Não pretendo registrar neste artigo o fim da Era Tasso por motivos pessoais – eu até que os teria, e muitos, porém não me movem sentimentos negativos de vindicta ou de tripudiar sobre derrotados. Acho oportuno assinalar o fato em consequência das discussões no plano nacional sobre mecanismos de controle da liberdade de imprensa, acirradas no decorrer da campanha presidencial.
E o que tem a ver uma coisa com a outra? Explico: no início das mais de duas décadas de predominância da Era Tasso, uma das primeiras ações do ex-governador foi menosprezar, humilhar, tentar calar e censurar a imprensa local e jornalistas cearenses, de um modo geral, e, em particular, aqueles veículos e profissionais considerados, por algum motivo, não simpatizantes ao governante no poder.
Historicamente, a primeira medida tomada pelos déspotas é tentar silenciar a imprensa. Desta forma, tudo fica mais fácil de dominar. Felizmente, a roda da história não para e os homens passam, mas as instituições permanecem, fortificam-se, solidificam-se nos momentos de dificuldades e provações. A história recente do Ceará, que tem entre seus protagonistas o senador Tasso Jereissati e o jornal O Estado, é um exemplo memorável dessa realidade.
Eleito pela primeira vez ao Governo do Estado em 1986, com o apoio do então governador Gonzaga Mota, com quem romperia mais tarde, Tasso, durante 24 anos e sucessivas eleições, ditou o ritmo da política cearense de tal modo que era tido por muitos como um político que jamais perderia eleição no Ceará. De lá para cá, elegeu Ciro Gomes – de quem declarou, depois de rompido, estar decepcionado – prefeito de Fortaleza, em 1988, e, dois anos depois, o fez sucessor de seu próprio governo.
Em 1994, Tasso voltaria à chefia do Executivo cearense para, quatro anos depois, reeleger-se governador. Na eleição seguinte, foi eleito senador da República e emplacou Lúcio Alcântara como sucessor ao Palácio Iracema – para abandoná-lo politicamente quatro anos depois. O DNA da Era Tasso é uma mescla de alianças com grandes grupos econômicos – a elite econômica dominante no final da década de 1980, tendo como base o Centro Industrial do Ceará e principal financiadora de suas onerosas campanhas eleitorais pagas a preço de ouro – à união esporádica e oportunista com políticos com quem logo romperia, como os governadores Gonzaga Mota, Beni Veras, Ciro Gomes e Lúcio Alcântara, sem falar nos amigos de infância e aliados, como Sérgio Machado e Amarílio Macedo.
Nesse longo período, Tasso fazia e acontecia. Governava com mão de ferro. Perseguia adversários políticos, traía amigos e aliados, não respeitava o parlamento e desdenhava das decisões judiciais. O funcionalismo público sofreu nas mãos de Jereissati com salários achatados, demissões, transferências e perseguição. Políticos que não rezassem pela cartilha do governo eram perseguidos em seus redutos eleitorais, até a derrota nas urnas. A relação com a imprensa foi conflituosa do começo ao fim da Era Tasso.
Mesmo antes de assumir, no primeiro mandato, extinguiu a Secretaria de Comunicação Social. Dava entrevistas a quem queria, quando queria e onde queria. Discriminava jornais e jornalistas. Perseguia profissionais e suspendia jornais e rádios da propaganda oficial. Durante 20 anos, o jornal O Estado esteve fora da mídia governamental. O tempo passa e a situação muda. Assim como fez com Gonzaga Mota, logo no início do governo, Jereissati finalmente rompeu com Ciro e Cid Gomes, sendo obrigado, pela primeira vez, a disputar uma eleição sem o amparo da máquina pública. O resultado está aí: derrota e fracasso total. Só não afundou de vez o PSDB por conta da batalha de candidatos a deputado que, abandonados por ele, foram à luta e surpreenderam em número de eleitos na Assembleia Legislativa.
Na Câmara Federal, o PSDB só elegeu o valente deputado Raimundo Gomes de Matos. O senador, até o fim da campanha, preocupou-se apenas com seu mandato. Mais uma vez desconheceu o candidato do seu partido à Presidência da República, José Serra, para quem em momento algum pediu votos. Até mesmo o outro candidato ao Senado na aliança partidária a qual pertencia, o empresário Alexandre Pereira, só teve o nome mencionado na última semana de campanha, quando Jereissati não conseguiu falar com o também candidato ao Senado pelo PMDB, Eunício Oliveira, para propor uma dobradinha secreta.
Neste quarto de século em que predominou na política cearense, não obstante a imagem de modernizador, cujas bandeiras eram a da suposta promoção de mudanças estruturais e políticas no Ceará, Tasso legou um estado pobre - de acordo com o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, atualmente, 51% da população cearense estão abaixo da linha da pobreza, sendo que 21% dos cearenses vivem em situação de extrema pobreza – e no qual a concentração de renda é gritante – o abismo da desigualdade entre os cearenses expandiu-se mais, apesar do crescimento econômico do Estado.
A despeito de ter usado as suas boas relações com o governo Fernando Henrique Cardoso, trazendo para o Ceará grandes projetos estruturantes realizados com recursos federais, como o Porto do Pecém, ampliação e reforma do Aeroporto Internacional Pinto Martins, início da obras Eixão das Águas e a conclusão do Açude Castanhão, a fama de modernizador de Jereissati também se encerra nas perseguições que promoveu a empresários e políticos não alinhados ao seu modelo, nas dificuldades que o funcionalismo público viveu sob o seu tacão e na dilapidação do patrimônio dos cearenses, como o Banco do Estado do Ceará – o BEC – e a Coelce, cujas vendas para a iniciativa privada e os recursos que teriam sido arrecadados, até hoje, não foram explicados e nem entendidos por seus verdadeiros donos, o povo do Ceará.
Hoje, o eleitor, através do voto livre e democrático, relegou Tasso ao ostracismo, de onde dificilmente sairá. O homem que pretensamente se apresentou como modernizador da política foi agora tornado obsoleto pelas mãos do cearense, aquele mesmo povo que prometeu salvar. Na primeira eleição sem o apoio da máquina do governo, Tasso Jereissati é derrotado e, ao que tudo indica, está fora da política. É o fim da chamada Era Tasso. Resta ao Sr. Jereissati voltar às suas empresas e efetuar o pagamento das contas da campanha derrotada.
Ricardo Palhano - Jornalista
Eita Macário! A companheirada do PT tá é danada. O jornalista aí só faltou levar o senador Tasso Jereissati ao purgatório. Faça isso não companheiro!! Imagine se o Serra chegar a ganhar a eleição....Caro Palhano, olhe ao seu redor e veja as mazelas que o seu governo vem aprontando...fisiologismo descarado, compra de apoios, hegemonia, centralização, corrupção, além da ânsia sem fim de transformar uma democracia já fragilizada em uma ditadura estilo a "la Venezuela"... quanta hipocrisia!
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