
Pra não comprometer o barraqueiro, cada um velou o seu. Ninguem disse que era proibido beber, mas vender bebida alcoolica.
Por Thatiany Nacimento
Da Redação
As eleições de ontem parecem não ter alterado a rotina dos fortalezenses e turistas que aproveitaram o domingo para ir à praia. Enquanto a votação ocorria País afora, na Capital cearense a combinação sol, mar, diversão, não foi deixada de lado, sendo apenas adiada por algumas horas, já que a maioria do público optou por votar antes de deslocar-se até a orla.
Na Praia do Futuro a movimentação parecia normal, sem grandes modificações em decorrência do processo eleitoral. Famílias, turistas, banhistas, todos aproveitando o dia de lazer, enquanto barraqueiros e ambulantes cumpriam a rotina de serviço. O único “obstáculo” para que a diversão fosse completa foi o cumprimento da chamada “Lei Seca”, que ainda parece ser um desafio para os eleitores cearenses.
Público
O turista de Manaus, Eriko Gonçalves, disse ter justificado seu voto no período da manhã para aproveitar o lazer da praia durante o resto do dia. Ele, que consumia bebida alcoólica, afirmou ter comprado dos ambulantes que não deixaram de vender o produto na praia. Para Eriko, a proibição deveria ser restrita cidades litorâneas, no caso dos turistas. “As cidades que têm como ponto turístico a praia, deveriam não aderir à regra”, apontou.
Já o fortalezense René Melo, acompanhado com um grupo de amigos, lamentou não ter conseguido comprar bebidas nem com os ambulantes. René, que disse ter ficado impressionado com o movimento na praia em pleno dia de votação, acredita ser importante a proibição mesmo achando que a regra compromete um pouco o lazer de quem optou por não ficar em casa.
Prejuízo
Para os donos de barracas, a proibição acarreta prejuízos já que a maioria do público que vai aos estabelecimentos ingere algum tipo de bebida alcoólica. O gerente da barraca Croco Beach, Heitor Batista, afirmou que o faturamento caiu 50%.
De acordo com ele, mesmo as pessoas recorrendo a outras bebidas não alcoólicas, o impedimento sem dúvidas acarreta prejuízos. Entretanto, mesmo com esse “dano” contabilizado, o gerente declarou que acha válida a proibição. “Como cidadão acho válido esse tipo de iniciativa, mas como gerente de um estabelecimento não tem com achar bom. Acredito que não devia ser tão enérgica essa regra, porque em no caso atendemos também turistas, que acabam sendo prejudicados”, destaca.
Ainda segundo Batista, o público ignora a regra e acaba insistindo para que sejam servidas bebidas alcoólicas de maneira “disfarçada”. Reforçando o coro, o proprietário da barraca Marulho, Hugo Queiroz, também comentou a insistência dos clientes para burlar a regra. “As pessoas insistem, pedem para servirmos cerveja em coco, para colocarmos vodka em garrafas de água, coisas desse tipo. Mas estamos atentos a fiscalização e não queremos ariscar”, destaca.
O proprietário, que considera a medida radical, avaliou o movimento na barraca como “fraco”, dizendo ter 60% de pessoas a menos no estabelecimento. Ele assegurou que a medida estava sendo cumprida a rigor na barraca por isso essa “baixa”. “Trabalhamos hoje sem vender bebidas, por isso esse cenário. As pessoas estão comprando dos ambulantes, nas barracas não”, afirmou.
Há quem venda
O trabalhador Josivaldo Lima, que tem uma “barraca improvisada” no local, vendia bebidas normalmente. De acordo com ele, durante o período da manhã, a comercialização foi apenas de cerveja e, somente a partir do meio dia, ele iniciou a venda de bebidas destiladas. “A diferença é que quem cumpre a lei acha que está todo mundo cumprindo, mas as coisas não funcionam assim, é relativo. Toda eleição é a mesma coisa”, comentou.
Josivaldo salientou ainda que o movimento na praia e as vendas não fugiam a rotina. “Nem parece eleição. Tudo está tranquilo. Fui votar agora a tarde de tão calmo que está”, analisa.
Bebida alcoólica proibida
Determinada por uma portaria da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), a famosa lei proibia inicialmente a venda e o consumo de bebidas alcoólicas em bares, restaurantes e demais estabelecimentos abertos ao público no Estado durante todo o dia de ontem.
Na última sexta-feira, o Sindicato de Restaurantes, Bares e Barracas de Praias (Sindirest) recorreu da determinação e conseguiu uma liminar suspendendo a regra na capital. No entanto, o pleno do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE/CE) decidiu que cada juiz eleitoral poderia emitir sua própria portaria, no âmbito das suas jurisdições. Assim sendo, a juíza eleitoral Marlúcia de Araújo Bezerra baixou sábado uma portaria reativando a proibição em Fortaleza.Foi solenemente ignorada.
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