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Violinos e flores na despedida de Marcela

Por Ivna Girão
Da Redação do Jornal O Estado

Um misto de sentimentos: uns choravam de saudades, outros tentavam acalmar a alma, tantos outros rezavam e muitos pareciam inconformados com a violência que tirou a vida da jovem Marcela Montenegro, empresária vítima de latrocínio na noite da última segunda-feira em um cruzamento da avenida Santos Dumont. Nas cerimônias do velório e do enterro, ocorridas na tarde de ontem, uma multidão se fez presente para dar um adeus e demonstrar a insatisfação com a criminalidade em Fortaleza. Ao som de violinos e com pétalas de flores jogadas de um helicóptero, o enterro ocorreu no Cemitério Parque da Paz.

“As leis brasileiras não punem ninguém, a Polícia prende e alguém solta. Se tivesse mais policiamento, um povo mais educado, uma polícia mais preparada, se evitaria muita coisa”, disse o pai, Edinardo Montenegro, com a voz embargada e o semblante sofrido com a morte da primeira filha. Não faltaram vozes para se unir ao coro que pedia pelo fim da violência, da impunidade e da suposta “leveza” das leis.
Muitos curiosos, que nem conheciam bem a empresária, se aglomeraram ao redor do caixão. O que os unia? A revolta com a insegurança que parece reinar na Capital. “Eu a conhecia só de vista, vim para o enterro porque fiquei chocada, quero homenageá-la e pedir que o Estado tome providencias para garantir mais segurança a todos”, declarou a estudante de direito, Liana Parente.

Assim como ela, muitos outros “anônimos” fizeram fila para acompanhar o adeus da empresária. O velório aconteceu durante todo o dia de ontem. Com grande movimentação de parentes e amigos, o trânsito da avenida Padre Valdevino, local da celebração, ficou engarrafado. “Foi lamentável o que houve, toda a Cidade está comovida”, disse um conhecido da família, Ronaldo Mendonça, representante.

COMOÇÃO NO ENTERRO
Apesar das muitas flores, rezas, abraços e homenagens, as lágrimas não deixaram de cair enquanto o caixão da jovem descia. Uma multidão fez “romaria” até o Cemitério Parque da Paz, no fim de tarde de ontem, para tentar acreditar que a Marcela realmente estava partindo. “Por terem muita espiritualidade, os pais estão conseguindo manter o equilíbrio e a serenidades; eles estão fortes. Entretanto, muita gente da família está revoltada pedindo por justiça. É um misto de sentimentos. A vida dela era muito valiosa para ser levada assim”, disse uma amiga da mãe da vítima, Renata Cavalcante.

Comentando que as irmãs da empresária já pensam em começar um movimento para impedir a impunidade dos assassinos, a administradora Ilê Peixoto desabafou: “Talvez Marcela tenha pago com sua vida muitas injustiças do mundo. Mas as coisas vão mudar”, disse, com otimismo, a amiga de infância da vítima.

QUEM SERÁ A PRÓXIMA VÍTIMA?
Com o coração ferido, o médico e parente de Marcela, Jorge Montenegro, 57, demonstrou toda sua dor e revolta em cada palavra dita em relação aos possíveis assassinos da empresaria, entre eles alguns adolescentes. “É preciso mais rigor na lei, os bandidos estão todos soltos. A Justiça não funciona e todos ficamos à mercê. Aonde vamos parar? Quem será a próxima vítima?”, indagou o médico que, anteontem, auxiliou na difícil decisão de diagnosticar a morte cerebral da jovem e apoiar a família na doação dos órgãos. “No momento que eu estiver com quem recebeu os órgãos da minha filha, eu vou me sentir mais perto dela, com menos saudades”, finalizou o pai.
Segundo a Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), o fígado dela foi transplantado para um senhor de 55 anos que sofria de câncer no fígado; o transplante de rins aconteceu ontem à tarde, no Hospital Geral de Fortaleza; as córneas passaram por testes no banco de órgãos também do HGF e hoje estarão disponíveis para doação. O coração não pôde ser doado por incompatibilidade de peso e grupo sanguíneo com as pessoas da fila de espera, por isso o órgão seguiu para Curitiba, onde serão aproveitadas válvulas cardíacas em outros pacientes.

Penso eu - Engraçado: Ninguem pedia Justiça, mas apenas mais segurança.

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