SARA OLIVEIRA
saraoliveira@oestadoce.com.br
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FOTO: NAYANNA MELO / O ESTADO
Fortaleza tem 27 imóveis tombados (definitivo e temporário) como patrimônio histórico municipal. A proteção cultural não impede, porém, sua degradação. Décadas de vidas impregnadas em tijolos que podem desaparecer, cair. Do passado, três grandes hotéis fortalezenses ainda estão de pé: Lord Hotel, Iracema Plaza e Esplanada. Especialistas afirmam que desabamentos são improváveis, mas confirmam a perda de escombros, esquadrilhas, reboco e muita história.
A vistoria preventiva sobre a infraestrutura de prédios antigos na Capital só acontece através de demanda, que pode vir da população, poder público ou Judiciário. Não há nenhuma lei que obrigue cuidados com o que já não tem mais tanta força. Com sorte, os proprietários acham uma utilidade para o local e investem. Se isso não ocorre, o desuso fala mais alto e o lugar vai se desfazendo, a cada viga de ferro que se sobrepõe ao cimento, cada pedaço de alvenaria desfeito que chega ao chão e pelos tantos detalhes decorativos que, antes arte, tornam-se entulho.
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea), Victor Frota, alerta que estruturas deterioradas, se não estiverem com danos de alicerce, podem ser recuperadas. “Nenhum destes prédios corre risco de desabar da noite para o dia, mas apresentam queda de janelas, problemas de marquise e de revestimento, principalmente durante a época de chuvas. Mas tudo pode ser reconstruído, sem precisar implodir”, explicou.
Conforme ele, prédios tombados deveriam ser desapropriados, para que a preservação não dependesse do dono do imóvel. O conflito entre lei, posse, divisão e patrimônio ainda é o entrave para que o Edifício São Pedro, o antigo Iracema Plaza, na rua Ararius, Praia de Iracema, não exiba mais apenas a forma de navio. O prédio, existente desde 1951 e tombado pela Prefeitura em 2006, é um emaranhado de apartamentos, atalhos e formas arquitetônicas invejáveis que, hoje, são encobertos pelo preto das paredes, vermelho da alvenaria e por um toldo protetor, que impede que um pedaço de concreto caia na cabeça de alguém.
“REBOCO QUE CAI DO CÉU”
Em 2008, a Coordenação de Patrimônio Histórico e Cultural (CPHC) de Fortaleza até elaborou laudo técnico que indicava a necessidade de reformas no prédio. Mas o imbróglio envolvendo seus proprietários, que são mais de 15, impediu que a ação fosse executada. Portanto, até hoje, nada foi feito, restaurado ou, de fato, preservado. Mesmo tombado, segundo a arquiteta e supervisora do Equipamento de Memória da CPHC, Márcia Sampaio, alguma ação do poder público só acontecerá, de urgência, “no momento de prejuízos”.
Em 2008, a Coordenação de Patrimônio Histórico e Cultural (CPHC) de Fortaleza até elaborou laudo técnico que indicava a necessidade de reformas no prédio. Mas o imbróglio envolvendo seus proprietários, que são mais de 15, impediu que a ação fosse executada. Portanto, até hoje, nada foi feito, restaurado ou, de fato, preservado. Mesmo tombado, segundo a arquiteta e supervisora do Equipamento de Memória da CPHC, Márcia Sampaio, alguma ação do poder público só acontecerá, de urgência, “no momento de prejuízos”.
Conforme ela, a coordenação executou algumas vistorias técnicas no lugar, mas sem ações efetivas. Transformar o prédio em um espaço cultural é um dos sonhos da arquiteta. “É preciso envolvimento da população, para exigir e planejar mudanças para o patrimônio histórico e cultural, que é delas”, opinou. A história do São Pedro persiste, apesar da falta de conservação. Lá, ainda é possível encontrar comércios, moradores e adoradores do lugar.
O coordenador da Defesa Civil de Fortaleza, Alísio Santiago, disse que nunca vistoriou o prédio do antigo Iracema Plaza, mas afirma conhecer os problemas estruturais de outras dezenas de edifícios que encontram-se na mesma situação. “Depois de construído, a fiscalização sob o olhar do poder público só funciona por cinco anos”, frisou Alísio. Desde 2010, técnicos do órgão visitam cerca de 100 prédios na Capital, detalhando falhas hidráulicas, elétricas e de revestimento.
