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Polemica depois da Globo

A Rede Globo de Televisão publicou dias passados, uma reportagem sobre a violencia em Fortaleza. Doeu em uns, agradou a uma grande maioria e levantou uma polemica na qual não entro porque tenho pensamento firmado de que tudo que agride a sociedade deva ser publicado. As incompetencias, os interesses contrariados, até mesmo a espetacularização do crime ( o que não ocorre neste caso esoecpifico ) acho que tem que ir pra rua para que as pessoas possam ter uma opinião a partir do momento em que saibam o que está acontecendo. Quer ver uma coisa, pergunte onde está a gloriosa Policia Militar do Ceará, de tantos serviços prestados, escondida sob um programa chamado Ronda do Quarteirão, formado por gente nova, é verdade, mas sem a estrutura dos velhos majores e coronéis da PM. Publico, numa ordem inversa, os comentários e artigos, onde tambem está o que publiquei mais cedo, escrito pelo nosso Giacomo Mastroiani, até este comentário, do comentário, do comentário que ce vai ler nesta postagem.
Todos, contem comigo para a publicação de suas opiniões, mas saibam que sou literalmente a favor de que se publique tudo. Quando a fazer espetáculo com a desgraça alheia é coisa de linha de ação ou de conduta de veículos e editores. Sobre isso a cidadania opinará.


Amigo Fabio,

Parabéns pela competência, lucidez e responsabilidade de sua manifestação em seu primoroso texto. Pensamos iguais. Como profissionais sérios, do jornalismo, da informação, não podemos jamais nos calar, mesmo que seja contra nossos interesses pessoais, que não é nosso caso, diante desta violenta barbaridade da insegurança que está corroendo os brasileiros e no caso particular, Fortaleza. É violência sim. É imcompetencias dos dirigente, é sim ! É por esse tipo de atitude, que você é respeitado como profissional e cidadão, dentro e fora da Globo.
O meu abraço, minha admiração e meu respeito.
Ayrton Rocha

Em 4 de abril de 2010 14:40, Fabio Neiva Ibiapina escreveu:


Caro Augusto,

Eu, particularmente, não consigo separar o cidadão do jornalista. E como cidadão o que tenho visto é uma situação de caos na segurança do país. Já tive, inclusive, duas vezes com arma na cabeça. O que está ao meu alcance, no papel de jornalista, é tentar interferir na agenda do local onde trabalho, propondo pautas, discutindo abordagens, apresentando alternativas.

Assim como o senhor, eu também transito em todos os pontos do Rio de Janeiro e acompanho de perto as contradições da cidade maravilhosa. Ao ver situações absurdas, como as que foram mostradas na matéria do Jornal da Globo, vou levar para a pauta. O nosso intuito não é desmoralizar as cidades que amamos, ao contrário, tentamos criar uma agenda setting, já que muitas vezes as autoridades só agem quando o assunto vem a tona na mídia. Divulgar os fatos é nossa arma.

No Rio de Janeiro, por exemplo, não acho que exista espetacularização da notícia. Acho que há uma espetacularização do crime organizado, que fecha lojas, queima ônibus, mata jornalistas com espadas de samurai, como ocorreu com Tim Lopes, aterroriza a vida dos moradores, continua promovendo arrastões nos túneis, desfila com armas de uso exclusivo do exercito em plena luz do dia e até mesmo derruba helicópteros da polícia, algo inédito no mundo. Diante de uma situação catastrófica, de um estado que está, sim, em decadência, não podemos e não vamos nos calar. Não podemos e não vamos nos omitir.
Não iremos tampar o Sol com a peneira. É dolorido pra todos, incomoda, mas é fato. É real e está chegando aos nossos quintais. A hora de agir é agora.

