Comoção e revolta


Familiares e amigos do jovem Bruce Christian cobram justiça por parte do Estado


Por Elvira Sena
Especial para O Estado

Comoção, tristeza e indignação. Assim se traduz o ambiente na Igreja Assembleia de Deus, no Conjunto Timbó, em Maracanaú, ontem, durante o velório do estudante Bruce Cristian de Souza Oliveira, 14 anos. O enterro foi ontem mesmo, no Jardim do Éden, em Pacatuba. O adolescente foi executado com um tiro na nuca no final da tarde de domingo. O autor do disparo foi o soldado da Polícia Militar Iuri da Silveira Batista, 25.
Ainda muito abalados, familiares do garoto não quiseram falar. O pai, Francisco das Chagas, e a mãe, Aglaísse Vieira de Souza, acompanharam todo o velório durante a manhã. Francisco estava sob o efeito de medicamentos e a mãe chorava bastante. Bruce era o mais velho dos três filhos do técnico de refrigeração Francisco das Chagas.
O avô paterno do garoto estava revoltado. “Quero justiça. Tenho esperança de que tudo seja resolvido e haja justiça neste caso”, disse o avô, Francisco Eufrásio de Souza. “Estou revoltado. Criei 10 filhos com muita dificuldade e nenhum deles é vagabundo. Sei que meu neto não vai mais voltar. Mas espero que haja justiça”.

Vizinhos estavam chocados
A família de Bruce reside no Conjunto Timbó há muitos anos. Moradores do bairro estavam solidários com os parentes do garoto. “A gente sabe que a perda maior foi para a família. Isso tudo representa, na nossa opinião, um despreparo muito grande da Polícia. Se os policiais tivessem mais treinamento, isso não teria acontecido”, disse a dona de casa Darlene Glória.
“Ficou todo mundo muito chocado com uma ocorrência bárbara como esta. A gente se coloca na posição da família desse garoto que morreu”, lamentou Fátima. “Quem disse que cidadão é para ser baleado?”, desabafou outra moradora do bairro, Nazira Nascimento. Ela e Fátima moram no Timbó, há 26 anos, e conheciam o estudante morto deste criança.
O técnico em refrigeração Roberto Maza também era amigo da família. “Eu vim até ao local do velório, mas fiquei tão abalado que não tive coragem nem de ver o corpo. Vi esse menino nascer. Eu já acompanhei, em toda a vida, o sepultamento de dois parentes meus. E confesso, nunca fiquei tão emocionado como agora”.
Outro morador do bairro, o aposentado José de Sousa, revelou que o menino era muito querido. “É muito triste a gente ver uma coisa dessa acontecer. Era um estudante muito obediente, frequentava a igreja. Acho que a Polícia não é para matar, mas para guardar a população”.

Como o caso aconteceu
O estudante Bruce Cristian estava na garupa da motocicleta pilotada pelo pai, Francisco das Chagas. Os dois estavam na Avenida Desembargador Moreira, perto do cruzamento com a Rua Padre Valdevino, no Dionísio Torres. Segundo a Polícia, o soldado disse que teria ido para uma abordagem na rua. Tinha sido chamado por causa de uma Hilux que estaria com homens armados. Seguindo na rua, ele se deparou com a moto. Disse que mandou os ocupantes da moto pararem e não foi atendido. Quando o veículo parou em um sinal, houve o disparo. O garoto foi atingido na nuca e morreu na hora. O soldado PM se apresentou à Polícia no domingo. Ele prestou depoimento no 2o Distrito Policial (Aldeota) e agora vai ficar à disposição do Batalhão Comunitário.

desabafo: “O que eu tenho
que dizer? Dar os parabéns ?”

Em entrevista ao programa Barra Pesada, da TV Jangadeiro, o pai do estudante Bruce Cristian, Francisco das Chagas demonstrou toda a sua revolta. A equipe do jornal O Estado teve acesso ao desabafo do pai.
“É uma irresponsabilidade um policial desses trabalhar. Não sei como o Governo do Estado coloca um monte de policial desses, sem experiência. Para promover o quê? Politicagem? É isso?”, indignou-se o pai.
Francisco das Chagas lembra que o filho tinha apenas 14 anos e tinha ido com ele fazer um serviço de técnica em refrigeração. “Meu filho era uma criança. Tinha 14 anos. Um idiota desses que não entende o significado de ser pai, trabalhador, cometem uma barbeiragem dessas?”
O pai afirma que estava parado na moto no semáforo. “O ônibus saiu eu sai na moto e ouvi o grito. Quando olhei para trás, era o policial. Aonde é que um ser humano vai ter condição, de costas, de olhar para quem vem atrás, gritando ‘pare’? Sem sirene? O cara vinha correndo, desceu da viatura. Por que não ligou a sirene? Para eu saber que era a Polícia?”, disse.
“Pelo amor de Deus! O tiro pegou a cabeça do meu filho! Eu pensava que era só uma queda. Quando vi o meu filho com um tiro na cabeça, sangrando. Você sabe o que é isso?”. Indignado, Francisco fez questionamentos às autoridades. “Pergunte a um idiota desses , o secretário de segurança, e outro ..., o governador do Estado: se fosse com um filho deles? Parabéns Governo do Estado! É isso que eu tenho que dizer?

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