O coordenador da Defesa Civil de Fortaleza, Alísio Santiago, disse que nunca vistoriou o prédio do antigo Iracema Plaza, mas afirma conhecer os problemas estruturais de outras dezenas de edifícios que encontram-se na mesma situação. “Depois de construído, a fiscalização sob o olhar do poder público só funciona por cinco anos”, frisou Alísio. Desde 2010, técnicos do órgão visitam cerca de 100 prédios na Capital, detalhando falhas hidráulicas, elétricas e de revestimento.
A edificação do Esplanada Hotel, construção da década de 1970, localizado na avenida Beira Mar foi uma das visitadas. Alísio lembrou que foi detectada queda de material no lugar. “O responsável, na época, tomou as previdências necessárias”, disse. Alísio detalhou que um relatório geral é feito sobre o imóvel visitado, se os problemas apresentem riscos à população, há intervenção.
A propriedade do Edifício Esplanada seria de um grupo de portugueses que, segundo comerciantes de seu entorno, tentou construir mais três andares, mas o estrutura não teria suportado.
O presidente do Crea/CE destacou que, no caso dos edifícios São Pedro e Esplanada, os danos são mais visíveis. “Com a ação do vento, trazendo o sal do mar, gera enorme oxidação. Com o tempo, ataca a ferragem estrutural e fica só o concreto”, avaliou. O futuro do prédio privilegiadamente localizado em plena Beira Mar ainda é incerto. Por enquanto, no meio das colunas “comidas”, um antigo extintor de incêndio lembra que já houve vida, vista para o mar e segurança.
O presidente do Crea/CE destacou que, no caso dos edifícios São Pedro e Esplanada, os danos são mais visíveis. “Com a ação do vento, trazendo o sal do mar, gera enorme oxidação. Com o tempo, ataca a ferragem estrutural e fica só o concreto”, avaliou. O futuro do prédio privilegiadamente localizado em plena Beira Mar ainda é incerto. Por enquanto, no meio das colunas “comidas”, um antigo extintor de incêndio lembra que já houve vida, vista para o mar e segurança.
NO CENTRO
“Quando cheguei de Quixadá, em 1960, vinha ao Centro ver os lugares mais bonitos. Na frente do hotel tinha várias lojas. Um tapete vermelho vinha de dentro até a calçada. Lá em cima, a gente via o restaurante. Tudo muito fino”, descreveu o Lord Hotel, a comerciante Raimunda Jardim Bezerra, 79. Hoje, ela vende bolo do lado de fora do tapume que demarca a área da obra feita no antigo edifício de nove andares.
“Quando cheguei de Quixadá, em 1960, vinha ao Centro ver os lugares mais bonitos. Na frente do hotel tinha várias lojas. Um tapete vermelho vinha de dentro até a calçada. Lá em cima, a gente via o restaurante. Tudo muito fino”, descreveu o Lord Hotel, a comerciante Raimunda Jardim Bezerra, 79. Hoje, ela vende bolo do lado de fora do tapume que demarca a área da obra feita no antigo edifício de nove andares.
O nome ainda é imponente em cima da estrutura do hotel, que fica no cruzamento das ruas 24 de Maio e Liberato Barroso. Desde 1992, quando deixou de receber hóspedes, o prédio vinha apresentando deteriorações. Em 2001, teve início o processo de desapropriação pelo Governo do Estado. A construção de uma das estações do Metrofor trouxe danos à estrutura. O prédio faz também parte da lista de imóveis tombados pela Prefeitura, desde 2006.
A história que dona Raimunda recorda não descreveu as famílias abandonando o lar desapropriado ou a poeira do progresso que já fez parte do dia-a-dia de quem morava no Lord Hotel. Um ano após as obras de reforço no edifício, é possível ver retoques de cimento nas fachadas de algumas varandas. Por dentro, dezenas de vigas de ferro sustentam, provisoriamente, paredes, chão e teto. O fim das obras está prevista para ainda este ano.

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