Opinião
Quando ainda se fazia política no país, antes do vale tudo
em que se transformou a luta pelo poder nesta Nação, havia um velho homem
público mineiro que, no rastro de Salomão, gostava de dizer que a política é
como as estações do ano.
Há o tempo de semear e o tempo de ceifar.
O tempo de colher e o tempo de moer.
O tempo de misturar e bater a massa.
E o de acender o forno para assar e comer o pão.
O bom da democracia, é que, a não ser que ocorram tragédias
de grandes proporções, ela, como o clima, oferece um calendário próprio, que pode servir de parâmetro, para os mais
argutos e prudentes, no estabelecimento de um necessário e cada vez mais
desprezado – como meio - plano de rota, que possa levar ao objetivo que se pretende
alcançar.
O aumento da temperatura,
ou efeito estufa, na cena política, que pode acabar prejudicando tanto a gregos
como troianos, ocorre quando o papel dos partidos – espera-se que cada um tenha
sua própria visão e seu próprio projeto para o país – é substituído por uma
briga de foice em que um monte de cidadãos, individualmente, acredita que pode alcançar
a Presidência da República, não interessando o momento ou o meio que vai utilizar
para chegar lá.
Há impeachments e impeachments.
Na época do impedimento do Presidente Fernando Collor, havia
um vice-presidente conciliador, em torno do qual se reuniu uma ampla aliança
nacional, que era tão correto que se recusou a forjar uma alteração na
constituição que lhe permitisse manter-se no poder por mais um mandato, e cujo
maior erro - como depois admitiria mais tarde - foi escolher como sucessor um indivíduo
que usurparia a maior conquista de seu governo, o Plano Real, e que, no lugar
de cumprir o compromisso que tinha com ele de apoiá-lo para o pleito seguinte, tanto
fez para não largar a rapadura que chegou até mesmo a ser acusado de comprar
votos no Congresso para aprovar a lei que permitiu sua reeleição.
Hoje, em caso do impedimento da Presidente Dilma, não há,
como havia à época de Itamar Franco, o mesmo consenso em torno da figura do
Vice-Presidente Michel Temer.
O maior partido de oposição – teoricamente o mais
interessado na saída de Dilma – apresentou, no TSE, pedido de cassação da chapa
Dilma-Temer, vitoriosa nas eleições de um ano atrás, propondo a anulação do resultado
e requerendo que se lhe entregue o poder, como coligação mais votada.
Os tucanos querem a saída de Dilma, mas cada um em seu tempo
e a seu modo.
Se pudessem, prefeririam evitar a substituição da presidente
por um vice que tem tudo para articular rapidamente a simpatia e as boas graças
do “mercado”.
Que depois poderia ser apresentado, contando com a estrutura
de um dos maiores partidos do país, como um fortíssimo candidato nas eleições
de 2018.
Para Alckmin, e para José Serra, que estão de olho no
Planalto, isso não seria bom.
Alguns jornais informam que Serra pretende ser o Ministro da
Fazenda de Temer, e seu candidato a Presidente, pelo PMDB.
Mas aquele que já foi por duas vezes candidato pelo PSDB, como
diria Garrincha, ainda não “combinou com os russos”, e muita água tende a rolar
debaixo das pontes do Tietê antes que isso venha a ocorrer.
Serra teria que vencer a resistência da ala mais
nacionalista do partido, de construir
algum tipo de liderança nele, sobrepondo-se a possíveis rivais, além de contar
com a recusa de Michel Temer de continuar
ocupando um lugar no qual já estará há algum tempo, com todas as prerrogativas que
lhe reserva o cargo mais importante da República.
Temer na Presidência, aliado a Serra, não seria desejável
para Aécio Neves, que está na frente nas pesquisas de intenção de voto, entre
os eventuais pré-candidatos.
E, muito menos, ainda, para eventuais concorrentes
“independentes” que aparentemente correm “por fora”, mas que têm um enorme
apelo para o voto conservador e de extrema-direita nascido da campanha
anti-petista dos últimos anos.
Entre eles, pode-se nomear - por enquanto - Jair Bolsonaro e
o próprio Juiz Sérgio Moro, que dividem os apelos “Bolsomito 2018”, e “Moro
Presidente”, no espaço de comentários dos grandes portais nacionais, de onde a
militância do PT desapareceu.
Para muitas lideranças anti-petistas, ou com aspirações a
sentar na principal cadeira do Palácio do Planalto, ideal seria que o governo
Dilma “sangrasse”, atacado pela mídia conservadora nacional e estrangeira,
pelos internautas fascistas, pela sabotagem econômica e no contexto judicial,
pelos entreguistas e privatistas, e pelos oportunistas de todo tipo, até o
último dia de seu mandato.
Assim, eles teriam tempo para o fortalecimento de seus
respectivos cacifes com vista a 2018, disputando entre si a preferência dos neoliberais,
dos neo-anticomunistas, dos anti-petistas, dos anti-“bolivarianos”, dos anti-estatistas,
dos anti-desenvolvimentistas e dos anti-nacionalistas de plantão.
Um público cada vez mais radical, manipulado e desinformado
que tem tudo para crescer como fungo, já que não existe nenhuma oposição ou reação
estratégica, judicial, ou na área de comunicação minimamente detectáveis, por
parte da esquerda – reunida quase que exclusivamente em seus próprios blogs, grupos
e páginas de redes sociais - ou do Partido dos Trabalhadores em portais de
maior audiência, como o UOL, o IG, o Terra, o MSN e o G1.
O grande problema do PT no Brasil é a internet, onde perdeu,
sem esboçar qualquer reação coordenada – a batalha da comunicação.
O grande drama da oposição no Brasil é o que fazer com o impeachment.
Se Dilma sair do Palácio do Planalto agora, ficará difícil
manter, contra Temer, a mesma campanha uníssona que existe, hoje, na imprensa e
nos maiores portais da internet – por parte dos internautas de direita - contra
o PT.
Os ataques sofridos pela Presidência da República agora, tenderiam
a diminuir, e a enfraquecer em seu ódio e veneno, já que não daria, simplesmente,
para transferir para esse novo Presidente da República, o papel de Geni encarnado
pelo PT.
Da mesma forma, com Dilma fora do Planalto, será praticamente
impossível manter a unidade das forças anti-petistas, que tendem a se lançar em
uma guerra fratricida pelo Palácio do Planalto, que Michel Temer, do alto da
cadeira presidencial, em caso do enfraquecimento de Lula, e de fragmentação da
oposição, teria grande chance de vencer em 2018.
Mauro Santayana é jornalista e meu amigo.
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