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Ciro e o Destino


THEÓFILO SILVA
Contam que o falecido senador Antônio Carlos Magalhães dizia que alcançar a Presidência da República é destino, e não simplesmente uma luta em que o mais capaz sai vencedor. Pode ser. No entanto, não acredito que Itamar Franco ou José Sarney tenham um dia sonhado ou lutado com o claro objetivo de chegar à presidência, como efetivamente chegaram. Mesmo o destino parece precisar de ajuda para realizar seus desígnios. Pois, mesmo que a sorte contemple um ou outro de vez em quando, a realização desses afortunados não é completa, já que não construíram sua carreira passo a passo nem de forma consciente, sendo assim carecem de legitimidade.
A meteórica carreira política de Ciro Gomes no estado do Ceará: deputado, prefeito, governador e ministro da Fazenda já aos 36 anos de idade – com a idade onde muitos começam, ele já podia ter terminado a sua – o fizeram sonhar e lutar, legitimamente, para alcançar mais alto cargo do país, que é a Presidência da República. Se ainda não chegou lá, não foi por estupidez ou falta de valores legítimos, mas por falta de um partido político com representatividade nacional. Se uma ou outra de suas declarações, às vezes tolas e arrogantes, à moda de Coriolano, contribuiu para afetar sua imagem, serviu também para diferenciá-lo da hipocrisia da imagem de bom caráter construída pela maioria dos políticos. E não acredito que esse tenha sido um fator de grande relevância para tirar-lhe as chances de chegar a Presidência nas eleições passadas.
Outros criticam sua amizade com o senador Tasso Jereissati - o homem que lhe deu a mão no início de sua carreira política - como empecilho a alianças políticas no Ceará e no resto do país. Os que o criticam por colocar a amizade acima da política estão completamente enganados. Uma sólida amizade que se sobrepõe aos, na maioria das vezes, sórdidos interesse da política, pelo contrário, deve ser encarado como uma grande virtude e como algo contrário ao mundo maquiavélico da política.
Achar que não haveria um jogo desleal, tanto nos bastidores como em público, de desestabilização de sua candidatura pelo governo e, vergonhosamente de seu próprio partido, seria pura ingenuidade de Ciro. Coisas como ética, moral, vergonha, palavra empenhada, respeito, dignidade, verdade não pertencem ao mundo da política. Na política brasileira, infelizmente vale, em primeiro lugar, o completo interesse individual, “o que é melhor para mim”. Somente o partido político é que ainda pode dar algum freio nas ambições pessoais. É esse o pressuposto de uma democracia como a nossa, ainda cheia de falhas.
Ciro diz que não sabe o que vai fazer depois de tudo isso. Que pode fazer o mesmo que Tímon de Atenas (retirou-se para o campo) viajar pelo mundo, escrever um livro, gravar um disco ou dedicar-se completamente a família. Duvido que Ciro faça qualquer uma dessas coisas. Ciro Gomes vai continuar na política, conversando, debatendo, construindo, dando as cartas no Ceará e esperando o momento certo. Ele é novo e ainda dá tempo. Não chegar lá não significa ser derrotado.

Mesmo porque, como diz Shakespeare pela boca de Menécrates, “demora não é recusa”.

Theófilo Silva é autor do livro "A paixão Segundo Shakespeare" e articulista

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