Quase 13 mil leitos foram desativados na rede pública de saúde desde
janeiro de 2010. Naquele mês, o Sistema Único de Saúde (SUS) contava com
361 mil leitos, número que, em julho deste ano, caiu para 348.303. As
informações foram apuradas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) junto
ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério
da Saúde. O período escolhido levou em conta informação do próprio
governo de que os números anteriores a 2010 poderiam não estar
atualizados.
Para o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Ávila, os dados revelam, de
forma contraditória, o favorecimento da esfera privada em detrimento da
pública na prestação da assistência à saúde. “Estes números são apenas
uns dos desdobramentos do subfinanciamento público no Brasil, principal
responsável pelas dificuldades do SUS. Convocar mais médicos e oferecer
menos leitos me parece uma contradição. Isso é jogar sob a
responsabilidade dos médicos esse cenário de abandono do sistema público
de saúde”.
As especialidades mais atingidas com o corte foram a psiquiatria (-7.449
leitos), pediatria (-5.992), obstetrícia (-3.431) e cirurgia geral
(-340). Em números absolutos, os estados das regiões Sudeste e Nordeste
foram os que mais sofreram redução no período. Só no Rio de Janeiro, por
exemplo, 4.621 leitos foram desativados desde 2010. Na sequência,
aparece Minas Gerais (-1.443 leitos) e São Paulo (-1.315). No Nordeste,
foi no Maranhão o maior corte (-1.181). Entre as capitais, foram os
fluminenses os que mais perderam leitos na rede pública (-1.113),
seguidos pelos fortalezenses (-467) e curitibanos (-325).
Na outra ponta, apenas nove estados apresentaram números positivos no
cálculo final de leitos ativados e desativados nos últimos dois anos e
meio: Rondônia (629), Rio Grande do Sul (351), Espírito Santo (239),
Santa Catarina (205), Mato Grosso (146), Distrito Federal (123), Amapá
(93), Roraima (24) e Tocantins (9). Nas capitais, 14 delas conseguiram
elevar a taxa de leitos, o que sugere que o grande impacto de queda
recaiu sobre as demais cidades metropolitanas ou do interior dos
estados.
Menos 26 mil leitos no SUS desde 2005 – No ano passado, o CFM fez um
levantamento semelhante nos recursos físicos disponíveis no SUS e
identificou que 42 mil leitos haviam sido desativados entre outubro de
2005 e junho de 2012. Após a denúncia, o Ministério da Saúde justificou
que a queda de leitos representa uma tendência mundial devido aos
avanços em equipamentos e medicamentos que possibilitam o tratamento sem
necessidade de internação do paciente. Em seguida, no entanto, chegou a
tirar o banco de dados do ar (disponível em
http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0204&id=11663),
alegando que o sistema passava por atualização.
Meses depois a consulta aos recursos físicos foi restaurada. Com a
“atualização” da queda, a base CNES revelou uma queda menor: 26.404
leitos desativados entre outubro de 2005 e julho de 2013. A partir dos
novos números, é possível observar que a quantidade de leitos
desativados nos últimos três anos e meio (2010 a julho de 2013)
representa 48% do total de leitos fechados nos últimos oito anos.
Segundo nota explicativa do Ministério da Saúde, as informações
relativas aos leitos complementares (Unidades de Terapia Intensiva e
Unidades Intermediárias), “compreendidas entre agosto/2005 a junho/2007,
estavam publicadas de forma equivocada, contabilizando em duplicidade
os quantitativos desses tipos de leitos”. A partir de outubro de 2012,
no entanto, foram corrigidas as duplicidades identificadas nos totais
dos leitos complementares.
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