
De forma silenciosa, a senadora Patrícia Saboya (PDT) está empenhada em se reeleger ao Senado em outubro, o que pode complicar ainda mais o quadro de alianças partidárias no Ceará. A estratégia da senadora é fazer uma “dobradinha independente” com o senador Tasso Jereissati (PSDB), como ela declarou em entrevista ao Política Real/O Estado.
O principal entrave para essa aliança estadual são as divergências no plano nacional. O presidente do PDT, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, já declarou intenção de apoiar a candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff. Enquanto Tasso é apoiador do presidenciável tucano, José Serra.
Ex-mulher do deputado federal Ciro Gomes (PSB), Patrícia Saboya “não se anima” nem com Dilma nem com Serra. Seu candidato preferido era Ciro, cuja pré-candidatura foi afundada por decisão do seu partido. Para Saboya, a falta de ousadia do PSB em lançar candidato próprio dá ao partido aparência de “mais uma dessas alianças periféricas de que o PT precisa”.
Com a senadora concorrendo à reeleição, a disputa ao Senado no Ceará ficará mais acirrada. Além de Tasso, já está confirmada a candidatura do deputado Eunício Oliveira (PMDB), que conta com o apoio do governador Cid Gomes (PSB). Cobrando reconhecimento de Cid, ainda tenta sair ao Senado o ex-ministro da Previdência, o deputado José Pimentel (PT).
Embora neste ano sejam eleitos dois senadores, Cid resiste em dar apoio a Pimentel. O governador quer apoiar o tucano Tasso e acha suficiente a vaga de vice-governador ao PT. Apesar de estar ao lado de Cid, Patrícia Saboya afirma que sua candidatura ao Senado não depende de seu apoio formal. Ela também critica o PT por estar exigindo muito e diz que a disputa pode afastar o partido de Cid.
O Estado: Qual é seu futuro político nas eleições de outubro?
Patrícia Saboya: Eu vou tentar a reeleição até o momento que eu acho que houver viabilidade. É um quadro muito difícil no Ceará, tem muitas candidaturas fortes. Mas ainda é um quadro muito confuso de palanque e alianças. Se eu achar que não há viabilidade, eu não sou uma pessoa obsessiva. Meu objetivo é ajudar, então eu poderia disputar o mandato de deputada federal.
OE: O que tornaria sua candidatura à reeleição inviável?
PS: A impossibilidade de as alianças se concretizarem. Tenho a possibilidade de uma dobradinha independente com o senador Tasso Jereissati, mas isso vai depender de uma aliança do meu partido ou da liberdade de fazer essa composição. O PT aqui está tendo uma disputa muito grande com o principal aliado, que é o governador Cid Gomes, e isso pode afastá-los nessa eleição. Eu tenho que aguardar esses quadros.
OE: O que seria uma dobradinha independente com o Tasso?
PS: Nós apoiaremos o governador, tanto o Tasso como eu, mas não necessariamente apoiaremos o mesmo candidato à Presidência da República. O PDT não se definiu ainda, apesar de a principal liderança do partido hoje, que é o ministro Carlos Lupi, ter anunciado tendência de apoio à ministra Dilma. Eu pessoalmente não me animo, nem com uma, nem com outra candidatura. Até porque, todos sabem, meu candidato era o Ciro.
OE: A senhora segue o PDT no apoio a Dilma Rousseff?
PS: A tendência do PDT é de apoiar, mas eu realmente não tenho simpatia por essa candidatura. Na minha opinião, ela não representa aquilo que o Brasil precisa. Nós não podemos ter agora uma pessoa que, apesar de todos os seus valores, não tem experiência nem preparo para governar um país. Não basta ser apenas boa tocadora de órgão, é preciso ter experiência e habilidade. É preciso ter alianças que sirvam para o crescimento do Brasil, e não alianças escuras, por detrás dos panos. Eu não me animo com essa candidatura, assim como eu também não me animo com a candidatura do José Serra.
OE: E sem Ciro Gomes, o que resta como opção?
PS: Eu acredito na Marina Silva (PV). É uma mulher preparada, batalhadora. É uma mulher extraordinária, um exemplo de dignidade para o nosso País. Ela tem as mesmas dificuldades de Dilma, por não ter a experiência de um mandato executivo, mas é uma senadora, tem o respeito do Brasil, tem a preocupação com uma das áreas mais importantes, que é a área da ecologia e do meio ambiente. Além disso, é uma mulher que tem uma vida completamente limpa e transparente. E eu me apaixono muito pelo entusiasmo da Marina com o País.
