A THE ECONOMIST E O UMBIGO INGLÊS.
Mauro Santayana
Como os abutres, que, nas planícies da África, avançam sobre
a carniça quando as hienas se distraem, tem gente festejando a matéria sobre o Brasil
da The Economist, desta semana,
mostrando uma Dilma Roussef cabisbaixa na capa.
Como faz com qualquer país que não reze segundo a cartilha
neoliberal anglo-saxã, do tipo “faça o que eu digo, não o que eu faço”, The
Economist alerta que o Brasil enfrenta um “desastre político e econômico”, cita
o rebaixamento do país pela Fitch e pela Standard and Poors – mas não diz que
essas agências foram incapazes de prever a crise que se abateu sobre os EUA e a
Europa – Inglaterra incluída - em 2008, a ponto de terem sido multadas por
incompetência e por enganar investidores – e conclui criticando o déficit
previsto para nosso país em 2014, sem citar – aliás, como faz a imprensa conservadora
tupiniquim - as reservas internacionais
brasileiras, de 370 bilhões de dólares, o equivalente a 1 trilhão, 480 bilhões
de reais.
A imprensa britânica sempre se especializou em “ditar” – a palavra
ideal seria outra – regras para países que considera subdesenvolvidos ou “emergentes”.
O seu “foco” no Brasil como alvo aumentou muito, no entanto, depois
do episódio em que ultrapassamos, momentaneamente, a Grã Bretanha como sexta maior economia do
mundo em 2011.
Vide, por exemplo, o caso do Financial Times, recentemente
vendido – sob risco de quebra - para capitais japoneses no dia em que publicou
um editorial contra o Brasil (ler Os nossos Yes Bwana e os novos Hai Bwana do Financial Times).
Mas, na hora de falar sobre o Brasil, os jornalistas ingleses
agem como se vivessem em outro planeta ou a Inglaterra, economicamente,
estivesse acima do bem e do mal.
Em vez de conversar fiado, os redatores da The Economist deveriam olhar para o seu próprio umbigo inglês.
Se a questão é de deterioração dos fundamentos macro-econômicos, a dívida pública bruta do Reino Unido - The Economist cita a dívida pública bruta brasileira, mas esquece,
convenientemente, a líquida, que é de aproximadamente 35% do PIB – é tão bem
administrada que mais que dobrou, de menos de 40% em 2002 para quase 90% do PIB em 2014.
Enquanto a brasileira diminuiu no mesmo período, de quase 80%
do PIB, para menos de 70% em 2014, como se pode ver pelo gráfico do Banco
Central.
Quanto às reservas internacionais – uma das principais referências
macro-econômicas para se verificar a solidez de uma economia - o Reino Unido também
não fica bem na foto, na comparação com o Brasil.
Com uma economia praticamente empatada, em tamanho, com a
nossa (nominalmente) as reservas de sua Majestade são de 154 bilhões de dólares,
menos da metade das reservas, em dólares, do país a que os seus editores resolveram
dedicar a sua primeira – e negativa - capa de 2016.
Mauro Santayana é jornalista e meu amigo.
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