Um abraço,

Fábio Ibiapina



Em 04/04/2010, às 08:43, augusto benevides escreveu:

A Rede Globo é só um exemplo citado de espetacularização da notícia e principalmente da violência.Ninguém concorda com essa onda de violência
espalhada por aí e nem questiona o padrão Globo de qualidade.Mas é preciso ter cuidado na forma da divulgação.É só uma opinião deste humilde cearense que ama o Rio de Janeiro e o Ceará.
Aqui no Ceará tem gente que se elege deputado ganhando popularidade entrevistando(ridicularizando) bandidos presos e fazendo espetacularização de notícias policiais.Tem três ou quatro eleitos assim.
Lí esse artigo e achei interessante.
Vamos compartilhar.
Aleluia!!!
Um abraço a todos
Guto Benevides
Violência: a mídia faz o retrato


Alfredo Boneff e Jamile Chequer


Entre mortos(as) e feridos(as), jornalistas e leitores(as), espectadores(as) e artistas, salvaram-se poucos(as). Em tempos de espetacularização desmedida da notícia, quando investigação e aprofundamento encontram pouco espaço, a relação entre mídia e violência parece ter chegado a um impasse. Diretrizes de mercado muitas vezes se sobrepõem à ética quando se trata de vender jornais, alavancar audiência ou multiplicar bilheterias nos cinemas. Das apelações recorrentes em domingos nem tão legais à descontextualização e mesmo criminalização de movimentos populares, é hora dos meios de comunicação repensarem seu papel nesta abordagem. As opiniões de teóricos(as) da Comunicação, jornalistas, antropólogos(as), sociólogos(as) e jovens que vivenciam a violência em suas comunidades sinalizam necessidade urgente de maior reflexão sobre a atuação da imprensa na cobertura de fatos violentos e da própria sociedade na recepção de produtos pautados pelo sensacionalismo e/ou preconceito.

Boas histórias, personagens espetaculares. Esta relação tem sido recorrente nas matérias sobre violência que ocupam as páginas de jornais e revistas e o tempo dos noticiários televisivos. A superficialidade das abordagens pode levar à perigosa crença de que práticas violentas resumem-se às ações de figuras como o Maníaco do Parque ou Fernandinho Beira-Mar.

Violência, segundo o dicionário Houaiss, é "ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral (contra alguém)". Entre outras especificidades, o dicionário também define violência como "cerceamento da justiça e do direito, coação, opressão, tirania". Talvez a mídia venha interpretando apenas parcialmente o significado da palavra, com forte tendência a privilegiar a definição inicial. Violência é fenômeno mais amplo e estrutural. Não pode ser simplificado pelos relatos de ações isoladas de algumas figuras destacadas.

Estudo de 2001 do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud) sobre o tratamento dado à violência pela televisão menciona as chamadas "ondas de crime". Trata-se da ênfase dada a determinadas modalidades criminosas, provocando a impressão de um surto de tais práticas. No período de 2 a 8 de agosto de 1998, as emissoras de TV brasileiras deram ampla cobertura ao caso de Francisco de Assis Pereira, que ficou conhecido como o Maníaco do Parque. Posteriormente, ele foi condenado pelo estupro e assassinato deuma mulher. Pereira teria tentado violentar e matar outras nove, atraindo-as ao Parque Estadual, na Zona Sul de São Paulo. A veiculação massiva de notícias a respeito do episódio não encontra correspondente nas estatísticas de crimes oficiais do estado de São Paulo. A pesquisa do Ilanud revela que os furtos corresponderam a 34,4% do total de ocorrências no terceiro trimestre de 1998. Comparativamente ao mesmo trimestre do ano anterior, os estupros diminuíram 1,8%. Não se trata de ignorar um caso que impactou pela brutalidade, mas simplesmente de contextualizá-lo, não incidindo na tentação fácil do espetáculo.

Bin Ladens e paladinos da ética

Sociológo e integrante do Laboratório de Análise de Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Ignácio Cano critica a simplificação que costuma pautar determinados procedimentos dos meios de comunicação. "Na imprensa às vezes parece que existem quatro ou cinco Bin Ladens, que seriam responsáveis pelo mal na sociedade", avalia.

Para o professor-titular do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Muniz Sodré, a violência é propícia à espetacularização. "A mídia mostra o ato de violência porque tem princípio, meio e fim, pode ser dramatizado. A dramatização da violência é um dos principais recursos da mídia para atrair a atenção do público", aponta. Bom exemplo foi a grotesca simulação dos crimes de Francisco de Assis Pereira no programa "Domingo Legal", do apresentador Gugu Liberato.

No último dia 7 de setembro, Gugu atingiria um lamentável marco da falta de ética ao exibir na atração do SBT uma falsa reportagem com atores fazendo o papel de integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Os bandidos, entre outras declarações contundentes, faziam ameaças a apresentadores como José Luiz Datena e Marcelo Rezende, ambos contratados de emissoras concorrentes.