OE: Qual é sua opinião sobre o PSB não lançar Ciro Gomes como candidato a presidente?
PS: Eu respeito, não é o meu partido, mas acho que era um momento completamente possível de uma candidatura. O PSB deveria e poderia ter ousado muito mais. O partido que deseja crescer, se estabelecer, ser respeitado, precisa disputar eleição. Infelizmente, não disputando, fica parecendo que é mais uma dessas alianças periféricas de que o PT precisa.
OE: Sua candidatura à reeleição depende do apoio do governador Cid?
PS: Não necessariamente. Se eu achar que há viabilidade de fazer um palanque com o senador Tasso... O que o Cid tem dito aqui é que o único compromisso que ele tem é com a candidatura do PMDB, que é do Eunício Oliveria. Quanto ao resto, ele diz que não aceita de forma alguma pressão, porque o PT tem direito, pela aliança, a uma vice-governadoria. Mas o PT quer a vice, quer uma senatoria, e ainda quer exigir que o Cid não receba a aliança formal do PSDB. Eles estão exigindo muita coisa.
OE: A sua candidatura à reeleição é o caminho mais provável?
PS: Não sei ainda. Estou trabalhando mais silenciosamente que os outros candidatos. Tenho pesquisa que mostram que eu tenho uma boa situação. Mesmo assim, eu prefiro ser mais comedida. Todo mundo já tem anunciado vitória, mas prefiro esperar os acontecimentos.
Senadora bate forte na gestão de Luizianne Lins
Questionada pelo jornal O Estado sobre as relações do PT cearense com o governador Cid Gomes, Patrícia Saboya desferiu fortes críticas contra a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins.
OE: A senhora está acompanhando essa tensão pré-eleitoral entre PT e PSDB aqui no Ceará, onde o PT parece estar pressionando por uma aliança exclusiva com o governador Cid Gomes?
PS: Estou acompanhando como todos os cearenses. Uma aliança que parecia tão saudável e de repente se desmaterializou, mostrando que não havia na verdade uma coincidência de propósitos, na maneira de se pensar, de agir, na filosofia, na ideologia e na maneira de se fazer política e se fazer gestão. Agora vai depender da capacidade tanto do governador, como do PT, em recompor isso ou não.
OE: A senhora acha possível a aliança PT-Cid ser mantida, diante de toda essa tensão?
OS: É difícil dar alguma opinião, porque sou de outro partido. Mas, diante do que eu tenho acompanhado, vejo que há um desgaste muito grande e que objetivamente tem sido muito difícil a união de esforços por uma Fortaleza melhor, o que foi promessa de campanha da Luizianne Lins. Ela dizia que, ao lado do Lula e ao lado do Cid, ninguém a segurava. Em quase dois anos de administração, nenhuma das promessas foi concretizada. Nem da primeira campanha [2004] e nem da última. Fortaleza está um caos. A situação da saúde está cada vez pior.
Os jornais estampam todos os dias. O maior hospital da cidade está paralisado por problemas de queda de energia. Isso não é problema de agora, é desde a época de campanha. Os médicos e o corpo de saúde que eu visitava tinham me afirmado isso, do perigo e da urgência de se resolver aquele problema.
Eu não vejo nenhum programa social, a não ser o anúncio dos CUCAS, só o anúncio. Só tem um pronto [CUCA Che Guevara, na Barra do Ceará], e mesmo nesse, sem crianças nem adolescentes para aproveitar aquele espaço extraordinário.
Do Hospital da Mulher, que foi uma obra que Luizianne prometeu tanto, ainda não tem absolutamente nada pronto. A não ser fotografia de mentirinha fingindo que está visitando o hospital. E aí você vê, ela não consegue manter o IJF e diz que vai terminar o Hospital da Mulher... Iludindo as pessoas na pior hora de suas vidas, que é na hora do problema de saúde.
Você não vê a prefeita em nenhuma coisa importante dessa cidade, não vê comprometimento nem responsabilidade com nada. Nada acontece em Fortaleza, enquanto outras cidades estão deixando a gente na poeira. (com informações de Evam Sena, especial para a Política Real, e Fabiana Maranhão, do O Estado).
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