Na entrevista, quando foi questionado sobre o que desejava para seu futuro, Battisti pediu uma “reconciliação” com a população italiana, assim como outros países já fizeram. Segundo ele, é necessário “virar a página”. “Assumo minhas responsabilidades políticas e militares. Mas, atenção: não matei ninguém”, disse o ex-ativista, que voltou a defender sua inocência. Ele lembrou que foi condenado com base no depoimento de um único “arrependido”, seu ex-chefe de grupo Piero Mutti, preso em 1982.
O italiano comentou ainda que deseja uma mudança na Itália em relação às normas de concessão de anistia, mas que não acredita que isso será possível com a simples saída do ex-premiê Sílvio Berlusconi do governo: "ficam os mesmos partidos e as mesmas pessoas".
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O ex-ativista Cesare Battisti
Na entrevista, ele também revelou que está perto de publicar seu primeiro livro desde que saiu da prisão. Também afirmou que tem esperança de voltar um dia em Paris: "É lá onde eu realmente cresci intelectualmente, e também onde treinei”.
Imprensa
Battisti também fez duras críticas ao jornal Folha de São Paulo, que, em 4 de setembro deste ano, publicou uma entrevista concedida por ele. Na chamada da primeira página, ele aparecia com uma foto dele sorrindo onde portava uma caneca de cerveja na mão, sob o título “La Dolce Vita clandestina”. "Imagine o efeito que uma fotografia dessa pode produzir", diz. “Um desastre”.
Segundo Battisti, o jornal lhe teria dito que queria “restaurar a justiça para mim e eu acreditei nele", diz Battisti. "Eles organizaram uma armadilha para me machucar". O ex-ativista afirma que, por trás disso, existiriam "fontes próximas à Embaixada de Itália”, “grupos de extrema-direita”, e “velhos conservadores” hostis a ele.
Na ocasião, a ombudsman da Folha Suzana Singer inocentou a reportagem, mas admitiu que houve excesso na edição. Segue um trecho: “A reportagem está correta, mas a mão pesada da edição estragou o resultado. O corte dado à foto original amplia o entrevistado e a sua cerveja, fazendo com que a risada, ao lado do 'la dolce vita clandestina' [sarcasmo expresso na legenda], soe como um deboche”.
Histórico
No final dos anos 1970, o ex-ativista foi condenado à prisão perpétua na Itália pelo assassinato de quatro pessoas, quando integrava o grupo de extrema-esquerda PAC (Proletários Armados pelo Comunismo). Battisti nega a participação e diz ser inocente. Para as autoridades brasileiras, ele deve ser tratado como preso político por sofrer ameaças.
Battisti mora atualmente no Brasil, onde entrou em 2004, após refugiar-se na França e no México. Foi preso em 2007 e, dois anos depois, o governo brasileiro concedeu-lhe o status de refugiado político. Após uma batalha judicial, deixou a prisão definitivamente em 9 de junho de 2011, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) confirmou a decisão do ex-presidente Lula de mantê-lo no Brasil. A Itália pedia a extradição de Battisti alegando que ele deve ser tratado como preso comum por ter sido condenado à revelia pelos supostos crimes.
Atualmente, Battisti mora com a mulher brasileira em uma casa emprestada em Cananéia, no litoral de São Paulo. Mas afirmou na entrevista que pretende mudar-se para o Rio de Janeiro.
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