A entrevista forjada resultou em suspensão do programa no domingo seguinte, em ação do Ministério Público. Até o fechamento desta edição, advogados do apresentador do SBT tentavam impedir que ele fosse indiciado pelo artigo 16 da Lei de Imprensa, que pune a divulgação de notícias falsas ou de fatos deturpados.
Além da discussão sobre o que teria sido uma censura do Ministério Público, chama a atenção a grita generalizada dos auto-investidos paladinos da ética jornalística, José Luiz Datena e Marcelo Rezende. Como se suas atrações não veiculassem, em doses generosas, práticas nos moldes de uma imprensa sensacionalista que amplificou seu alcance por meio da mídia eletrônica.

O jornalista e crítico de cinema Nelson Hoineff interpreta a ação do MP como censura, considerando-a injustificável. Mas faz a ressalva: "Entre forjar uma entrevista com o PCC e realizá-la de fato, elevando os bandidos à categoria de heróis, é difícil dizer o que é pior".

A mesma pesquisa do Ilanud contabilizou 1.211 cenas de crimes nas sete emissoras de canal aberto no Brasil. Destas, 714 (59%) eram de assasinatos, homicídios e latrocínios, quando tais crimes corresponderam a 1,7% das ocorrências no primeiro trimestre em São Paulo no mesmo ano.

A superficialidade no tramento da violência pela imprensa – notadamente a televisiva – preocupa também profissionais nas redações. Para João Marcelo Erthal, editor de Cidade do Jornal do Brasil, é necessário rever a ênfase no aspecto meramente factual das notícias. "Os jornais não são analíticos. Tratamos a questão da segurança pela quantidade de armas compradas ou de policiais em cada área. Mas raramente com matérias que abordem, por exemplo, a questão urbana, que está diretamente ligada à violência."

No entanto, Erthal chama a atenção para o fator mercadológico que, muitas vezes, norteia as decisões editoriais. "O jornal dos meus sonhos daria pesos iguais ou proporcionais aos fatos. Mas temos que levar em consideração que os jornais são voltados a um determinado público e que, invariavelmente, o leitor do JB vai querer uma edição mais dedicada a quem é baleado na Praça Nossa Senhora da Paz (Zona Sul carioca) do que um grupo assassinado na Baixada Fluminense", compara.

Muniz Sodré analisa de forma precisa a relação entre veículos e leitores(as). "Existe uma espécie de pacto implícito de comunicação entre o jornal e seu público. Conhecer esse público implica dizer que ele não quer análises longas. Mas, com o passar do tempo, esse pacto se torna viciado. Fica engessado", reflete o professor.

Os critérios de mercado aludidos pelo editor do JB nem sempre traduzem as estatísticas da violência. Dados registrados pela Polícia Civil mostram que os homicídios por 100 mil habitantes, somadas todas as regiões da capital, chegaram a 45,2 em 2002. Na Baixada Fluminense, tais números alcançaram 56,9 no mesmo período.

A controversa equação geografia/violência do noticiário pode ganhar contornos preconceituosos para quem vive de perto o problema. Francisco Marcelo da Cruz, 26 anos, morador do Complexo da Maré (conjunto de favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro), tem opinião contundente sobre o tema. "A imprensa tem esse problema, está sempre atrás do sensacional. Morrer pobre é normal. Por que vão botar no jornal? Pobre morre todo dia. Pobre e preto e favelado, então, é mais normal ainda", afirma. Francisco ministra oficinas de hip hop na Maré, uma das atividades promovidas pela ONG Ação Comunitária no local.

A antropóloga Alba Zaluar ressalta o descaso do poder público em relação às comunidades pobres como um fator a ser levado em consideração na abordagem da imprensa. "Essas favelas já estão despoliciadas. Quando a polícia chega, vai invadindo e atirando. Por causa disso, essas mortes são muito mais comuns. A mídia colabora no sentido de que, muitas vezes, não fica indignada com o que está ocorrendo. A não ser quando é o Tim Lopes. Quantas pessoas morreram na mesma situação? Muitas."

