para manter os dois presos e conseguir a transferência para a Delegacia de Capturas, onde vão aguardar vaga em um dos presídios. Os dois adolescentes, envolvidos no assalto estão apreendidos na Delegacia da Criança e do Adolescente. A criança de 11 anos foi levada para o SOS Criança e depois liberada.

Penso eu: Gostaria muitíssimo de saber qual foi a reação da Secretaria de Segurança do Ceará para pelo menos reforçar com policiais as áreas afetadas pela bandidagem. Soube que, a 200 metros do local do crime contra Marcela Montenegro, o jornalista Nazareno Albuquehrque foi assaltado na manhã de ontem com sol frio, ainda.

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