Tragédia
Nesse pequeno espaço, além de pedir permissão ao leitor, não temos a
petulância de escrever um texto rico em detalhes e suspense, como os
contos inesquecíveis (A vida como ela é...) do escritor mordaz e
dramaturgo brilhante Nelson Rodrigues. Todavia, tentaremos, de forma
resumida, relatar o atrevimento do amanuense Zé da Bica em encontrar
soluções para assuntos inerentes à instituição pública onde trabalhava.
Zé da Bica era como os colegas, amigos e conhecidos chamavam José
Atealpa Pinto Neto. Não possuía muitos estudos, mas por ser solícito,
ambicioso e arrojado, bem como amigo do chefe corrupto, sempre se
esforçava para atender às solicitações, na maioria das vezes aéticas.
Tirava proveito e não media as consequências dos atos praticados.
Encerrava qualquer conversa negociando uma comissão financeira (propina)
pelos seus préstimos. O número de clientes do desonesto aumentava dia
após dia, prejudicando a receita e o desempenho da empresa pública. Tal
mecanismo ilegal já vinha ocorrendo há alguns anos e Zé não escondia o
seu poder em razão dos malfeitos, assim como fazia questão de demonstrar
sinais exteriores de riqueza e ameaçava pessoas que procuravam
abrir-lhe os olhos. Até que um dia a Justiça foi ao seu encontro.
Contratou os melhores defensores, mas de nada adiantou. Os crimes foram
muitos e graves. A justiça prevaleceu (20 anos em regime fechado) e ao
sair da sala de audiências, após decisão condenatória do Juiz,
acompanhado por um policial, tomou-lhe a arma e detonou um tiro em sua
boca. Eis a tragédia de um bandido do colarinho branco. Infelizmente, a
vida é assim.
Gonzaga Mota
Professor e escritor. Ex-Governador do Ceará e meu amigo.
Professor e escritor. Ex-Governador do Ceará e meu amigo.
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