Ignácio Cano percebe na atuação dos meios de comunicação reflexos de preconceitos vigentes na sociedade. "A mídia exerce um filtro sobre a realidade que não é muito diferente do que faz a própria sociedade. Esta é racista, classista, desigual e dá muito mais atenção aos fatos que acontecem no Leblon (Zona Sul carioca) do que os que acontecem em Bonsucesso (Zona Norte). Isso não é a mídia que faz. Ela está refletindo tendências sociais mais profundas", avalia.

Rio

A forma como a imprensa atua na formação de um certo imaginário sobre a violência também faz parte dos tópicos abordados por quem lida com o assunto. Um possível superdimensionamento das incidências violentas ocorridas no Rio é observado com reservas pela antropóloga. "A cidade ficou associada injustamente à violência. Está longe de ser a mais violenta do Brasil", constata.

Estatísticas baseadas em dados das secretarias estaduais de Segurança Pública em 2001, das 25 capitais brasileiras, mais o Distrito Federal, mostram que as cidades com maior número de homícidios por 100 mil habitantes foram Vitória-ES, com 63,2, Porto Velho-RO, com 58,7, Recife-PE, com 49,6 e São Paulo, com 49,3. O Rio de Janeiro surge em quinto, com 35,6.

Na opinião de Muniz Sodré, a violência na cidade é problema antigo, não havendo exagero no teor do noticiário. "Suspeito que a violência possa até ser maior. Na verdade, o Rio sempre foi uma cidade muito violenta. Basta ler a crônica policial do século 19. O Centro era tão ou mais perigoso do que agora", reflete. O teórico diagnostica, no entanto, profundas distinções na natureza desta violência. Tal diferença, de acordo com ele, é deflagrada por um fator: a droga. "Ela corrói os códigos comunitários. E a sociedade é conivente, pois não se trata apenas de bandidos exercendo a violência. A sociedade também se fez bandida.

Pessoalmente não acredito em crime organizado aqui no Rio, à maneira da máfia. Acredito em bandos fortemente armados e bastante enlouquecidos. Acho que chegamos num momento em que a própria idéia de violência foi ultrapassada por uma idéia de crueldade. É uma outra instância", reflete.


Alberto Dines, editor do site Observatório da Imprensa, discorda de um suposto desequilíbrio no tratamento dado ao Rio pelos veículos de comunicação. Ainda assim, ele defende maior aprofundamento em determinados assuntos. "Moro em São Paulo e acredito que os jornais fazem uma cobertura na medida. No Rio, O Globo tem feito um trabalho exemplar ao mostrar a incompetência do governo estadual na cobertura do caso do secretário de Esportes [Dines refere-se ao suposto envolvimento do deputado estadual e secretário Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, com traficantes]. Não basta mostrar a violência, mas mostrar quem é cúmplice dela. Nesse caso, O Dia e o Jornal do Brasil enfiaram o rabo entre as pernas", afirma.

Armadilhas da ficção

A violência por vezes espetacularizada de obras recentes do cinema nacional, como Cidade de Deus e Carandiru, é comentada sob diferentes prismas. Ignácio Cano analisa os filmes de Fernando Meirelles e Hector Babenco de forma positiva. "Carandiru não é ficção, é um documentário. Realmente é um relato do que aconteceu. Acho positivo porque a sociedade brasileira vive às vezes de costas para a realidade mais trágica do país. No caso de Cidade de Deus, pessoas da comunidade ficaram preocupadas com o estigma. Mas acho que a arte brasileira começa a se preocupar com o problema social e isso é um ganho", diz.

"As armadilhas da ficção são muitas, principalmente quando há uma preocupação estética muito grande em apresentar as ações violentas. Quando se apresenta a história descontextualizada, fica pior. E, quando não se entende o contexto histórico e as relações sociais, pior ainda", opina Alba Zaluar a respeito de Cidade de Deus.


Alberto Dines coloca a questão como uma tendência mercadológica. "O cinema brasileiro capitulou à sedução. O mercado internacional quer ver a violência brasileira. Existe uma demanda do mercado internacional pelo Brasil como produtor de filmes violentos. Vi os filmes e, pessoalmente, não tenho nada contra, embora perceba alguns maneirismos", avalia.

