Elas podem ajudar a decidir quem vai mandar

Voto feminino polariza reta final da campanha eleitoral americana
El País Eva Saiz

No papel, a economia iria polarizar a corrida para a Casa Branca, mas a luta para garantir o apoio do eleitorado feminino ganhou especial relevância na reta final da campanha eleitoral. As declarações do candidato republicano ao Senado por Indiana Richard Mourdock, que afirmou que a gravidez depois de um estupro ocorrem "porque Deus quer", e a infeliz referência de Mitt Romney aos "montes de mulheres" no segundo debate presidencial ofereceram à campanha de Barack Obama nova munição em seu esforço para manter a confiança das eleitoras, dando-lhe a oportunidade de apresentar o candidato republicano como um perigo para os direitos e a saúde reprodutiva das mulheres.

Foto 1 de 200 - 1º.nov.2012 - Símbolos dos partidos republicano (elefante) e democrata (jumento) são esculpidos em abóboras na noite de Halloween em Santa Mônica, na Califórnia (EUA) Lucy Nicholson/Reuters
"O voto feminino é transcendental, sobretudo nos Estados chaves", indica Robyn Shepherd, representante legal da União Americana de Liberdades Civis. "Em geral, trata-se de um eleitorado tradicionalmente democrata, mas o nicho de mulheres brancas trabalhadoras e sem estudos universitários é cada vez maior, e essas eleitoras são mais inclinadas a apoiar as políticas republicanas. Em 2008, Obama perdeu esse núcleo, primeiro a favor de Hillary Clinton nas primárias e depois a favor de John McCain", explica Shepherd.
As mulheres representam mais de 50% do eleitorado e são mais fiéis às urnas que os homens. Segundo um estudo do Centro para Mulheres Americanas e Política, o voto feminino foi determinante na vitória de Obama há quatro anos, quando se decantou pelo atual presidente por uma margem de 13 pontos em relação a McCain, graças à mobilização das hispânicas e afro-americanas, segundo Shepherd.
É a esse grupo de eleitoras indecisas que as duas campanhas estão apelando. Um estudo recente da Universidade Quinnipac evidencia que a principal preocupação das mulheres se concentra no desemprego ou na política externa. Entre a equipe do presidente cresceu a incerteza sobre o comportamento de um eleitorado cujo apoio era dado como garantido há um mês. A popularidade de Obama entre as mulheres, onde ele superava Romney por mais de dois dígitos, se reduziu a 1 ponto nas últimas pesquisas, mas a única que lhe concede vantagem - a última publicada por "The Washington Post" e a rede ABC - o situa 15 pontos acima.
Em sua luta para conquistar o voto feminino, Obama insiste em apresentar os direitos da mulher como um assunto eminentemente econômico, sem descuidar da vertente social. "Não deixem que os políticos decidam sobre seus direitos", ele repete em cada comício. Sua campanha e outras organizações democratas lançaram anúncios eleitorais nos quais, segundo dados da Kantar Media / CMAG, a palavra "aborto" é citada em mais de 30 mil ocasiões, em muitos casos para evidenciar a mudança de opinião do candidato republicano nesta matéria.
A equipe do ex-governador de Massachusetts, por sua vez, tentou evitar o assunto, insistindo que o que mais interessa às eleitoras é a economia. Um estudo da Fundação Kaiser Family indica, entretanto, que o acesso à saúde pública é uma prioridade para as mulheres, e uma pesquisa recente da CNN estabelecia que para 39% das eleitoras o aborto é o assunto mais importante. "As mulheres que não decidiram seu voto costumam optar por candidatos moderados em questões sociais, e Romney está modulando a mensagem conservadora que adotou durante as primárias republicanas", lembra Debbie Walsh, do Centro para Mulheres Americanas e Política. Nas últimas semanas, Obama deu ênfase especial a lembrar suas conquistas em matéria de direitos da mulher durante seu governo - parte da reforma da saúde que obriga a subvencionar os testes exploratórios da mulher ou o acesso aos métodos anticoncepcionais, a lei de equiparação salarial - e a apresentar o candidato republicano como um risco para esses benefícios.

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