Crítico e analista do mercado audiovisual, Nelson Hoineff critica tanto a concepção como a realização dos dois filmes. "O primeiro tende a glamorizar a bandidagem e adota uma estética de publicidade, a meu ver incompatível com a gravidade do tema tratado. O segundo, apesar de dirigido por um artista notável como Hector Babenco, compartimenta as ações e aprisiona seus personagens numa estrutura na qual não podem se mover."


Em junho de 1998, a revista Veja estampava em sua capa – em enorme close – foto do coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile. A imagem ganhou tratamento especial, num sugestivo vermelho que emprestava à normalmente sisuda expressão do líder do MST um caráter demoníaco. A chamada para a matéria dava pouca margem a dúvidas: "A esquerda com raiva". Mais recente, a edição de maio de 2000 também era veemente a respeito do movimento: "A tática da baderna – MST usa pretexto da reforma agrária para pregar revolução socialista".

Em 28 de julho de 2003, a revista Época, na seção online que reúne as melhores capas, apresentava texto também incisivo: "Uma bala no peito. Invasões de sem-teto e sem-terra, declarações incendiárias, greves e protestos contra as reformas agravam a tensão social em todo o país. Em meio à confusão, o repórter fotográfico Luís Antônio da Costa, a serviço de Época, é assassinado diante de um acampamento no ABC paulista. Leia sobre o crime, a vida de La Costa e a situação do país". Apenas por esse texto, o desavisado leitor não é informado de que o jornalista foi morto por assaltantes em fuga, que se misturaram à multidão no acampamento.

Os exemplos mencionados remetem a outro tema espinhoso para a mídia: a abordagem dos fatos relacionados aos movimentos sociais. Essas e outras matérias – nos mais diversos veículos – denotam teor por vezes superficial e maniqueísta, com títulos internos como "Sem terra e sem lei", além da montagem de Stédile caracterizado como James Bond, numa comparação com o agente secreto britânico que tem "licença para matar". Posteriormente, a Editora Abril, de Veja, foi condenada a pagar 200 salários mínimos por danos morais ao líder do MST.

Ignácio Cano aponta uma tendência a práticas estigmatizantes por parte da imprensa no que diz respeito, especificamente, ao MST. "Em geral, não há uma criminalização dos movimentos sociais. Mas, neste caso, alguns setores sociais agem realmente de forma implacável. As elites brasileiras têm muito medo de que a exclusão social se traduza em algum tipo de movimento político", analisa.


Dines compartilha das críticas às ações mais truculentas. "Existe uma relativização política. Não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Três dias depois do 11 de setembro já diziam: "Morreram 3 mil, mas...". Este "mas" é extremamente perigoso, abre um precedente. Temos que nos habituar com a idéia de que vivemos numa democracia, há formas efetivas de se protestar sem violência", acredita.

Para Sodré, as práticas da imprensa deveriam ser repensadas em relação aos movimentos sociais. Mas ele não deixa de criticar o acirramento da violência por parte de determinados setores. "O MST é o movimento social mais importante do Brasil nos últimos 30 anos, mas é preciso não romantizar. Muitas vezes as atitudes e condutas podem ser abusivas. No entanto, não há dúvida de que a mídia criminaliza. A atitude é de criminalização, é a velha idéia de que questão social é questão de polícia. E, quando se toca em terra, em propriedade fundiária, o calo aperta."

O ritmo frenético do cotidiano jornalístico impede, muitas vezes, maior aprofundamento e especialização em determinados segmentos. Isto acaba se refletindo na cobertura de assuntos como a violência. O que não exime os(as) profissionais de um exercício constante de reflexão e aperfeiçoamento.

Sodré se mostra pragmático em relação a mudanças nesse sentido. "A prática do jornalismo se esgarçou um pouco. Os jornalistas não estão habituados a questionar o modelo. Não são heróis, são profissionais. Se forem grandes questionadores, são colocados para fora ou deslocados de função."

Para o sociólogo Ignácio Cano, na cobertura da violência, ao contrário do que ocorre na economia, o jornalista carece de especialização. Ele propõe a realização de um seminário para a qualificação desses profissionais. "Temos a idéia de fazer pesquisa, por exemplo, de como a imprensa cobre os fatos violentos. Gostaríamos de contribuir no processo de formação desses profissionais que lidam com violência e segurança pública."

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